São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Romário versus Zico

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Ao contrário do pessoal de TV e rádio, os repórteres que trabalham em jornais e revistas não podem assistir no campo aos jogos no Maracanã. Perto do fim das partidas, para anotar as declarações a quente de técnicos e jogadores, eles correm da tribuna de imprensa até um túnel que leva ao gramado. Vencem uns poucos andares e muitos degraus. Em boa forma, gastam três ou quatro minutos.
Em setembro de 1993, corri da tribuna até um pontilhão improvisado, que só naquele dia ligou a geral ao campo. Quando disparava pelos corredores, ouvi a vibração abafada. Um guardinha de rádio no ouvido contou: "O Romário guardou mais um".
Foi assim que, mesmo no estádio, perdi a finta que confundiu o goleiro. O artilheiro saiu com a bola para a direita, liquidou o Uruguai por 2 a 0 e levou o Brasil à Copa. Romário era assim: tão rápido que o arqueiro Siboldi só deve ter entendido bem o que aconteceu do mesmo modo que eu depois veria o gol, pela televisão.
Como era veloz, como era ágil, como era técnico. Como era craque. O maior cracaço da grande área, na opinião de Cruijff. Como se colocava, cabeceava, arrancava. Como fazia gols.
No auge, chispava e, se a piscadela de olhos demorasse um tiquinho a mais, só o víamos na comemoração discreta, os dois braços erguidos. Não se perdiam os gols de Romário apenas pelos subterrâneos do Maracanã, mas em flashes de desatenção.
Em uma geração marcada pelo bom-mocismo, aprontava e repetia: "Quem tem que se preocupar com imagem boa é aparelho de TV". Às vezes exagerava. Como no desenho, encomendado por ele, em que Zagallo aparece sentado na privada com Zico a lhe estender o papel higiênico. Pequena vingança pelo corte da Copa da França-98.
É de Zico que me lembro quando, mesmo sem ter decidido pendurar as chuteiras, Romário anuncia uma despedida marota nos EUA e se diz o melhor brasileiro depois da geração de Pelé.
Engana-se. Zico foi quase igual, se é que não foi igual, na grande área. Fora, dava de goleada. Era mestre na cobrança de faltas, dom que Romário nunca teve.
O talento para a cabeçada não ficava atrás. Zico fez um pouquinho menos de gols, mas criou muitos, muitos mais. Quantos Nunes lhe deve? Além dos passes decisivos de sempre, fazia lançamentos que aprimorou até o fim da carreira, quando recuava e punha os companheiros diante do gol. Foi um gênio mais genial e completo.
Brilhou na Itália, fez florescer o futebol no Japão, marcou mais de 500 gols pelo Flamengo. Ah, sim... Romário foi campeão de Copa, Zico não foi. Coisas da vida.
Certa vez, ao ouvir do botafoguense João Saldanha um comentário sobre a falta de título mundial de Zico, o então jovem repórter Ricardo Gonzalez devolveu: "Ele foi campeão sim, e por quem devia ser: pelo Flamengo, em 1981". Dizem que o Saldanha fechou a cara.

Quinta-coluna
Com os mentecaptos que atiram objetos no gramado da Vila Belmiro, o Santos não pode reclamar de perseguição se perder mando de jogo, como o Botafogo acaba de perder.

Jogadas
Para quem o atual secretário de Esportes do Rio entregou sem licitação a exploração das placas de publicidade do Maracanã em 1999, antes de ser levado a voltar atrás? Para a Federação de Futebol do Estado, já então presidida por Eduardo Viana, agora denunciado pelo Ministério Público sob acusação de estelionato e formação de quadrilha na manipulação de rendas no Maracanã.

Na torcida
Força, Júlia! Força, Soninha!

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


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