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São Paulo, terça-feira, 08 de julho de 2003

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FUTEBOL

Justamente

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Ouve-se um tiro, os nadadores saltam, perfazem a distância que a prova estabelece e aquele que, ao fim, tiver batido a mão na borda da piscina em primeiro lugar ganha a disputa. Não há espaço para considerações sobre a "justiça" do resultado.
No futebol, duas equipes se enfrentam durante 90 minutos. Ou uma delas faz mais gols do que a outra ou elas empatam. No entanto as coisas aqui são menos simples, como sugere a clássica pergunta endereçada pelos locutores esportivos aos comentaristas: "Fulano, podemos dizer que o resultado foi justo?". O fato de essa indagação ser parte da rotina do futebol revela que os observadores do jogo -e não apenas aqueles que torcem para um dos times- consideram que o placar final poderia, em determinados casos, não traduzir o desempenho dos adversários.
Não estaria assegurada, portanto, uma coincidência perfeita entre performance e resultado. Quando essa imperfeição parece evidenciar-se, são frequentemente citados lances de "sorte" ou "azar", falhas de jogadores ou bons desempenhos inesperados, erros de arbitragem e outras situações que de alguma forma se relacionam com o acaso.
Há quem considere tudo isso uma bobagem. Não haveria "justiça" ou "injustiça" além do placar. O desfecho traduzido em gols seria sempre a conclusão objetivamente justa de uma partida. Quem fez mais gols foi melhor. Se ambos os fizeram em igual quantidade, foram iguais. Nessa perspectiva, a discussão sobre a "justiça" do marcador seria mais do que ociosa, improcedente.
Creio que os mais sensatos sabem ser inútil lutar contra um placar, mas ainda assim entendem que nem sempre ele é um resumo cristalino de uma partida -reconhecendo-se que situações fortuitas ou atípicas muitas vezes pesam mais do que deveriam em sua definição.
Na final da Taça Libertadores, houve quem considerasse -este colunista, inclusive- que a equipe do Santos foi castigada na primeira partida por um placar de 2 x 0. O castigo, no entanto, não chegou a ser visto por ninguém -salvo torcedores- como uma grande injustiça.
Quando veio o jogo no Morumbi, toda a dúvida dissipou-se. O Boca Juniors foi, de longe, o melhor. Ao final de 180 minutos, havia marcado cinco gols contra apenas um dos brasileiros. Venceu as duas partidas de forma indiscutível. Os argentinos simplesmente não deixaram o Santos jogar, concluir, fazer gols.
Encerrou-se, assim, com brilho, mas com um final decepcionante, a saga dessa jovem equipe na Libertadores. Não é provável que a base desse time perdure até uma próxima oportunidade, embora o Santos tenha todos os requisitos para conquistar novamente uma vaga e ter uma segunda chance.
Por ora, resta ao time o desafio de provar neste Campeonato Brasileiro que é a melhor equipe do Brasil -o que os meus amigos cruzeirenses já consideram ser mais um sonho de verão santista.
Veremos.

Apoio ao Caixa
A opção dos grandes clubes cariocas de apoiar uma nova gestão do sr. Eduardo Viana, o famoso Caixa D'Água, é mais um capítulo da triste história de decadência da gestão do futebol carioca, que vai tendo seu tradicional brilho apagado por dirigentes provincianos, ineptos, incapazes de olhar para a frente com a ousadia necessária. Há quem justifique o apoio ao sr. Caixa D'Água pelo o temor de que o veterano dirigente (já virtualmente eleito pelos "banguzinhos" do colégio eleitoral) possa perseguir seus oponentes. A desculpa é esfarrapada. Se, de fato, os dirigentes dos grandes do Rio pensam dessa forma, é triste. Deveriam estar dirigindo associações de peladeiros, e não clubes da tradição de Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo.

E-mail mag@folhasp.com.br


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