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NATAÇÃO
Julyana Kury, pega com estanozolol, diz que recebeu injeções e pílulas sem saber do conteúdo
Atleta acusa médico de prescrever doping
ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Julyana Kury, 20, que teve antidoping positivo para estanozolol,
acusou ontem seu médico, Fábio
Goussain Labat, de ter receitado
substâncias proibidas a ela.
Em sua primeira entrevista desde que o caso foi revelado pela Folha, na última sexta-feira, a atleta
contou que Labat prescreveu injeções durante dois meses -fevereiro e março-, sem dizer qual
era o conteúdo das ampolas.
Durante o tratamento, a nadadora diz que recebia duas doses
semanais. "Quando eu perguntava, ele falava que era só vitamina,
que não teria problema. Tudo o
que o médico receitava eu tomava", conta Julyana, que pode receber uma suspensão de dois anos.
A nadadora iniciou tratamento
na clínica de Labat em novembro.
"Achei interessante, porque
também era acompanhada por
um nutricionista. Pensei que agora tudo iria dar certo", declarou.
Segundo a competidora, depois
do tratamento com substância injetável, Labat receitou um outro
esteróide anabólico, a oxandrolona. Julyana mandou a receita a
uma farmácia de manipulação,
que produziu o medicamento.
"Foi quando recebi um manual
do COB [Comitê Olímpico Brasileiro], com a lista de substâncias
proibidas. Vi que a oxandrolona
não era permitida e parei de tomá-la", afirma a nadadora.
Como o estanozolol, a oxandrolona é um esteróide anabólico.
"É uma droga totalmente exógena. Não é produzida pelo corpo. Sempre que ela estiver presente na análise, mesmo em pequena quantidade, o caso é considerado positivo", diz Francisco
Radler, diretor do Ladetec, laboratório do Rio credenciado pelo
Comitê Olímpico Internacional.
A interrupção do tratamento
não acabou com resquícios de
droga em seu corpo. No Troféu
Brasil, em maio, ela passou por
um exame, que constatou a presença de estanozolol na urina. Na
competição, Julyana ganhou a
medalha de prata nos 100 m livre.
O estanozolol, que apresenta
propriedades similares à testosterona (hormônio masculino), melhora a síntese de proteínas e promove o aumento da massa muscular. "É um doping que é detectado desde o Pan de Caracas [em
1983]. Por isso, é pouco utilizado", afirma o toxicologista Marco
Aurélio Dornelles, que participou
do controle antidoping dos Jogos
de Barcelona-92 e Atlanta-96.
Flagrada para a droga, Julyana
está quase fora da Olimpíada. Ela
integraria o revezamento 4 x 100
m livre caso o Brasil se classificasse para a prova. As quatro últimas
vagas serão definidas pelo ranking da Federação Internacional
de Natação, em julho.
"Chorei muito quando soube
desse resultado. Isso me pegou
totalmente de surpresa. Eu treinava sete horas por dia para conseguir essa vaga", diz a brasileira.
A defesa da atleta ainda pode
pedir a realização da contraprova.
Normalmente, o flagrado tem até
três semanas para a requisitar a
análise da amostra B. Só após esse
teste é que o caso é oficializado e o
competidor é suspenso preventivamente, até o julgamento final.
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