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VÔLEI
Criada para aumentar tempo de bola em jogo, posição facilita tarefa do levantador e favorece os especialistas
Com líbero, defesa vira o melhor ataque
da Reportagem Local
Em novembro de 97, pela terceira vez na década era oficializada
uma modificação na regra do vôlei. A FIVB (Federação Internacional de Vôlei) permitia aos times
deslocarem um de seus atletas,
identificado por colete ou uniforme contrastante para uma função
específica: defender e passar.
Com atletas cada dia mais fortes,
temia a FIVB que o desenrolar das
partidas se resumisse a quatro passos: o saque, a recepção, seguida
do levantamento, e a bola posta ao
chão. O líbero iria permitir defesas, aumentar a emoção e, por consequência, o interesse do público.
Pelo apresentado na Superliga,
terminada há duas semanas, e no
Mundial do Japão, em novembro,
a FIVB errou, segundo os técnicos.
No lugar das defesas, os favorecidos foram os ataques.
""Com o líbero, a bola normalmente chega em melhores condições ao levantador. Ele pode fintar
muito mais, acionar mais os homens de meio e não só os pontas",
explica Radamés Lattari, treinador
da seleção masculina.
A Superliga masculina serve de
parâmetro para esse quadro.
Na versão 97/98, o aproveitamento de defesa era de 0,35%. Nesta temporada, a primeira com o líbero, a melhora foi insignificante:
0,38%. O melhor aproveitamento
foi o do Banespa, que atuou com a
nova figura: defendeu em média
6,52% dos ataques.
No ataque, o aproveitamento subiu de 41% para 43,7%. No passe,
fundamento que municia o ataque, o percentual de acerto subiu
de 63,68% para 66,55%.
Exceto pelo Coop, de Santo André, as 12 equipes da versão masculina utilizaram líbero.
""Pela violência dos ataques, no
masculino, a possibilidade de defesa que já era remota não vai mudar muito. Nesse quesito, o líbero
faz mais diferença nos jogos do feminino, que sempre teve essa característica de defesa", diz Bernardo Rezende, técnico da seleção feminina, quarta no Mundial.
Os dois selecionados brasileiros
atuam com líberos: no Mundial, os
escolhidos para a função foram
Kid, 1,96 m, e Sandra, 1,79 m, que,
aliás, atua no Rexona, time dirigido por Bernardinho.
Das favoritas, no mesmo Mundial, apenas a Iugoslávia, vice-campeã masculina, não jogava
com líbero. Bebeto de Freitas, técnico da campeã, a Itália, deslocou
um de seus mais completos atletas,
Samuelle Papi, para a função.
Como atua nas três posições de
fundo de quadra -ele não é um
sétimo jogador, e sim um substituto que pode entrar a qualquer momento na partida-, o que prevalece para o líbero é a técnica e a agilidade e não a altura ou a força.
Aos 28 anos, sem jamais ter passado nem pelas seleções de base,
Paulinho, 1,87 m, do Telepar/Maringá, foi convocado para disputar
posição com Kid (leia texto ao lado). ""Com esse tamanho, se não
fosse como líbero nunca estaria na
seleção", comenta Paulinho.
Radamés Lattari diz pretender
que na Liga Mundial, a partir do
próximo dia 29, Kid atue tanto como líbero como quanto atacante,
dependendo do adversário.
O jogador, único canhoto da seleção, tenta demover Lattari da
idéia de fazê-lo voltar ao ataque.
""Quero ser o melhor líbero do
mundo", diz o jogador, 27, que no
seu clube, o Olympikus, atua como
atacante. Ele é casado com Andréa,
a líbero do BCN -e eleita o melhor passe da Superliga.
""Nunca fui a favor dessa mudança. Não gosto porque quero que o
atleta tenha qualidade técnica em
todos os fundamentos. Agora, o
jogador alto só precisa treinar ataque", reclama José Roberto Guimarães, ouro em Barcelona-92.
Eleito o melhor bloqueador do
Mundial, Gustavo, 2,03 m, titular
da seleção, sintetiza a tendência
abominada por Guimarães. ""Para
mim, o líbero é uma beleza. Não
preciso mais me preocupar em
treinar passe. É aprimorar o ataque e o bloqueio", diz Gustavo.
Exceto pela Ulbra-Pepsi, campeã
nacional, a maioria das equipes
brasileiras segue a mesma fórmula: o líbero substitui os dois meios-de-rede, justamente os com maiores deficiências de passe e defesa.
Nas finais da Superliga masculina deste ano, Jorge Schmidt, técnico do time gaúcho, deslocou o líbero para substituir os pontas. Deu
um nó tático no Report-Nipomed,
de Ricardo Navajas, três vezes
campeão, porque, em vez de um,
tinha sempre dois jogadores livres.
Falácia
A introdução do líbero, pelo menos nos bastidores do vôlei, teve
outro caráter além do divulgado
pela FIVB. A federação procurava
um meio de manter a competitividade dos asiáticos, reconhecidos
pela técnica e pela eficácia no trabalho de defesa, mas que perdera
terreno num jogo de gigantes.
A média de altura da seleção japonesa no Mundial, por exemplo,
era de 1,93 m contra 1,96 m do Brasil e 1,99 m da Rússia.
O próprio técnico campeão
olímpico reconhece a utilidade da
nova figura na seleção brasileira.
""Um dos times que mais se beneficiaram dessa figura foi o Brasil.
Hoje, não temos um jogador com a
eficiência que o Carlão tinha no
passe em 92. Com um time ainda
baixo como o nosso, que precisa
jogar em velocidade, sem o passe
na mão não teríamos chance", diz
José Roberto Guimarães.
""Nunca vai surgir a profissão de
líbero. Será sempre o baixinho, o
cara que sobrou", afirma Josenildo
Carvalho, ex-técnico do BCN.
""Há jogadores que nasceram para passar, esses serão bons líberos.
Você observa isso no aquecimento. O líbero nato é aquele jogador
que em vez de atacar sempre vai
querer defender", diz Renan dal
Zotto, ex-técnico do Olympikus.
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