São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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ATENAS 2004

Pela primeira vez, os dois Estados têm menos de 50% da equipe

Polinizado, Brasil olímpico enfim rompe o eixo Rio-SP

DA REPORTAGEM LOCAL

E DOS ENVIADOS A ATENAS

Ele não recorda a cara da cidade onde nasceu e nem tem mais parentes no lugar. É um município chamado Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, a 473 quilômetros de Campo Grande, na beira do rio Paraguai e fazendo divisa com o país homônimo.
A cidade tem 13 mil habitantes -e nenhuma praia.
Mas é de lá que vem uma das esperanças brasileiras de medalha no vôlei de praia: Benjamin Insfran, 32, parceiro de Márcio.
Benjamin pretende voltar a Porto Murtinho após os Jogos ("De preferência, com uma medalha no peito"). Seria a coroação de uma das grandes novidades da delegação que representará o Brasil em Atenas-2004.
Uma enxurrada de atletas oriundos de pequenas cidades pôs fim à maioria paulista e fluminense na equipe nacional. É a primeira vez, nas edições em que o Comitê Olímpico Brasileiro fez esse tipo de registro (de 1948 a 2004), que os dois Estados juntos não são a origem de mais da metade dos olímpicos brasileiros.
Paulistas e fluminenses somam 121 representantes do total de 246. É 49% da delegação, o que representa a quebra de um marco e a consolidação de uma tendência: em Londres-1948, por exemplo, Rio de Janeiro e São Paulo tinham 83% dos esportistas.
Além de ser menos paulista e fluminense, a nata olímpica brasileira também se mostra em Atenas mais espalhada pelo país.
É a equipe mais diversificada da história: 22 Estados estarão representados nos Jogos. Isso equivale a 85% das unidades da federação. O percentual não está muito distante do grau de diversidade da maior potência esportiva do mundo, os EUA: 92% dos Estados americanos terão atletas em Atenas (46 do total de 50).
O Amapá aparece pela primeira vez no radar olímpico brasileiro, segundo os registros do COB. E deve isso às braçadas do nadador Jáder Souza.
Foi a televisão que aproximou dos Jogos o "Amazon Man" (apelido que lhe foi dado pelo técnico estoniano Rein Hajland, que trabalhou com a seleção brasileira). Em 1999, Jáder assistiu à vitória do revezamento 4 x 100 m nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg. Naquele dia resolveu dedicar esforço olímpico à natação.
À diversidade se soma o fato de que o Brasil olímpico tem, como nunca na história, origem nas pequenas cidades. São 35 os representantes de municípios com menos de 100 mil habitantes.
A comparação mostra o tamanho da disparidade. Somada, a população de todas essas cidades chega a 1,3 milhão, menos de 1% do total do Brasil. Mesmo assim, esses municípios forneceram 14% dos atletas nacionais na Grécia.
É gente como a goleira do futebol Andreia Suntaque e o armador do handebol Jaqson. Assim como outros cinco olímpicos, eles vieram de cidades com menos de 10.000 habitantes. Andreia é de Nova Cantu, no Paraná (9.499 habitantes), e Jaqson nasceu em Descanso, Santa Catarina (8.665).
Ambos, aliás, encontraram o esporte de alto rendimento no mesmo clube da mesma cidade, o Inter de Porto Alegre. Jaqson até fez testes como centroavante antes de migrar para o handebol. Andreia começou no futsal.

Capital de fora
A força das pequenas cidades é tamanha que, em alguns casos, elas conseguiram mandar representantes para competir em Atenas mesmo em Estados nos quais a capital passou em branco.
Isso ocorre no Mato Grosso do Sul de Benjamin e no vizinho do norte. Cuiabá não terá ninguém nos Jogos, mas a ciclista Janildes Fernandes, que nasceu em São Félix do Araguaia (9.352 habitantes), garantiu a presença de Mato Grosso na Olimpíada que começa nesta semana. (PAULO COBOS, GUILHERME ROSEGUINI E ROBERTO DIAS)

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