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FUTEBOL
A discussão ética continua
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O projeto de reformulação
do esporte foi aprovado no
Senado e deverá ser sancionado
pelo presidente. Nestes dias, será
votado o Código de Defesa dos Direitos do Torcedor. Se confirmado, os dois projetos serão incorporados ao Estatuto do Desporto.
Muitos dirigentes têm esperanças de que haverá grandes mudanças com os projetos. Acham que eles são utópicos e que não
servem para a realidade brasileira. É o mesmo raciocínio da CBF
que defendeu na Justiça a tese de
que estádio de futebol não é lugar
para crianças. Querem que tudo
continue como está.
O país está mudando. O futebol
também vai mudar. Todos teremos de mudar. Não há mais lugar
para certos hábitos, praticado às
vezes por pessoas honestas.
Enio Faria e o supervisor da seleção Américo Faria, profissionais competentes e sérios, deveriam entender que, separadamente, não há nada de errado em
ter parte dos direitos de um jogador e trabalhar na CBF. Porém é
conflitante ter duas atividades
tão próximas. Apenas isso. Ninguém chamou os dois de desonestos. Seria leviano.
Da mesma forma, Zagallo não
foi desonesto por ter escolhido seu
filho para técnico da seleção sub-18. Ele acha que o filho é competente e quis ajudá-lo. Vários outros treinadores utilizam filhos e
parentes nas suas comissões técnicas. Nada disso é imoral, mas o
Zagallo e os técnicos deveriam
compreender que isso não é saudável porque estimula todos os
outros profissionais a fazerem o
mesmo, com variadas intenções.
Isso não é hipocrisia. A sociedade precisa de normas de convivência que sirvam para todos.
Não há como separar os honestos
e desonestos.
Para resolver os graves problemas econômicos e sociais, o governo terá também de criar novas
referências éticas no país. Isso não
será por decreto, e sim por ações,
que já começaram.
No processo de transformação
do futebol, duas pessoas em especial merecem os nossos aplausos:
o ex-secretário do Ministério dos
Esportes José Luiz Portella, que
elaborou e trabalhou para que os
novos projetos fossem para a frente, e o jornalista Juca Kfouri, que
há anos investiga e luta por mudanças no esporte.
Fim dos três zagueiros?
A Copa sempre foi o fator mais
importante das mudanças na
maneira de jogar das equipes. O
desenho tático e a estratégia dos
vencedores tornam-se uma referência para os técnicos do mundo.
No Mundial de 82, o futebol ousado, de troca de passes e de fantasia da seleção brasileira foi derrotado pelo estilo pragmático,
cauteloso e de contra-ataque da
Itália. O modelo italiano passou a
ser a referência.
O futebol ficou feio, chato e com
poucos gols. Um time esperava o
outro no seu campo para contra-atacar. Como os dois pensavam a
mesma coisa, nada acontecia.
Empate era bom. Isso só mudou
quando a vitória passou a valer
três pontos.
Em 2002, o Brasil, que não tinha tradição em jogar com três
zagueiros e que já havia tido uma
experiência ruim em 1990, venceu
o Mundial atuando desta forma.
Na verdade, Edmilson jogou mais
tempo de volante do que de zagueiro. Mas ficou nas manchetes
que o Brasil atuou sempre com
três zagueiros.
Após o título, esperava-se que
um grande número de equipes
passassem a atuar neste esquema.
Não foi o que aconteceu. Hoje,
quase todos os grandes times e seleções do mundo jogam com dois
zagueiros e dois laterais. A Argentina é exceção.
Antes da Copa, havia mais times brasileiros jogando com três
zagueiros do que hoje. Até o Grêmio, dirigido pelo Tite, aderiu à
linha com quatro defensores.
Coincidentemente ou não, o time
melhorou.
Qual é o motivo desta desilusão? Os três zagueiros estariam
em desuso? Será que não agradou
o esquema tático da seleção, apesar do penta?
O esquema com três autênticos
zagueiros não vai acabar porque
ele é eficiente em algumas situações. No domingo, Luxemburgo,
que sabe das coisas, mudou o desenho tático do Cruzeiro e escalou
três zagueiros para marcar os três
atacantes do São Paulo.
Como o São Paulo quase só ataca pelo meio, os alas do Cruzeiro
ficaram livres para avançar e não
foram marcados. Maurinho, com
habilidade e velocidade, iniciou
ótimos contra-ataques.
O esquema com três zagueiros
ainda é uma boa opção, desde
que seja usado no momento certo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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