São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Não basta decorar a lição

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Após a conquista do Mundial de 94, quase todas as equipes brasileiras passaram a jogar no esquema da seleção, com uma linha de quatro defensores, dois volantes, um armador de cada lado e dois atacantes.
A função do volante era desarmar e fazer a cobertura de zagueiros e laterais. Raramente ultrapassava a linha de meio-campo. No máximo, dava um passe de cinco metros. Depois, surgiu uma anomalia, os brucutus, volantes só fazedores de faltas, bastante valorizados pelos técnicos.
Mauro Silva e Dunga, volantes da seleção de 94, não tinham nada a ver com essa mediocridade. Eram excelentes volantes. Mauro Silva continua eficiente. Os brucutus, ainda há muitos, estão fora de moda. No Mundial, o volante Gilberto Silva foi um dos destaques, com a sua elegância e toques precisos e preciosos.
Após o Mundial de 94, Zagallo assumiu a seleção e introduziu o número 1, jogador de ligação entre o meio-campo e ataque. Outros treinadores fizeram o mesmo. Os times ficaram mais ofensivos, porém tortos, com dois volantes e um terceiro armador, geralmente canhoto, pela esquerda. Sumiram os meias-direitas.
Para equilibrar o time, alguns treinadores, como Wanderley Luxemburgo, formaram um losango no meio-campo: apenas um volante, um armador de cada lado com funções defensivas e ofensivas e mais o jogador de ligação com os dois atacantes.
No Corinthians, dirigido pelo Parreira, o time, em vez de jogar com um armador próximo dos dois atacantes, passou a atuar com três atacantes, sendo dois pelos lados e um central. França e Argentina também jogaram assim na Copa. O Santos atua com os três atacantes e o Diego, grande promessa, vindo de trás.
No Mundial, Felipão colocou Rivaldo de um lado, Ronaldinho de outro e Ronaldo na frente. Os dois meias (Rivaldo e Ronaldinho) recuavam para receber a bola, armavam e avançavam pelo meio e pelos lados.
Na defesa, para ter um zagueiro na sobra, alguns técnicos trocaram um armador por um terceiro defensor. Uns, preferem os três em linha, variando o que fica na cobertura. Outros, como Geninho, colocam dois zagueiros para marcar individualmente os dois atacantes rivais e deixa o terceiro atrás, fixo, na sobra.
Na Copa, Felipão utilizou uma variação. Numa mesma partida, Edmilson jogava de zagueiro e de volante, dependendo do posicionamento dos atacantes. Em 94, Parreira também fez isso com Mauro Silva em alguns jogos.
Todos esses desenhos táticos estão sendo ou podem ser utilizados pelos técnicos no Brasileiro.
Nenhum está ultrapassado. Todos têm vantagens e desvantagens. Cada técnico tem a sua preferência. Há ainda os treinadores, como Mário Sérgio, que mudam o esquema tático a cada partida, de acordo com o adversário. Melhor ainda. Não se pode é fazer como muitos treinadores europeus, que trocam o craque pelo medíocre, por causa da tática do outro time.
Num jogo ocorrem muitos detalhes, táticos e individuais, previsíveis ou não, mais importantes e decisivos do que o esquema programado. Aí, sobressai a criatividade do técnico. E quem só decorou a lição fica para trás.

O Romário da Copa
Para avaliar se uma equipe é mais ofensiva ou defensiva, mais importante que o esquema tático é o tipo de marcação. Um time que marca por pressão será bastante ofensivo mesmo com poucos atacantes fixos. Quando se toma a bola, os armadores e os defensores estão próximos do gol e tornam-se atacantes. "Quem ataca é atacante." (Armando Nogueira).
Pensei que veria no Mundial várias seleções utilizando a marcação por pressão, pelo menos em alguns momentos da partida.
Só a Argentina fez isso. A equipe pressionava, tomava a bola, dominava o jogo, mas não conseguia fazer gols.
Felipão treinou essa marcação, mas raramente aconteceu no jogo. O técnico queria que Ronaldo corresse atrás dos zagueiros, como fazia o Luizão. Felizmente, o Fenômeno guardou as energias para as jogadas individuais e decisivas. Ronaldo sabia que não tinha fôlego para fazer as duas coisas. Ele desarmou somente no momento certo, no primeiro gol contra a Alemanha. O jogador pressionou, tomou a bola do zagueiro, deu para o Rivaldo e foi pegar o rebote do goleiro.
Ronaldo atuou na Copa como se fosse o Romário (em forma), de centroavante, mais estático, esperando o instante mágico para brilhar, até com o bico da chuteira.

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