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FUTEBOL
Novos contratos de clubes com fornecedores reduzem cotas e fazem atletas pagar para poder presentear amigos
Camisa vira artigo de luxo para jogadores
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Presentear amigos com camisas
dos clubes em que jogam, trocá-las com colegas de outras equipes
ou vendê-las já não é tão simples
para os jogadores. Contratos que
rendem mais dinheiro aos clubes,
mas diminuem o número de uniformes fornecidos geraram restrições a esses hábitos.
Até o ano passado, a maioria
dos grandes clubes brasileiros
permitia seus atletas fazerem o
que quisessem com as duas camisetas recebidas por partida.
Hoje, na maioria desses times,
cada jogador pode se desfazer só
de uma. Se trocar duas, por exemplo, terá de pagar por uma delas.
Os corintianos estão entre os
que tiveram de enfrentar a mudança, desde que a Nike passou a
fornecer o material usado pelo
clube, no início de 2003.
Além de ficarem com só uma
camisa em cada apresentação,
eles perderam um kit que era dado mensalmente pela Topper, antigo patrocinador. Essa cota extra
era geralmente dada pelos jogadores a amigos e parentes ou colocada à venda na "caixinha dos
atletas", com o dinheiro sendo dividido entre eles depois.
"Agora se eles quiserem mais
camisas precisam fazer uma encomenda e pagar por elas", afirmou Edvar Simões, gerente de futebol do clube. Pelo menos, os
atletas corintianos pagam o preço
de fábrica pelo material.
"Antes, os times recebiam mais
camisas e ganhavam menos dinheiro. Agora, os clubes recebem
mais dinheiro e menos material.
Isso acontece até na Europa", disse Antonio Roque Citadini, vice
de futebol corintiano.
Segundo Simões, o fato de o Corinthians ter trocado de fornecedor recentemente também impede o clube de colocar mais camisas à disposição de seus jogadores
sem ter de cobrar por elas. "Tivemos de começar do zero, sem nada no estoque. No ano que vem,
deve sobrar alguma coisa. Se isso
acontecer, poderemos ser mais
flexíveis", disse o gerente.
No Santos, que renovou neste
ano o seu contrato com a Umbro,
os jogadores também só ficam
com uma camisa por jogo. "Mais
que isso, só em ocasiões especiais.
Se eles ganharem de 8 a 0 do Corinthians, por exemplo, damos
mais camisas de presente e até pagamos pizza para todos", disse
Francisco Lopes, diretor de futebol do clube da Vila Belmiro.
No São Paulo, as restrições feitas ao uso dos uniformes começou no ano passado, quando a
equipe ainda era patrocinada pela
Penalty. Houve uma falta de material que gerou um investigação
interna no clube.
Naquela ocasião, o time profissional chegou a ter de pegar camisas emprestadas do departamento amador para jogar.
Desde então, os jogadores foram orientados a devolver uma
das duas camisas que ficam à disposição em cada partida.
Em 2003, o São Paulo trocou a
Penalty pela Topper. Sem revelar
qual é a cota fornecida neste ano
pela fábrica, o supervisor do clube, Marco Aurélio Cunha, disse
que houve uma redução em relação à quantidade de camisas que a
equipe recebia em 2002.
"Os atletas já estão adaptados à
essa situação. Quem não devolver
uma das duas camisas sabe que
deve pagar por ela", disse Cunha.
Segundo o dirigente, Luis Fabiano e Kaká estão entre os são-paulinos que frequentemente gastam
dinheiro para presentear fãs e
amigos. "Eles recebem muitos pedidos, até de jogadores de outras
equipes, ficam constrangidos e
preferem pagar pelo uniforme a
dizer não", declarou.
Gilberto Alves, gerente de marketing da Topper ligado à área de
relacionamento com os clubes de
futebol, informou, por meio da
assessoria de imprensa da fábrica,
que fornece o mesmo número de
camisas a todos os clubes que a
empresa patrocina.
Segundo ele, o São Paulo, ao lado de Cruzeiro, Vitória e Inter,
gasta mais camisas. A marca também veste Goiás, Remo e Sport.
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