São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Calipso x carrilhão

ALEMANHA x Costa Rica, o jogo inaugural da Copa, será apenas sexta-feira, mas, na prática começou pouco depois do meio-dia de uma quarta-feira de sol em Munique, temperado por uma brisa fria.
O "Glockenspiel", o carrilhão da Marienplatz, a praça central da cidade -tão simbólicos, ele e ela, de Munique como, digamos, a Torre Eiffel o é de Paris-, havia acabado de tocar a "Schläffertanz", a dança originalmente executada em 1517, sempre na Marienplatz, para festejar o fim da praga da época.
Todos os dias, às 11h, às 12h e às 17h, o carrilhão toca, bonecos dançam em cima da Neue Rathaus, a Nova Prefeitura (nova para o padrão alemão, já que é de 1909), e o público solta "ohs" e "ahs" deliciados. Difícil é saber para onde olhar, se para os bonecos que dançam, entre eles dois cavaleiros em uma justa vencida pelo do cavalo de roupa azul, ou para os detalhes impressionantes do edifício neogótico.
A música solene e secular termina, e Alejandro Carriles estica um pano colorido no chão, espalha sobre ele CDs e folhetos de sua banda, a AfroCaribe, enquanto, atrás do pequeno conjunto de cinco músicos, outro componente do grupo estende a faixa "Costa Rica saluda Alemania", em espanhol de um lado, em alemão do outro.
Distante séculos da "Schläffertanz", o grupo toca calipsos caribenhos.
O público acompanha divertido, mas sem a reverência de pouco antes. Sem, também, o molejo do Caribe, exibido apenas pelo pequeno grupo de turistas costarriquenhos que aproveita para viajar pela Alemanha. O garoto Ramón de la Cruz, 13, veste camisa vermelha, como todos os demais, mas no peito traz a simpática inscrição: "Ich bin tico". "Ich bin" é "eu sou", em alemão. "Tico" é a carinhosa designação de quem nasce na Costa Rica.
Coincidência ou não, a frase lembra um momento de emoção na história alemã. É a visita do então presidente norte-americano John Kennedy a uma Berlim dividida pelo Muro, durante a qual disse, para identificar-se com a cidade: "Ich bin ein Berliner". Os "ticos" não pretendem ser bávaros, mas têm lá sua petulância. "Vamos ganhar de 1 a 0. Será a primeira surpresa da Copa", decreta Carriles, antes de atacar um novo calipso.


@ - crossi@uol.com.br

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