São Paulo, Domingo, 08 de Agosto de 1999
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Quem desmoraliza o Campeonato Brasileiro

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

O Santos chegou de um rápido, e desastroso, giro pela Europa e jogou ontem pelo Brasileiro. Se não pagou já ontem mesmo pela imprudência, pagará nas próximas rodadas, é inevitável.
O Santos chegou, e o Vasco partiu na mesma direção, no que será imediatamente imitado pelo Corinthians.
E nos prometeram que desta vez ninguém viajaria durante o torneio. A culpa, é claro, é dos clubes.
Mas, se a competição começou com a seleção brasileira no México, em prejuízo de muitos clubes nas primeiras rodadas, o que dizer sobre quem é o responsável principal pela desmoralização do Campeonato Brasileiro?
Que quem o organiza (?!), a CBF, é a primeira a tratá-lo como qualquer coisa.
A coluna recebeu na última sexta-feira, assinada pelo vice-presidente da Rádio e Televisão Bandeirantes, João Carlos Saad, a seguinte carta:
""Prezado senhor,
Na sua coluna publicada no dia 29 de julho, foram feitas avaliações sobre o mundo esportivo brasileiro. Nelas vemos a Bandeirantes citada em um cenário de composição de interesses que o senhor se encarrega de assegurar poder tratar-se de "pura imaginação".
Realidade ou imaginação consideramos importante, para o melhor entendimento da opinião pública, fazer chegar ao seu conhecimento dados concretos, em nome da "transparência dos negócios esportivos" que o senhor, com justiça, reclama, sem, contudo, dar-se ao trabalho da elementar indagação que precede qualquer publicação. Assim sendo, eis os fatos:
A Bandeirantes tem um contrato de co-produção com a Traffic na área de esportes; nesse contrato estão estabelecidos direitos e deveres de cada parte;
A linha editorial da Bandeirantes nunca serviu e nunca servirá a objetivos que não sejam o de bem informar o público;
Não existe nenhum acordo de participação acionária entre as duas empresas envolvidas.
Qualquer outra informação, por mais imaginosa que seja, é fruto da criatividade ou falta de informação."
Educada, e compreensivelmente dura, a carta de Saad merece os seguintes comentários:
1) É verdade que no artigo (não coluna, o que é secundário) foi descrito um quadro puramente imaginário -com menção explícita de que não correspondia, necessariamente, à realidade;
2) Não é menos verdade, no entanto, que quando o jabuti está em cima da árvore é lícito supor que alguém o tenha posto lá;
3) O artigo manifestou a legítima preocupação com a monopolização do futebol, seja por intermédio do grupo HMTF, via Traffic, seja pelo grupo ISL, via Pelé Sport & Marketing;
4) Em nenhum momento cogitou-se de que a Traffic tenha participação societária na Bandeirantes, embora pareça óbvio que a linha editorial do Departamento de Esporte passe a ser dada pela Traffic -e a absoluta ausência de um olhar crítico em relação, por exemplo, à CBF, outra parceira da Traffic, é prova disso;
5) A constatação anterior não significa que a mesma linha se estenda ao Departamento de Jornalismo da Band -aliás, recente anúncio de que o jornalista Armando Nogueira (que preferiu não ficar sob o comando da Traffic) passará a participar dos jornais da casa é tranquilizador.
O novo zagueiro corintiano, Luciano, no Grêmio, jogava muito mais que João Carlos.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras

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