São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Mestre Ziza

Valia por um time.
Quando deixou o Flamengo e foi para o Bangu, desequilibrou o futebol carioca, que passou a ter mais um grande clube nos campeonatos locais.
Foi o jogador mais abrangente dos nossos campos. A tática de seu tempo, a diagonal de Flávio Costa, uma adaptação do WM tradicional, só podia funcionar com um jogador-chave que tivesse as suas características.
E foi a diagonal que deu brilho e glória ao nosso futebol durante pelo menos 10 ou 15 anos, tendo seu momento maior na Copa de 50, que não chegamos a ganhar, mas quando demos ao mundo o que admirar. Foi a diagonal, que tinha em Zizinho seu eixo, seu arco e sua flecha, que tornou o Brasil reconhecido como o melhor futebol do mundo.
Fica difícil situar Zizinho nas táticas de hoje. Ele não era um simples armador, nem um atacante. Era, isso sim, na velha armação do 2-3-5 (base que usamos até hoje no futebol de botão), o meia-direita, com o número 8 nas costas. Antes dele, tivemos Romeu, depois dele, ninguém. Nem mesmo Zico, nem mesmo Pelé, que tiveram, a seu tempo e a seu modo, o trono que ele ocupara.
Foi o primeiro craque a receber o título de professor, de mestre.
No famoso trio atacante -que outro igual não houve na história-, Jair era o cérebro, Ademir o rompedor, o homem-área, com seu "rush" fulminante. Mas Zizinho era o time todo, resumia defesa e ataque, estava em todas, grande molhador de camisa e, certamente, o maior driblador do futebol de todos os tempos.
Em qualquer escalação da melhor equipe que vestiu a camisa da seleção brasileira, Zizinho tem mesa posta em todos os lares daqueles que o viram jogar.
Por isso, o impacto que ele produzia na alma do torcedor. Admirava-se Jair, louvava-se Ademir, Didi, Garrincha, Gérson, Tostão, adorava-se Pelé. Mas amor mesmo, só a mestre Ziza, que tinha um futebol que era a nossa cara, a cara do brasileiro que começa a vida chutando bola de meia. Nele, qualquer torcedor se identificava, era aquilo que qualquer um gostaria de ser, seu futebol era um caso à parte.
Sem ser individualista, parecia jogar sozinho, tal como todos sonhamos nos momentos de delírio a que temos direito.
Mestre, mestre mesmo. Legenda. E agora saudade.


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