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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Novos contratos de clubes com fornecedores reduzem cotas e fazem atletas pagar para poder presentear amigos

Camisa vira artigo de luxo para jogadores

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Presentear amigos com camisas dos clubes em que jogam, trocá-las com colegas de outras equipes ou vendê-las já não é tão simples para os jogadores. Contratos que rendem mais dinheiro aos clubes, mas diminuem o número de uniformes fornecidos geraram restrições a esses hábitos.
Até o ano passado, a maioria dos grandes clubes brasileiros permitia seus atletas fazerem o que quisessem com as duas camisetas recebidas por partida.
Hoje, na maioria desses times, cada jogador pode se desfazer só de uma. Se trocar duas, por exemplo, terá de pagar por uma delas.
Os corintianos estão entre os que tiveram de enfrentar a mudança, desde que a Nike passou a fornecer o material usado pelo clube, no início de 2003.
Além de ficarem com só uma camisa em cada apresentação, eles perderam um kit que era dado mensalmente pela Topper, antigo patrocinador. Essa cota extra era geralmente dada pelos jogadores a amigos e parentes ou colocada à venda na "caixinha dos atletas", com o dinheiro sendo dividido entre eles depois.
"Agora se eles quiserem mais camisas precisam fazer uma encomenda e pagar por elas", afirmou Edvar Simões, gerente de futebol do clube. Pelo menos, os atletas corintianos pagam o preço de fábrica pelo material.
"Antes, os times recebiam mais camisas e ganhavam menos dinheiro. Agora, os clubes recebem mais dinheiro e menos material. Isso acontece até na Europa", disse Antonio Roque Citadini, vice de futebol corintiano.
Segundo Simões, o fato de o Corinthians ter trocado de fornecedor recentemente também impede o clube de colocar mais camisas à disposição de seus jogadores sem ter de cobrar por elas. "Tivemos de começar do zero, sem nada no estoque. No ano que vem, deve sobrar alguma coisa. Se isso acontecer, poderemos ser mais flexíveis", disse o gerente.
No Santos, que renovou neste ano o seu contrato com a Umbro, os jogadores também só ficam com uma camisa por jogo. "Mais que isso, só em ocasiões especiais. Se eles ganharem de 8 a 0 do Corinthians, por exemplo, damos mais camisas de presente e até pagamos pizza para todos", disse Francisco Lopes, diretor de futebol do clube da Vila Belmiro.
No São Paulo, as restrições feitas ao uso dos uniformes começou no ano passado, quando a equipe ainda era patrocinada pela Penalty. Houve uma falta de material que gerou um investigação interna no clube.
Naquela ocasião, o time profissional chegou a ter de pegar camisas emprestadas do departamento amador para jogar.
Desde então, os jogadores foram orientados a devolver uma das duas camisas que ficam à disposição em cada partida.
Em 2003, o São Paulo trocou a Penalty pela Topper. Sem revelar qual é a cota fornecida neste ano pela fábrica, o supervisor do clube, Marco Aurélio Cunha, disse que houve uma redução em relação à quantidade de camisas que a equipe recebia em 2002.
"Os atletas já estão adaptados à essa situação. Quem não devolver uma das duas camisas sabe que deve pagar por ela", disse Cunha.
Segundo o dirigente, Luis Fabiano e Kaká estão entre os são-paulinos que frequentemente gastam dinheiro para presentear fãs e amigos. "Eles recebem muitos pedidos, até de jogadores de outras equipes, ficam constrangidos e preferem pagar pelo uniforme a dizer não", declarou.
Gilberto Alves, gerente de marketing da Topper ligado à área de relacionamento com os clubes de futebol, informou, por meio da assessoria de imprensa da fábrica, que fornece o mesmo número de camisas a todos os clubes que a empresa patrocina.
Segundo ele, o São Paulo, ao lado de Cruzeiro, Vitória e Inter, gasta mais camisas. A marca também veste Goiás, Remo e Sport.


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