São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004

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TÊNIS

Essa maldita responsabilidade

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

É muito difícil conseguir ouvir Ricardo Mello. Tímido, sua voz sai sempre bastante baixa, quase inaudível. Sem grandes pretensões verbais, nem demagogia, Mello geralmente fala de seu jogo com muita simplicidade e bastante objetividade. Empolga-se quando atua muito bem e ganha; admite as suas falhas quando joga mal e perde.
Essa atitude escancara um atributo cada dia mais raro nos tenistas profissionais: a humildade. Mello sabe de suas limitações em quadra, mas confia em seu trabalho e acredita que, bem treinado e em um dia especial, pode ter chances contra os melhores.
Tudo começou lá atrás, com 6 anos de idade, em Araras, no interior paulista, onde morava. Com 10, na mudança da família para Campinas, o sonho de virar tenista profissional ganhou um pouco mais de corpo. Aos 15, em um challenger ali mesmo em Campinas, o primeiro ponto (em uma derrota na primeira rodada para Gustavo Kuerten).
Mello chegou a ser um dos melhores juvenis do mundo, mas na transição para o profissional viveu a famosa "patinada" que cerca tantos tenistas. Nem por isso desistiu. Por anos e anos, perambulou pela América do Sul disputando eventos da série future e buscando mundo afora uma vaga nos torneios challengers.
Canhoto, dono de um backhand com as duas mãos, Mellinho, como é chamado, ainda não desenvolveu, aos 23 anos, um golpe devastador. Seu saque não assusta os adversários, seu físico impõe certos limites, e seu histórico ainda não convenceu muita gente. Inteligente em quadra, sabe que precisa correr em todos os jogos, o jogo todo, para ter chance.
Nessa correria toda, Mello está, há meses, próximo de entrar para o famoso grupo dos cem primeiros do ranking mundial. Bobeou, desperdiçou algumas boas chances, no ano passado e neste, mas, agora, com as cinco vitórias (três no qualifying e duas na chave principal) no Aberto dos EUA, parece que finalmente chegou lá.
Mais do que romper a barreira simbólica dos top 100, a subida de Mello significa um pouco mais de visibilidade e facilidades para entrar nas chaves dos principais torneios do circuito. Significa também um pouco mais de confiança.
Por outro lado, o sucesso traz uma pressão inédita. Sobrará bem menos energia para os churrascos com amigos, muito menos tempo em Campinas para a família, quase nada de tempo para acompanhar o seu Palmeiras.
Décimo nono brasileiro a entrar no "clube dos 100", Mello tem a chance de escrever seu nome ao lado de um número. Um dos brasileiros já chegou a número um; quase metade não passou de 80.
Até onde Mello vai? Só ele pode responder. O "maldito tênis" agora virou responsabilidade de gente grande para o tenista. Que delícia, hein, Mellinho?
 
Gustavo Kuerten terá de passar por uma cirurgia? Todo mundo suspeita que sim. Vai ser neste ano? Não se sabe. A história é real? A assessoria afirma que não.
Parece que, mais uma vez, a verdade será a última a aparecer.

Jogos em São Paulo
Estão à venda ingressos para o torneio-exibição no ginásio do Ibirapuera. Custam de R$ 20 (arquibancada) a R$ 50 (cadeira inferior).

Futures pelo Sul
Marcos Daniel ganhou em Curitiba. Agora a série é em Porto Alegre.
Juvenis no Rio de Janeiro André Moreira, Laís Ogata (18 anos), Sérgio Fante, Aline Berkenbrock (16), Gustavo Kleine, Flávia Borges (14), Bruno Sant'Anna e Isabela Miró (12) ganharam a terceira etapa do Circuito Unimed.

Paraolímpicos em Atenas
Maurício Pommê e Carlos Jordan viajam amanhã. Boa sorte.

E-mail reandaku@uol.com.br


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