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FUTEBOL
Técnico afirma que foi um erro dirigir a seleção em 1983 e diz que está muito mais preparado agora do que em 1994
Parreira assume sem contrato nem salário
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Carlos Alberto Parreira entrou
em um seleto grupo de treinadores que assumiram três vezes a
mais famosa equipe de futebol.
Mas ele poderá fazer parte de
um grupo menor, mas muito
mais prestigioso. Até hoje, só o
italiano Vittorio Pozzo ganhou
duas Copas como técnico. Parreira, campeão em 1994, falou à Folha porque aceitou sentar de novo
no banco da seleção brasileira e
lutar por sua segunda Taça Fifa.
Folha - Como aconteceu?
Carlos Alberto Parreira - Foi tudo
muito rápido. A idéia era que eu
fosse o coordenador. Não tinha
nada até terça-feira à tarde. O
Américo [Faria] chegou de viagem na segunda-feira. O Ricardo
[Teixeira] marcou almoço para a
terça. Zagallo ligou de manhã para mim e disse que ele [Ricardo] ia
me convidar para treinador.
Quando eu cheguei ao almoço já
estava com a cabeça mais ou menos feita. Ficamos conversando,
umas duas ou três horas, e chegamos a um acordo: montar a comissão técnica de 1994.
Folha - Mas o que de fato pesou
na sua decisão de aceitar o cargo?
Parreira - Foi todo um envolvimento. O Ricardo Teixeira conversou comigo. O Américo me ligou. O Zagallo me ligou. A oportunidade de trabalhar com Moraci, Jairo... Isso ajudou muito. Foi
importante esse envolvimento,
determinante para a decisão.
Folha - Você disse publicamente
várias vezes que não seria nunca
mais o técnico da seleção.
Parreira - A coisa é tão complicada. Não achava certo falar da seleção. Mas não estava pensando em
ser técnico. Não vejo problema
em voltar em uma decisão. São situações que aparecem na vida.
Não há uma coisa definitiva, para
sempre. Quando acabou 2001,
disse que não iria trabalhar, pois
estaria na Copa. Depois, se aparecesse algo, pensaria. Aí veio o Citadini [vice de futebol do Corinthians]. O Corinthians é um dos
grandes clubes do mundo. Não
tenho condição de dizer não ao
Corinthians, como não tenho
condição de dizer não à seleção.
Folha - É de fato mais fácil para
você assumir agora a seleção?
Parreira - Para 1994, fazia 24
anos que a seleção não chegava à
final da Copa, e a pressão era muito grande. Agora, estou mais maduro, consciente, experiente.
Folha - Você está feliz?
Parreira - Tenho que estar feliz,
pois fui chamado para treinar a
maior seleção do futebol mundial.
Folha - Para alguns você só teria a
perder como técnico, pois já ganhou uma Copa nessa função.
Parreira - O que passou ficou para trás. Estou mais interessado no
que vem pela frente. O que foi já
está registrado. Me desprendi do
fato de ter sido campeão mundial.
Folha - Você continuará ligado à
Fifa durante sua gestão na seleção?
Parreira - Eu continuo. Sou do
Comitê Técnico. Sou chamado
para cursos, aulas, palestras. Será
melhor agora como técnico da seleção brasileira. Eles convidam, e
a gente vai quando pode.
Folha - Você esteve com Zagallo
na Copa de 74 na Alemanha. O que
espera para 2006 na Alemanha?
Parreira - As épocas são diferentes. A Alemanha, naquela ocasião,
tinha um timaço. Caso contrário,
não tinha vencido a Holanda. A
Alemanha vai jogar em casa. Temos que ter respeito, pois as potências sempre ganharam em casa, menos o Brasil. Não acho que
em quatro anos a Alemanha vá fazer um time como o de 74. Na Europa, a Copa é sempre mais difícil.
O Brasil é o único time de fora que
pode aprontar. Não sei como vai
estar a Argentina. Temos a base
de 2002 e mais alguns jovens surgindo. O Brasil vai fazer frente.
Folha - O que espera do jogo com
Portugal, agora de Felipão?
