São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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TOSTÃO

Efeitos globais

Tenho a impressão de que os europeus têm mais vontade de jogar nos clubes

A ÚNICA palavra que aprendi em alemão é fussball. Deve ser futebol. Em Königstein, nada mudou. Está quase tudo perfeito, pouquíssimos questionam a escalação, o time é a cada dia mais endeusado, os treinos são sempre os mesmos, a notícia principal é o pé de Ronaldo e o mico do patrocinador que fez a chuteira, e a CBF tentando sempre prejudicar o trabalho da Folha e favorecer a Rede Globo. Isso não diminui a competência e o esforço dos profissionais desse órgão de imprensa. Com a globalização, diminuiu no mundo o sentimento de nação. As relações se tornaram mais comerciais, fisiológicas, virtuais e sem fronteiras. A pátria é um negócio. Conquistar o mundo e romper as amarras de um bairro, uma cidade e um país são também uma antiga fantasia humana. Esse sentimento ocorre também no futebol e é mais freqüente nos países mais adiantados. Tenho a impressão de que os europeus possuem mais vontade de jogar por seus clubes, que lhes pagam altíssimos salários, do que pelas seleções. No Brasil, principalmente na Copa, há muito mais do que na Europa uma exacerbação do nacionalismo. Os jogadores são influenciados pelo entusiasmo e jogam com mais vontade e prazer. Quando os atletas se encontram, sentem-se como se voltassem para casa. Os que não estão bem nos clubes, como Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano, costumam renascer na seleção. A grande pressão no Brasil para ganhar o título costuma ser também um fator positivo. Os jogadores atuam melhor. Alguns só brilham intensamente quando são desafiados e pressionados. O Brasil é um país pobre, mais atrasado em tantas coisas em relação aos ricos. Ganhar uma Copa é uma compensação, quase uma vingança. Em uma Copa, o Brasil pára, e todos se sentem orgulhosos de fazerem parte da nação. Até os corruptos que roubam dinheiro público se enrolam na bandeira e choram de amor à pátria.


@ - tostao.folha@uol.com.br

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