São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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NATAÇÃO

Julyana Kury, pega com estanozolol, diz que recebeu injeções e pílulas sem saber do conteúdo

Atleta acusa médico de prescrever doping

ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Julyana Kury, 20, que teve antidoping positivo para estanozolol, acusou ontem seu médico, Fábio Goussain Labat, de ter receitado substâncias proibidas a ela.
Em sua primeira entrevista desde que o caso foi revelado pela Folha, na última sexta-feira, a atleta contou que Labat prescreveu injeções durante dois meses -fevereiro e março-, sem dizer qual era o conteúdo das ampolas.
Durante o tratamento, a nadadora diz que recebia duas doses semanais. "Quando eu perguntava, ele falava que era só vitamina, que não teria problema. Tudo o que o médico receitava eu tomava", conta Julyana, que pode receber uma suspensão de dois anos.
A nadadora iniciou tratamento na clínica de Labat em novembro.
"Achei interessante, porque também era acompanhada por um nutricionista. Pensei que agora tudo iria dar certo", declarou.
Segundo a competidora, depois do tratamento com substância injetável, Labat receitou um outro esteróide anabólico, a oxandrolona. Julyana mandou a receita a uma farmácia de manipulação, que produziu o medicamento.
"Foi quando recebi um manual do COB [Comitê Olímpico Brasileiro], com a lista de substâncias proibidas. Vi que a oxandrolona não era permitida e parei de tomá-la", afirma a nadadora.
Como o estanozolol, a oxandrolona é um esteróide anabólico.
"É uma droga totalmente exógena. Não é produzida pelo corpo. Sempre que ela estiver presente na análise, mesmo em pequena quantidade, o caso é considerado positivo", diz Francisco Radler, diretor do Ladetec, laboratório do Rio credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional.
A interrupção do tratamento não acabou com resquícios de droga em seu corpo. No Troféu Brasil, em maio, ela passou por um exame, que constatou a presença de estanozolol na urina. Na competição, Julyana ganhou a medalha de prata nos 100 m livre.
O estanozolol, que apresenta propriedades similares à testosterona (hormônio masculino), melhora a síntese de proteínas e promove o aumento da massa muscular. "É um doping que é detectado desde o Pan de Caracas [em 1983]. Por isso, é pouco utilizado", afirma o toxicologista Marco Aurélio Dornelles, que participou do controle antidoping dos Jogos de Barcelona-92 e Atlanta-96.
Flagrada para a droga, Julyana está quase fora da Olimpíada. Ela integraria o revezamento 4 x 100 m livre caso o Brasil se classificasse para a prova. As quatro últimas vagas serão definidas pelo ranking da Federação Internacional de Natação, em julho.
"Chorei muito quando soube desse resultado. Isso me pegou totalmente de surpresa. Eu treinava sete horas por dia para conseguir essa vaga", diz a brasileira.
A defesa da atleta ainda pode pedir a realização da contraprova. Normalmente, o flagrado tem até três semanas para a requisitar a análise da amostra B. Só após esse teste é que o caso é oficializado e o competidor é suspenso preventivamente, até o julgamento final.


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