São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2001

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FUTEBOL

Teen que decidiu o Rio-São Paulo com dois gols enfrenta crise de identidade em meio à sua chegada ao estrelato

Cacá, herói são-paulino, quer ser Kaka

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cacá ou Kaka, eis a questão.
Anteontem, um garoto de 18 anos marcou dois belos gols na final do Rio-São Paulo, garantiu um título inédito na história de seu clube e passou a ser conhecido de fato no Brasil inteiro pelo nome de Cacá, contra a sua vontade.
Nas centenas de autógrafos que o herói são-paulino deu após os 2 a 1 contra o Botafogo, no Morumbi, aparece o nome Kaka. Por que?
""Porque sim", explicou Ricardo Izecson Santos Leite, o Cacá.
Apontado como o novo Raí, ele diz ter solicitado à Federação Paulista e ao São Paulo ser chamado de Kaka (sem acento, mas com pronúncia idêntica) -na sua camisa, está escrito Cacá. ""Eu pedi para falarem na federação sobre isso. Falei também na secretaria do clube. Mas, se não for possível trocar o nome, tudo bem", disse.
Como adolescente, o novo ídolo são-paulino enfrenta crises de identidade, como a do nome.
Filho de um engenheiro, Bosco, e de uma professora, Simone, ele nunca passou dificuldades financeiras, como a maioria dos jogadores de futebol do país.
Chegou a São Paulo com 8 anos para morar no Morumbi, bairro nobre da cidade. Pouco tempo depois, virava sócio do São Paulo e dava início à sua carreira no esporte. ""Sou são-paulino."
Enquanto vários de seus companheiros moram em alojamentos no Morumbi, ele vive com os pais em um bom apartamento.
""Não tenho problemas com os outros jogadores por isso. Costumo ir ao Morumbi para encontrá-los e ir para o treino. Como tenho meus pais aqui, durmo em casa."
O meia-atacante completou o segundo grau e quer fazer uma faculdade, fato que lhe diferencia de muitos atletas brasileiros. ""Se der tempo, eu pretendo fazer uma faculdade. Pode ser educação física, que tem mais a ver comigo."
Se nesse sentido seu perfil parece mais com o de Raí e Leonardo, no que se refere à religião e política ele lembra outro tipo de atleta.
""Sou evangélico. Renascer é a Igreja que eu frequento. Domingo eu costumo ir à igreja, mas tem sido mais difícil agora. Sou um "atleta de Cristo"", disse o jogador, que agradeceu a Deus pelos gols. Sobre política, já votou, mas afirma não gostar do assunto.
Em evento da Telesp Celular ontem, ele apareceu com um elegante terno e sua pulseira com o nome de Jesus no pulso esquerdo. Foi o centro das atenções em meio a várias celebridades.
""Tenho que aprender com isso. Pegar experiência. Estou com os pés no chão. Continuo o mesmo. O que muda são as pessoas."
Após o jogo com o Botafogo anteontem, Cacá teve que ser escoltado até sua casa. Quatro seguranças acompanharam o jogador, que saiu ovacionado por centenas de torcedores -na tentativa de se aproximar do ídolo, quebraram até o retrovisor de seu carro.
""É uma alegria, mas sei que se estiver mal vão me criticar. A torcida estava um pouco irritada. Entrei para tentar mudar o jogo. Na hora do gol, não sabia para onde correr, mas não chorei. Comemorei em casa, com a família."
Encarnando o bom moço, é bastante assediado pelas garotas. ""Saio pouco à noite. Não tenho namorada. Sou supertranquilo", disse o possível sucessor de Raí.
""As comparações com outros jogadores eu deixo por parte da imprensa. O Raí foi um excelente homem e um grande jogador."



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