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TÊNIS
Essa maldita responsabilidade
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
É muito difícil conseguir ouvir Ricardo Mello. Tímido,
sua voz sai sempre bastante baixa, quase inaudível. Sem grandes
pretensões verbais, nem demagogia, Mello geralmente fala de seu
jogo com muita simplicidade e
bastante objetividade. Empolga-se quando atua muito bem e ganha; admite as suas falhas quando joga mal e perde.
Essa atitude escancara um atributo cada dia mais raro nos tenistas profissionais: a humildade.
Mello sabe de suas limitações em
quadra, mas confia em seu trabalho e acredita que, bem treinado e
em um dia especial, pode ter
chances contra os melhores.
Tudo começou lá atrás, com 6
anos de idade, em Araras, no interior paulista, onde morava.
Com 10, na mudança da família
para Campinas, o sonho de virar
tenista profissional ganhou um
pouco mais de corpo. Aos 15, em
um challenger ali mesmo em
Campinas, o primeiro ponto (em
uma derrota na primeira rodada
para Gustavo Kuerten).
Mello chegou a ser um dos melhores juvenis do mundo, mas na
transição para o profissional viveu a famosa "patinada" que cerca tantos tenistas. Nem por isso
desistiu. Por anos e anos, perambulou pela América do Sul disputando eventos da série future e
buscando mundo afora uma vaga
nos torneios challengers.
Canhoto, dono de um backhand com as duas mãos, Mellinho, como é chamado, ainda não
desenvolveu, aos 23 anos, um golpe devastador. Seu saque não assusta os adversários, seu físico impõe certos limites, e seu histórico
ainda não convenceu muita gente. Inteligente em quadra, sabe
que precisa correr em todos os jogos, o jogo todo, para ter chance.
Nessa correria toda, Mello está,
há meses, próximo de entrar para
o famoso grupo dos cem primeiros do ranking mundial. Bobeou,
desperdiçou algumas boas chances, no ano passado e neste, mas,
agora, com as cinco vitórias (três
no qualifying e duas na chave
principal) no Aberto dos EUA,
parece que finalmente chegou lá.
Mais do que romper a barreira
simbólica dos top 100, a subida de
Mello significa um pouco mais de
visibilidade e facilidades para entrar nas chaves dos principais torneios do circuito. Significa também um pouco mais de confiança.
Por outro lado, o sucesso traz
uma pressão inédita. Sobrará
bem menos energia para os churrascos com amigos, muito menos
tempo em Campinas para a família, quase nada de tempo para
acompanhar o seu Palmeiras.
Décimo nono brasileiro a entrar
no "clube dos 100", Mello tem a
chance de escrever seu nome ao
lado de um número. Um dos brasileiros já chegou a número um;
quase metade não passou de 80.
Até onde Mello vai? Só ele pode
responder. O "maldito tênis" agora virou responsabilidade de gente grande para o tenista. Que delícia, hein, Mellinho?
Gustavo Kuerten terá de passar
por uma cirurgia? Todo mundo
suspeita que sim. Vai ser neste
ano? Não se sabe. A história é
real? A assessoria afirma que não.
Parece que, mais uma vez, a
verdade será a última a aparecer.
Jogos em São Paulo
Estão à venda ingressos para o torneio-exibição no ginásio do Ibirapuera. Custam de R$ 20 (arquibancada) a R$ 50 (cadeira inferior).
Futures pelo Sul
Marcos Daniel ganhou em Curitiba. Agora a série é em Porto Alegre.
Juvenis no Rio de Janeiro
André Moreira, Laís Ogata (18 anos), Sérgio Fante, Aline Berkenbrock (16), Gustavo Kleine, Flávia Borges (14), Bruno Sant'Anna e
Isabela Miró (12) ganharam a terceira etapa do Circuito Unimed.
Paraolímpicos em Atenas
Maurício Pommê e Carlos Jordan viajam amanhã. Boa sorte.
E-mail reandaku@uol.com.br
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