Parreira - Vai ser o segundo jogo
dele e o segundo nosso. É um jogo
de preparação. Interessante porque terá um treinador novo nas
duas seleções. E por esse aspecto
de ser contra um ex-técnico da seleção brasileira.
Folha - Como será seu contato
com a seleção olímpica?
Parreira - Vamos acompanhar
de perto a seleção olímpica e dar
apoio ao Ricardo [Gomes, técnico], em logística, em tudo que ele
precisar. Temos que acompanhar
de perto a Olimpíada porque com
certeza a seleção sub-23 dará jogadores para a principal.
Folha - E o reencontro com as eliminatórias, agora mais compridas?
Parreira - Eliminatórias são
sempre complicadas. Para 94, ficamos pelo último jogo contra o
Uruguai. Para 2002, pelo último
contra a Venezuela. Mas é bom
disputar. O time fica mais competitivo, a gente conhece melhor os
jogadores. A França não disputou
as eliminatórias, ficou de braços
cruzados e, na hora do Mundial,
não teve condição de competir.
Em um ano e meio a dois anos, estamos com o time pronto. Mas
não tem nada fácil. Os jogos contra o Uruguai, a Argentina e a Bolívia fora serão complicados.
Folha - Dá para comparar o Parreira de 1983 com o de 1991 e com o
que assume a seleção agora?
Parreira - A diferença é um abismo. Em 1983, não vou dizer que
foi um erro de quem me convidou, mas posso dizer que foi um
erro eu ter aceitado [assumir a seleção". Fiquei oito anos fora do
Brasil e não acompanhei de perto
o futebol aqui. Em 91, já estava no
Brasil, não teve impacto. Estava
por dentro e não foi tão complicado. Agora, apesar da responsabilidade, me sinto mais seguro ao
assumir a seleção pentacampeã.
Folha - Hoje, você tem a opinião
pública a seu lado. Muda tudo?
Parreira - Isso dá segurança, te
dá auto-estima. Mas a responsabilidade de corresponder a essa
expectativa. Não quero jogar confete, mas, se estou de volta à seleção, eu devo ao Corinthians. Se
não tivesse tido um ano tão bom
ai [em São Paulo], não teria sido
escolhido. Agradeço aos jogadores, à diretoria e à torcida.
Folha - Como será seu contrato?
Parreira - Ficou conversado que
será até a Copa. Não dá para fazer
um contrato de seis meses ou um
ano. É até o fim da Copa. Tem que
ser assim. Vamos ainda assinar
um contrato.
Folha - Quanto você ganhará?
Parreira - Esse assunto ainda
não resolvemos. Com certeza,
não vai ser o salário do Scolari
[cerca de R$ 370 mil]. Em princípio, não está acordado nada. Pelo
menos que seja compatível com o
que eu recebia no Corinthians [R$
90 mil". É o que se espera.
Folha - Como a sua família recebeu a novidade?
Parreira - O pessoal não recebeu
bem a idéia. Pessoas da família
são bombardeadas nessa situação. Mas tem suas vantagens...
voltar ao Rio, minha cidade. Por
algumas horas pensei: ""Minha vida... vai mudar tudo novamente".
Mas as coisas acontecem. Conversei com minha mulher, as filhas.
Folha - Quem é o melhor jogador
no Brasil na atualidade?
Parreira - Não quero falar de
atleta, pois qualquer nome pode
parecer compromisso. Mas o melhor seria o Kaká. Acho que é ele.
Folha - Tem alguma coisa que você fez para a Copa de 1994 que você
não fará agora?
Parreira - Tudo o que foi feito
em 1994 foi feito de acordo.
Folha - Ricardo Teixeira pode sair
da CBF ainda neste ano. Isso te
atrapalharia no trabalho?
Parreira - Tenho meu cargo. E
não acho que é político. É técnico.
Folha - Aceitaria ser presidente
da CBF depois de 2006?
Parreira - Isso não.
Folha - Mas você disse que não seria mais técnico da seleção...
Parreira - A vida dá voltas, não
determina seu rumo. Mas não levo jeito para isso [presidir a CBF].
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