São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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MOTOR

Mais revoluções por minuto

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Aos fatos. Em 20 de abril, três dias antes de anunciar o pacotão para 2008, Max Mosley, junto com Bernie Ecclestone, foi a Maranello conversar com Luca Montezemolo. Três dias depois, revolução deflagrada em Imola.
F-1 dos velhos tempos, 2,4 litros, V8, sem freio de carbono, sem eletrônica, sem guerra de pneus, o diabo. Reação imediata, a GPWC rasgou o tal "memorando de entendimento", que inviabilizava a série paralela e prolongava o Pacto de Concórdia até 2014.
Na semana seguinte, no dia 27, Burkhard Goeschel, do conselho da BMW, disse que a marca deixaria a novíssima F-1 se ela não fosse "congruente" com os objetivos da empresa -para quem esqueceu, sócia de Ferrari, Ford, Mercedes e Renault na GPWC.
Na quinta-feira, dia 29, foi a vez de Montezemolo. "A única certeza é que no final de 2007 estaremos livres, sem vínculos com ninguém. Depois disso, todos poderão fazer o que bem entenderem." Deixar a F-1? "Sim, por que não?"
Passou o final de semana, e algo aconteceu. Tanto que, logo na segunda-feira, Mario Thiessen acenou com uma "solução técnica" para o encontro do dia seguinte. "Parte das propostas é interessante", afirmou o diretor da BMW.
O tom conciliador não apenas se confirmou na reunião de Mônaco como transformou o troço quase numa festa. Boa parte das propostas foi aceita, alguns prazos até foram antecipados, e os sorrisos brotaram confiantes. E mais ricos, já que Ecclestone animou o encontro com um pequeno mimo, US$ 180 milhões para os times esquecerem a série paralela.
Eles esqueceram, assim como deixaram para trás as ameaças da semana anterior. Mas algo aconteceu. Na F-1, as pessoas não mudam de opinião apenas por mudar, precisam de argumentos sólidos. Por incrível que pareça, US$ 180 milhões, divididos por dez times, não é sólido-só pelas rubricas no tal memorando, Ecclestone oferecera sete vezes isso.
Atrás de uma resposta, resolvo comparar a proposta de Mosley com o acordado pelos times. Itens mantidos, itens modificados, alguns em aberto... Epa! Um único foi acrescentado: não haverá outro Pacto de Concórdia, que acaba, como se sabe, em 2007.
O documento, para quem também já esqueceu, regula todo o aspecto comercial da F-1. Lá está escrito, por exemplo, que Ecclestone manda no pedaço e que ele cobra por isso. Segundo consta, módicos 70% do que a F-1 fatura. Recentemente, dizem, cedeu, e o agenciamento de luxo caiu. Para 60%.
Juntando A com B, minha interpretação dos fatos: Mosley e Ecclestone perceberam que a coisa ia para o buraco e decidiram se mexer; foram a Montezemolo para saber o que a mãe Ferrari achava, e ele deve ter dito que mudar regra tanto fazia, o que interessava era dar mais dinheiro aos times; Ecclestone com certeza fez bico, mas Mosley resolveu divulgar o pacote; as grandes ameaçaram sair, Mosley perguntou o que faremos, e elas responderam aprovamos o pacote, você posa de salvador, mas esse negócio da China passa a ter vários chineses. E o Bernie? Ele fatura até 2007, depois é com a gente. Ok?

Michelin
Ao contrário da rival Bridgestone, que afirmou aceitar um futuro monopolista, a fábrica francesa frisou que prefere a competição. Disse que apresentará proposta alternativa. É guerra quase perdida.

Villeneuve
A Williams está perto de assinar com um campeão a preço de banana. Villeneuve se ofereceu e está pessoalmente empenhado em garantir uma das vagas para 2005. Em Barcelona, dizem que o canadense liga quase todo dia para o escritório da escuderia na Inglaterra.

Toyota
E não é que a esforçada equipe japonesa caiu no conto do vigário? Ralf é tudo o que eles não precisam. Basta ver o exemplo da BAR.

E-mail mariante@uol.com.br


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