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FUTEBOL
Romário versus Zico
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Ao contrário do pessoal de
TV e rádio, os repórteres que
trabalham em jornais e revistas
não podem assistir no campo aos
jogos no Maracanã. Perto do fim
das partidas, para anotar as declarações a quente de técnicos e
jogadores, eles correm da tribuna
de imprensa até um túnel que leva ao gramado. Vencem uns poucos andares e muitos degraus. Em
boa forma, gastam três ou quatro
minutos.
Em setembro de 1993, corri da
tribuna até um pontilhão improvisado, que só naquele dia ligou a
geral ao campo. Quando disparava pelos corredores, ouvi a vibração abafada. Um guardinha de
rádio no ouvido contou: "O Romário guardou mais um".
Foi assim que, mesmo no estádio, perdi a finta que confundiu o
goleiro. O artilheiro saiu com a
bola para a direita, liquidou o
Uruguai por 2 a 0 e levou o Brasil
à Copa. Romário era assim: tão
rápido que o arqueiro Siboldi só
deve ter entendido bem o que
aconteceu do mesmo modo que
eu depois veria o gol, pela televisão.
Como era veloz, como era ágil,
como era técnico. Como era craque. O maior cracaço da grande
área, na opinião de Cruijff. Como
se colocava, cabeceava, arrancava. Como fazia gols.
No auge, chispava e, se a piscadela de olhos demorasse um tiquinho a mais, só o víamos na comemoração discreta, os dois braços erguidos. Não se perdiam os
gols de Romário apenas pelos
subterrâneos do Maracanã, mas
em flashes de desatenção.
Em uma geração marcada pelo
bom-mocismo, aprontava e repetia: "Quem tem que se preocupar
com imagem boa é aparelho de
TV". Às vezes exagerava. Como
no desenho, encomendado por
ele, em que Zagallo aparece sentado na privada com Zico a lhe
estender o papel higiênico. Pequena vingança pelo corte da Copa
da França-98.
É de Zico que me lembro quando, mesmo sem ter decidido pendurar as chuteiras, Romário
anuncia uma despedida marota
nos EUA e se diz o melhor brasileiro depois da geração de Pelé.
Engana-se. Zico foi quase igual,
se é que não foi igual, na grande
área. Fora, dava de goleada. Era
mestre na cobrança de faltas,
dom que Romário nunca teve.
O talento para a cabeçada não
ficava atrás. Zico fez um pouquinho menos de gols, mas criou
muitos, muitos mais. Quantos
Nunes lhe deve? Além dos passes
decisivos de sempre, fazia lançamentos que aprimorou até o fim
da carreira, quando recuava e
punha os companheiros diante
do gol. Foi um gênio mais genial e
completo.
Brilhou na Itália, fez florescer o
futebol no Japão, marcou mais de
500 gols pelo Flamengo. Ah, sim...
Romário foi campeão de Copa,
Zico não foi. Coisas da vida.
Certa vez, ao ouvir do botafoguense João Saldanha um comentário sobre a falta de título mundial de Zico, o então jovem repórter Ricardo Gonzalez devolveu:
"Ele foi campeão sim, e por quem
devia ser: pelo Flamengo, em
1981". Dizem que o Saldanha fechou a cara.
Quinta-coluna
Com os mentecaptos que atiram objetos no gramado da Vila Belmiro, o Santos não pode
reclamar de perseguição se perder mando de jogo, como o Botafogo acaba de perder.
Jogadas
Para quem o atual secretário de
Esportes do Rio entregou sem
licitação a exploração das placas de publicidade do Maracanã em 1999, antes de ser levado
a voltar atrás? Para a Federação
de Futebol do Estado, já então
presidida por Eduardo Viana,
agora denunciado pelo Ministério Público sob acusação de
estelionato e formação de quadrilha na manipulação de rendas no Maracanã.
Na torcida
Força, Júlia! Força, Soninha!
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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