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FUTEBOL
A leveza do Parreira
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
As partidas da seleção no
Brasil se transformaram em
festa para políticos, celebridades
que gostam ou não de futebol e
para torcedores da classe média e
rica. Os pobres não podem mais
assistir nos estádios aos jogos do
time brasileiro.
A fragilidade da Bolívia não
apaga o show que o Brasil deu em
alguns momentos. A Alemanha é
inferior, mas, em casa, será um
adversário difícil. Hoje vamos conhecer melhor a nova formação
com os dois Ronaldos e Adriano.
Se o Brasil e os três tiverem ótimas
atuações, Kaká poderá perder a
posição de titular.
Prefiro Kaká (ou Alex) e os dois
Ronaldos. Mais importante é saber que nenhuma seleção do
mundo tem tantos craques do
meio para a frente. Parreira poderá utilizar todos, com freqüência, de acordo com o momento.
Alguns acham que a seleção,
por ter três craques mais à frente e
dois laterais que apóiam bastante, precisa de três volantes. Concordo, desde que dois deles marquem e avancem como meias.
Após a entrada do Juninho, o time ficou mais ofensivo e criativo,
sem piorar a marcação.
Contra boas equipes, a presença
de três volantes muito preocupados com a defesa, dois centroavantes e apenas um meia para organizar as jogadas, a seleção poderá se tornar muito previsível e
lenta na saída de bola para o ataque. Gilberto Silva e Edu possuem
pouca mobilidade e habilidade
para saírem de uma marcação
mais forte.
Há também situações de jogo
em que é melhor trocar um volante por um terceiro atacante, pela
ponta. Será que foi isso que o Parreira pensou para o futuro, ao colocar o Robinho no ataque, pela
direita, no lugar do volante Edu?
Mas os melhores momentos do
Robinho no Santos são pela esquerda, entrando em diagonal
para o meio.
O fácil jogo contra a Bolívia seria uma ótima oportunidade para alguns jogadores, como Edu e
Beletti, brilharem individualmente e ganharem mais prestígio
e confiança. Não foi o que aconteceu. Ficou mais evidente que Cafu
e Zé Roberto fazem falta.
A escalação de novos jogadores
na Copa América, o título conquistado e a posição tranqüila
nas eliminatórias parecem ter dado a Parreira mais confiança e leveza para ousar e criar variações
táticas e individuais. Isso é ótimo.
Momentos diferentes
Na Olimpíada, ficou mais evidente a precária renovação do futebol europeu. Itália e Portugal tiveram más atuações e eram, teoricamente, as mais fortes seleções
olímpicas da Europa, já que foram as classificadas.
A França, sem Zidane e outros
que se despediram da seleção, jogou muito mal no empate por 0 a
0 contra Israel, pelas eliminatórias da Copa de 2006. Isso deixou
os torcedores franceses muito
preocupados. O mesmo acontece
no restante da Europa.
Enquanto isso, Brasil e Argentina não param de revelar excelentes jogadores. Quase todos os titulares olímpicos da Argentina
atuam na seleção principal. A seleção brasileira tem hoje a mesma
qualidade individual que tinha
nos seus melhores momentos. A
diferença é o Pelé.
Mas é preciso separar a seleção
brasileira, que brilha há vários
anos por causa de seus craques,
do futebol brasileiro, que há muito tempo vive maus momentos,
dentro e fora de campo. A CBF,
juntamente com a maioria das federações estaduais e dos dirigentes de clubes, pode ter sido eficiente para as seleções. Foi, porém,
ruim para o futebol brasileiro.
Críticas e críticos
Como no Brasil o mais comum é
endeusar nas vitórias até as coisas
ruins e achar tudo errado nas
derrotas, os cronistas que não
analisam apenas um momento, e
que percebem virtudes quando se
perde e deficiências quando se ganha, são vistos por muitos jogadores, técnicos, dirigentes e pela mídia festiva como mal-humorados,
pessimistas e ranzinzas.
Quando um atleta, que era corretamente criticado, faz uma ótima partida, alguns jornalistas
adoram dizer que o jogador "calou a boca dos críticos". Nada
mais bobo. Se esse atleta melhorou, ótimo. Vamos elogiá-lo, sem
fazer nenhuma análise definitiva
por apenas um ou poucos jogos.
Não é fácil ser comentarista, crítico, num país que tem a seleção
pentacampeã do mundo. Para a
turma do oba-oba, tudo é maravilhoso. Os analistas de países cujas seleções perdem muito mais
do que ganham devem ser muito
mais bem aceitos.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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