São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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FUTEBOL

A opção pelo purgatório

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar da classificação na Copa do Brasil, há muitos corintianos que já não esperam uma recuperação do time nesta temporada. Alguns chegam a dizer que a única solução para a crise alvinegra é a traumática, ou seja, rebaixamento para a Série B e posterior reerguimento.
O caso palmeirense é tomado como exemplo. Descontada a humilhação momentânea, a temporada na Segundona serviu para regenerar o Palmeiras e reforçar os laços do clube com sua torcida.
Nessa perspectiva de "salvação pelo rebaixamento" talvez esteja presente, de modo inconsciente, o mito católico do purgatório, de onde se sai liberado das culpas e erros do passado.
Mas há um porém nessa linha de raciocínio (ou de crença): e se o time cair e depois demorar a conseguir voltar? O purgatório pode se transformar num inferno. Os corintianos mais velhos têm na memória os terríveis anos da "longa fila" (1954-77) e não querem repetir a experiência.
Por sua vez, os otimistas, ou seja, aqueles que rejeitam o "quanto pior, melhor", esperam a volta de Kléber e Ricardinho, para recompor com Gil aquilo que Parreira chamou certa vez de "o melhor lado esquerdo do mundo".
No fundo, são duas formas opostas e complementares de pensamento religioso: a crença na salvação pela purgação dos pecados e a espera pela volta do Messias. Isso só confirma que, nos momentos de crise, a religiosidade aflora com mais força. Basta lembrar da bandeira com a imagem de Nossa Senhora que a massa alviverde passou a desfraldar nos jogos do Palmeiras na Série B.
Quem sabe a Gaviões pede essa bandeira emprestada para a Mancha?
 
Embora o Santos esteja tão mal quanto o Corinthians na classificação do Brasileiro, com o agravante de ter perdido o treinador que comandou o time nos últimos dois anos, a crise na Vila Belmiro, a meu ver, é muito mais branda e superficial que a corintiana.
O time caiu de produção do ano passado para cá, é verdade, mas seu elenco continua sendo um dos melhores do país. Com um bom treinador (Luxemburgo ou outro qualquer), o Santos pode voltar rapidamente aos eixos. No Corinthians, há muito mais coisas a serem consertadas.
 
Assim como o Santos, também o Cruzeiro e o São Paulo tropeçaram na Libertadores.
A situação santista é a mais crítica, pois terá que reverter uma desvantagem de dois gols no jogo de volta contra a LDU.
Já o São Paulo e o Cruzeiro tiveram tudo para sair com um resultado melhor de seus confrontos, mas vacilaram.
Enquanto os três "favoritos" passam por apuros, o São Caetano, que se classificou na repescagem, está numa posição invejável, depois de ter vencido de virada o América do México. Eis mais uma prova de que o papel de azarão sempre caiu muito bem ao Azulão.

Lei para alguns
Como mostrou a Soninha na sua coluna de anteontem, o tal do BID da CBF, utilizado como desculpa para punir clubes que pretensamente escalam jogadores irregulares, é uma palhaçada. Se fosse levado ao pé da letra, quase todos os clubes teriam que perder seus pontos. Em vista disso, a punição ao Coritiba, que foi parar na lanterna do Brasileiro após perder seis pontos dessa maneira, só pode ser vista como uma tremenda safadeza.

Coerência?
A convocação para os jogos contra França e Argentina não trouxe novidades. Pelo visto, Parreira vai insistir até a morte com Lúcio, Roque Júnior, Belletti e Júnior, mesmo que haja outros em melhor forma técnica. Paciência.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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