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CARLOS HEITOR CONY
Mestre Ziza
Valia por um time.
Quando deixou o Flamengo e foi para o Bangu, desequilibrou o futebol carioca, que passou
a ter mais um grande clube nos
campeonatos locais.
Foi o jogador mais abrangente
dos nossos campos. A tática de
seu tempo, a diagonal de Flávio
Costa, uma adaptação do WM
tradicional, só podia funcionar
com um jogador-chave que tivesse as suas características.
E foi a diagonal que deu brilho e
glória ao nosso futebol durante
pelo menos 10 ou 15 anos, tendo
seu momento maior na Copa de
50, que não chegamos a ganhar,
mas quando demos ao mundo o
que admirar. Foi a diagonal, que
tinha em Zizinho seu eixo, seu arco e sua flecha, que tornou o Brasil reconhecido como o melhor futebol do mundo.
Fica difícil situar Zizinho nas
táticas de hoje. Ele não era um
simples armador, nem um atacante. Era, isso sim, na velha armação do 2-3-5 (base que usamos
até hoje no futebol de botão), o
meia-direita, com o número 8 nas
costas. Antes dele, tivemos Romeu, depois dele, ninguém. Nem
mesmo Zico, nem mesmo Pelé,
que tiveram, a seu tempo e a seu
modo, o trono que ele ocupara.
Foi o primeiro craque a receber
o título de professor, de mestre.
No famoso trio atacante -que
outro igual não houve na história-, Jair era o cérebro, Ademir o
rompedor, o homem-área, com
seu "rush" fulminante. Mas Zizinho era o time todo, resumia defesa e ataque, estava em todas,
grande molhador de camisa e,
certamente, o maior driblador do
futebol de todos os tempos.
Em qualquer escalação da melhor equipe que vestiu a camisa
da seleção brasileira, Zizinho tem
mesa posta em todos os lares daqueles que o viram jogar.
Por isso, o impacto que ele produzia na alma do torcedor. Admirava-se Jair, louvava-se Ademir, Didi, Garrincha, Gérson,
Tostão, adorava-se Pelé. Mas
amor mesmo, só a mestre Ziza,
que tinha um futebol que era a
nossa cara, a cara do brasileiro
que começa a vida chutando bola
de meia. Nele, qualquer torcedor
se identificava, era aquilo que
qualquer um gostaria de ser, seu
futebol era um caso à parte.
Sem ser individualista, parecia
jogar sozinho, tal como todos sonhamos nos momentos de delírio
a que temos direito.
Mestre, mestre mesmo. Legenda. E agora saudade.
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