São Paulo, quarta, 8 de abril de 1998

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Feitiço pode virar contra o feiticeiro

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas


Bem que a Fiel gostaria de ver seu time cavar o túmulo da desclassificação do Palmeiras com as próprias mãos, nem que, para tanto, tivesse de sofrer humilhante goleada diante do Guarani.
Mas não dá. Ou melhor: o risco é grande demais, pois o feitiço poderia virar contra o feiticeiro, já que o próprio Corinthians ainda precisa garantir a sua classificação.
Além do mais, o técnico Luxemburgo não está em condições de se permitir tais luxos. Afinal, até agora, embora caminhe em direção às finais, esse Corinthians não atingiu o ponto de equilíbrio mínimo para compensar o altíssimo investimento feito na contratação do treinador.
Por fim, é de vitória em vitória que se cria o ânimo de um verdadeiro campeão. Logo...

Colho das entrevistas em rádio e jornais a imagem de um Felipão lamuriento, mais magoado do que indignado. Tudo, segundo ele, por culpa de certa imprensa que se apraz em distorcer suas declarações e criticá-lo, pelo simples fato de que ele é gaúcho, não paulista.
Essa imagem, à primeira vista, não combina com a figura do chefe durão e pragmático, para quem a arte do futebol se resume na obtenção de resultados favoráveis, a qualquer custo, que o currículo de Felipão nos sugere. Mas, se nos distanciarmos um pouco, no tempo e no espaço, veremos que, ao contrário, essa é uma reação típica de quem veste tal figurino.
Assim, de repente, me vem à mente a lembrança de dois de seus ancestrais ilustres: Iustrich e Brandão. Ambos criaram fama de durões, atrabiliários até, mas, dependendo das circunstâncias, derramavam-se em copiosas lágrimas de pura autocomiseração.
Nem o mineiro Iustrich muito menos o gaúcho Brandão (mais paulistão impossível) jamais atribuíram as críticas que desabavam sobre eles a qualquer tipo de regionalismo.
Mesmo porque esta metrópole, construída com o suor de brasileiros vindos de todos os recantos, além dos imigrantes de tantas lonjuras e etnias, nem tá aí pra isso.
O que Felipão ainda não se deu conta é que ele não se encontra fora de lugar, mas de época. Hoje, sobretudo após sua maior conquista -a Copa-94-, o futebol de resultados é repudiado por todas as pessoas de bom gosto. E, em matéria de futebol, arrisco dizer que o brasileiro de qualquer rincão é um sujeito de bom gosto.
Portanto, basta Felipão fazer seu time jogar com eficiência e bonito, a exemplo do Palmeiras da era Luxemburgo, e não só São Paulo como o Brasil inteiro estarão a seus pés.
Só resultado, não dá. Ainda mais quando eles não são obtidos, como é o caso desse Palmeiras que até agora não ganhou nada e está ameaçado de cair fora do campeonato.

Querem um exemplo? Apontem-me uma única crítica dirigida ao trabalho de Leão, no Santos. E o time, que não ganha nada há séculos, já está fora. Ao contrário: o que se ouve é apenas um grande lamento pela eliminação prematura de um time que joga bonito.
Como dizia o poeta, que me perdoem as feias, mas a beleza é fundamental.


Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas



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