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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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O EXCLUÍDO

"Bala" pediu verba e deixou de treinar

DA REPORTAGEM LOCAL

Pela velocidade que conseguia imprimir no final das provas, Edvaldo Valério da Silva Filho foi escolhido para ser o último homem do revezamento 4 x 100 m livre na Olimpíada de Sydney.
Debutante nos Jogos, o nadador baiano não se assustou com a responsabilidade. Saltou do bloco de partida em quarto e caiu para sexto nos primeiros 50 metros. Quando todos pensavam que não havia mais chances, Valério justificou o apelido: superou três rivais e deu ao Brasil a primeira medalha no evento.
Com o bronze pendurado no peito, o nadador fez história. Valério ou "Bala" era o primeiro negro do país a chegar a um pódio olímpico na natação.
Voltou para Itapuã, na periferia de Salvador, onde ainda reside com a família, e foi recebido com festa. Desfilou em carro aberto, proferiu discursos e sonhou com um futuro promissor.
A bonança durou pouco.
"Logo após os Jogos, apareceram propostas de patrocínio. Só que acabei não nadando bem em algumas competições, e aí tudo acabou", contou Valério.
A gota d'água foi o Mundial de Fukuoka, em 2001. Valério não chegou às finais em provas individuais, e o revezamento 4 x 100 m livre foi desclassificado. A partir de então, os patrocínios começaram a se esvair. "Esqueceram que eu era um medalhista olímpico", lembrou o atleta.
Quando perdeu até o apoio dos Correios -parceiro oficial da natação brasileira-, Valério percebeu que precisava tomar uma atitude. Resolveu deixar os treinos de lado e começou uma via-crúcis pelas empresas em busca de novas parcerias.
"Deixei de fazer musculação, engordei e fiquei fora de forma. Não tinha incentivo para cair na água. Precisava de alguém que acreditasse em mim", disse.
A peregrinação durou de junho de 2002 a março deste ano, quando Valério, 25, arrumou outro patrocinador. Mesmo assim, teve pouco tempo para treinar para o Troféu Brasil, no início do mês, e acabou ficando fora do elenco que vai ao Pan-Americano de Santo Domingo. "Foi muito frustrante", confessou.
Valério guarda a medalha olímpica em uma gaveta de seu quarto. Olha para ela de vez em quando e relembra os dias em que virou a principal estrela da natação. Sabe que o objeto não trouxe boa ventura, mas nem vacila quando indagado sobre os próximos objetivos. "Quero outra e quero de ouro. Estarei em Atenas." (GUILHERME ROSEGUINI)


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