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Feitiço pode virar contra o feiticeiro
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Bem que a Fiel gostaria de
ver seu time cavar o túmulo da
desclassificação do Palmeiras
com as próprias mãos, nem
que, para tanto, tivesse de sofrer humilhante goleada diante do Guarani.
Mas não dá. Ou melhor: o
risco é grande demais, pois o
feitiço poderia virar contra o
feiticeiro, já que o próprio Corinthians ainda precisa garantir a sua classificação.
Além do mais, o técnico Luxemburgo não está em condições de se permitir tais luxos.
Afinal, até agora, embora caminhe em direção às finais, esse Corinthians não atingiu o
ponto de equilíbrio mínimo
para compensar o altíssimo investimento feito na contratação do treinador.
Por fim, é de vitória em vitória que se cria o ânimo de um
verdadeiro campeão. Logo...
Colho das entrevistas em rádio e jornais a imagem de um
Felipão lamuriento, mais magoado do que indignado. Tudo, segundo ele, por culpa de
certa imprensa que se apraz
em distorcer suas declarações e
criticá-lo, pelo simples fato de
que ele é gaúcho, não paulista.
Essa imagem, à primeira vista, não combina com a figura
do chefe durão e pragmático,
para quem a arte do futebol se
resume na obtenção de resultados favoráveis, a qualquer
custo, que o currículo de Felipão nos sugere. Mas, se nos
distanciarmos um pouco, no
tempo e no espaço, veremos
que, ao contrário, essa é uma
reação típica de quem veste tal
figurino.
Assim, de repente, me vem à
mente a lembrança de dois de
seus ancestrais ilustres: Iustrich e Brandão. Ambos criaram fama de durões, atrabiliários até, mas, dependendo das
circunstâncias, derramavam-se em copiosas lágrimas
de pura autocomiseração.
Nem o mineiro Iustrich muito menos o gaúcho Brandão
(mais paulistão impossível) jamais atribuíram as críticas
que desabavam sobre eles a
qualquer tipo de regionalismo.
Mesmo porque esta metrópole, construída com o suor de
brasileiros vindos de todos os
recantos, além dos imigrantes
de tantas lonjuras e etnias,
nem tá aí pra isso.
O que Felipão ainda não se
deu conta é que ele não se encontra fora de lugar, mas de
época. Hoje, sobretudo após
sua maior conquista -a Copa-94-, o futebol de resultados é repudiado por todas as
pessoas de bom gosto. E, em
matéria de futebol, arrisco dizer que o brasileiro de qualquer rincão é um sujeito de
bom gosto.
Portanto, basta Felipão fazer
seu time jogar com eficiência e
bonito, a exemplo do Palmeiras da era Luxemburgo, e não
só São Paulo como o Brasil inteiro estarão a seus pés.
Só resultado, não dá. Ainda
mais quando eles não são obtidos, como é o caso desse Palmeiras que até agora não ganhou nada e está ameaçado de
cair fora do campeonato.
Querem um exemplo? Apontem-me uma única crítica dirigida ao trabalho de Leão, no
Santos. E o time, que não ganha nada há séculos, já está
fora. Ao contrário: o que se ouve é apenas um grande lamento pela eliminação prematura
de um time que joga bonito.
Como dizia o poeta, que me
perdoem as feias, mas a beleza
é fundamental.
Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas
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