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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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FUTEBOL

A discussão ética continua

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O projeto de reformulação do esporte foi aprovado no Senado e deverá ser sancionado pelo presidente. Nestes dias, será votado o Código de Defesa dos Direitos do Torcedor. Se confirmado, os dois projetos serão incorporados ao Estatuto do Desporto.
Muitos dirigentes têm esperanças de que haverá grandes mudanças com os projetos. Acham que eles são utópicos e que não servem para a realidade brasileira. É o mesmo raciocínio da CBF que defendeu na Justiça a tese de que estádio de futebol não é lugar para crianças. Querem que tudo continue como está.
O país está mudando. O futebol também vai mudar. Todos teremos de mudar. Não há mais lugar para certos hábitos, praticado às vezes por pessoas honestas.
Enio Faria e o supervisor da seleção Américo Faria, profissionais competentes e sérios, deveriam entender que, separadamente, não há nada de errado em ter parte dos direitos de um jogador e trabalhar na CBF. Porém é conflitante ter duas atividades tão próximas. Apenas isso. Ninguém chamou os dois de desonestos. Seria leviano.
Da mesma forma, Zagallo não foi desonesto por ter escolhido seu filho para técnico da seleção sub-18. Ele acha que o filho é competente e quis ajudá-lo. Vários outros treinadores utilizam filhos e parentes nas suas comissões técnicas. Nada disso é imoral, mas o Zagallo e os técnicos deveriam compreender que isso não é saudável porque estimula todos os outros profissionais a fazerem o mesmo, com variadas intenções.
Isso não é hipocrisia. A sociedade precisa de normas de convivência que sirvam para todos. Não há como separar os honestos e desonestos.
Para resolver os graves problemas econômicos e sociais, o governo terá também de criar novas referências éticas no país. Isso não será por decreto, e sim por ações, que já começaram.
No processo de transformação do futebol, duas pessoas em especial merecem os nossos aplausos: o ex-secretário do Ministério dos Esportes José Luiz Portella, que elaborou e trabalhou para que os novos projetos fossem para a frente, e o jornalista Juca Kfouri, que há anos investiga e luta por mudanças no esporte.

Fim dos três zagueiros?
A Copa sempre foi o fator mais importante das mudanças na maneira de jogar das equipes. O desenho tático e a estratégia dos vencedores tornam-se uma referência para os técnicos do mundo.
No Mundial de 82, o futebol ousado, de troca de passes e de fantasia da seleção brasileira foi derrotado pelo estilo pragmático, cauteloso e de contra-ataque da Itália. O modelo italiano passou a ser a referência.
O futebol ficou feio, chato e com poucos gols. Um time esperava o outro no seu campo para contra-atacar. Como os dois pensavam a mesma coisa, nada acontecia. Empate era bom. Isso só mudou quando a vitória passou a valer três pontos.
Em 2002, o Brasil, que não tinha tradição em jogar com três zagueiros e que já havia tido uma experiência ruim em 1990, venceu o Mundial atuando desta forma. Na verdade, Edmilson jogou mais tempo de volante do que de zagueiro. Mas ficou nas manchetes que o Brasil atuou sempre com três zagueiros.
Após o título, esperava-se que um grande número de equipes passassem a atuar neste esquema. Não foi o que aconteceu. Hoje, quase todos os grandes times e seleções do mundo jogam com dois zagueiros e dois laterais. A Argentina é exceção.
Antes da Copa, havia mais times brasileiros jogando com três zagueiros do que hoje. Até o Grêmio, dirigido pelo Tite, aderiu à linha com quatro defensores. Coincidentemente ou não, o time melhorou.
Qual é o motivo desta desilusão? Os três zagueiros estariam em desuso? Será que não agradou o esquema tático da seleção, apesar do penta?
O esquema com três autênticos zagueiros não vai acabar porque ele é eficiente em algumas situações. No domingo, Luxemburgo, que sabe das coisas, mudou o desenho tático do Cruzeiro e escalou três zagueiros para marcar os três atacantes do São Paulo.
Como o São Paulo quase só ataca pelo meio, os alas do Cruzeiro ficaram livres para avançar e não foram marcados. Maurinho, com habilidade e velocidade, iniciou ótimos contra-ataques.
O esquema com três zagueiros ainda é uma boa opção, desde que seja usado no momento certo.

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