São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Dia D de Dunga


Surpresa é quando a lista não tem novidade. Irá o treinador levar dois reservas da Roma em vez de Ganso, Neymar...?

HAVIA UM clamor da imprensa brasileira pela convocação do lateral-direito Zé Carlos, do São Paulo, às vésperas da divulgação da lista final para a Copa de 98.
Um ano antes do Mundial, Zé Carlos era lateral da Matonense e disputava a Série A-2 do Paulista. Um ano depois, estava na Série B do Brasileiro, com a camisa do Joinville. Não tinha estatura para a seleção brasileira, mas Zagallo não resistiu e levou- -o à Copa da França. Zé Carlos passou 30 dias alegrando as entrevistas. Imitava todos os tipos de bicho. Só não conseguiu imitar Cafu, quando foi escalado, nas semifinais.
É possível que a história do lateral funcione, na cabeça de Dunga, como argumento para não chamar os craques da hora. Ganso, Neymar e Ronaldinho Gaúcho serão notícia na terça-feira, ou pela presença na restrita lista que vai ao Mundial na África do Sul, ou pela ausência. Não há nenhum indício de que se ganha a Copa por fechar o grupo.
Nem que se perca. Em 2002, Felipão chamou Ricardinho, do Corinthians, que ainda não havia escalado. Foi campeão do mundo. Em 1990, Sebastião Lazaroni se fechou com o grupo vencedor da Copa América do ano anterior e fez a pior campanha do Brasil, depois da eliminação na primeira fase de 1966.
"Se você quer ajudar a seleção, não faça comparações", pede Lazaroni, hoje treinador do Qatar S.C.
Havia um pedido regional em 90 pela convocação de Neto, mas tratava-se de um clamor paulista, menor do que hoje se faz com Paulo Henrique Ganso. Lazaroni tem razão em pedir que se evite comparações.
Mas... O pedido por Neto existiu menos pelo que o meia jogava na época e mais pelo momento discreto de Tita e Bismarck. Hoje, também, muita gente se incomoda mais com as presenças de Doni, Júlio Baptista e Felipe Melo, do que com as ausências de Neymar, Ronaldinho e Ganso.
Há duas semanas, um dos principais interlocutores de Dunga disse que se preocupa, sim, com quem anda jogando mal hoje em dia, em seus clubes. Mas Dunga não convoca pela lógica "seleção é momento". Nesse ponto, tem razão. Seleção era momento quando se tinha 45 dias de preparação, como aconteceu antes da Copa do México, em 70, e do Mundial da Espanha, em 82.
De 90 para cá, seleção é continuidade. Convoca-se uma vez por mês, treina-se dois dias no máximo, e o conjunto se adquire com a sequência de partidas. Continuidade à parte, é preciso ter a sensibilidade para tirar quem não está bem e incluir quem está jogando muito.
É por isso que, mesmo nas Copas recentes, surpresa é quando a lista final não tem nenhuma surpresa.
Qual será essa novidade é a questão. Mais fácil, pela ótica de Dunga, imaginar Hélton no lugar de Doni, Alex do Spartak na vaga de Gilberto ou Ronaldinho no lugar de alguém.
O técnico só vai convocar quem for de sua absoluta convicção. Na sua memória, também deve estar o caso de Giovanni, que Zagallo engoliu em 98, mas só escalou nos primeiros 45 minutos da estreia contra a Escócia.
Técnico da seleção não pode ser teimoso nem fraco. Se for teimoso, ficará diante da obrigação de ganhar a Copa, para não entrar na história como o homem que levou dois reservas da Roma, em vez de Ganso, Neymar e Ronaldinho Gaúcho.

pvc@uol.com.br


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