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CLÓVIS ROSSI
Calipso x carrilhão
ALEMANHA x Costa
Rica, o jogo inaugural da Copa, será
apenas sexta-feira, mas,
na prática começou pouco
depois do meio-dia de
uma quarta-feira de sol
em Munique, temperado
por uma brisa fria.
O "Glockenspiel", o carrilhão da Marienplatz, a
praça central da cidade
-tão simbólicos, ele e ela,
de Munique como, digamos, a Torre Eiffel o é de
Paris-, havia acabado de
tocar a "Schläffertanz", a
dança originalmente executada em 1517, sempre na
Marienplatz, para festejar
o fim da praga da época.
Todos os dias, às 11h, às
12h e às 17h, o carrilhão toca, bonecos dançam em cima da Neue Rathaus, a
Nova Prefeitura (nova para o padrão alemão, já que
é de 1909), e o público solta "ohs" e "ahs" deliciados.
Difícil é saber para onde
olhar, se para os bonecos
que dançam, entre eles
dois cavaleiros em uma
justa vencida pelo do cavalo de roupa azul, ou para os
detalhes impressionantes
do edifício neogótico.
A música solene e secular termina, e Alejandro
Carriles estica um pano
colorido no chão, espalha
sobre ele CDs e folhetos de
sua banda, a AfroCaribe,
enquanto, atrás do pequeno conjunto de cinco músicos, outro componente
do grupo estende a faixa
"Costa Rica saluda Alemania", em espanhol de um
lado, em alemão do outro.
Distante séculos da
"Schläffertanz", o grupo
toca calipsos caribenhos.
O público acompanha divertido, mas sem a reverência de pouco antes.
Sem, também, o molejo
do Caribe, exibido apenas
pelo pequeno grupo de turistas costarriquenhos
que aproveita para viajar
pela Alemanha. O garoto
Ramón de la Cruz, 13, veste camisa vermelha, como
todos os demais, mas no
peito traz a simpática inscrição: "Ich bin tico".
"Ich bin" é "eu sou", em
alemão. "Tico" é a carinhosa designação de
quem nasce na Costa Rica.
Coincidência ou não, a frase lembra um momento
de emoção na história alemã. É a visita do então presidente norte-americano
John Kennedy a uma Berlim dividida pelo Muro,
durante a qual disse, para
identificar-se com a cidade: "Ich bin ein Berliner".
Os "ticos" não pretendem ser bávaros, mas têm
lá sua petulância. "Vamos
ganhar de 1 a 0. Será a primeira surpresa da Copa",
decreta Carriles, antes de
atacar um novo calipso.
@ - crossi@uol.com.br
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