São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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Motivador, Lippi prega "fome" para erguer taça

Técnico usa jejum de títulos e frase de Platini para mexer com os brios da Itália

"O banquete será servido em Berlim. Vamos ver quem consegue comer mais", diz o treinador da Azzurra, que busca 1º título desde 1982


DOS ENVIADOS A DUISBURGO

Encontrar palavras e atitudes corretas para motivar seus atletas é uma de suas virtudes. Fica fácil de entender, então, o motivo de Marcello Lippi ter recebido com júbilo a provocação que um ilustre torcedor francês lançou na véspera da final da Copa do Mundo.
Em entrevista ao diário italiano "Gazzetta Dello Sport", Michel Platini, um dos maiores ídolos da seleção rival, declarou que a Itália só vai ganhar um Mundial em 2030.
Diplomático, o treinador italiano não criou uma celeuma. Deixou claro, contudo, que vai usar esse tom abusado do discurso para mexer com os brios de seus comandados.
"Respeito a opinião de todos. Muita gente fala antes de uma final de Copa. Daqui até 2030, a Itália vai tentar aproveitar todas a chances que tiver para ganhar um Mundial. A primeira é esta final", diz o técnico.
Sua tática visa explorar o jejum italiano em competições internacionais. O último título da Azzurra foi na Copa de 1982. Desde então, não ergueu sequer um troféu da Eurocopa.
A alegoria que o treinador utiliza em seu discurso é a de uma seleção faminta, mais ávida por um troféu do que a francesa. "As equipes se equivalem tecnicamente, então quem tiver mais fome de vencer vai ganhar. O banquete será servido em Berlim. Vamos ver quem consegue comer mais."
Pode soar piegas, mas seu estratagema contagia os jogadores. "Tive problemas de contusões durante o ano, achei que chegaria mal ao Mundial. O Lippi sempre disse que acreditava em mim, que eu era importante. Ele consegue fazer cada um de nós render 120%", afirma o goleiro Buffon, que, até o momento, levou somente um gol durante a competição.
Treinadores que seguem filosofias parecidas também tiveram sucesso na Alemanha. Figuras como o comandante dos anfitriões, Jürgen Klinsmann, que levou jogadores para montarem relógios na Suíça a fim de serem mais pacientes, e Luiz Felipe Scolari, que usou o hino português para resgatar o orgulho nacional, asseguraram vaga entre os quatro melhores.
"Em uma competição curta, um craque sem motivação de nada vale. Precisamos de gente disposta a se sacrificar por um bem comum. No nosso caso, precisamos do título que não vem desde 1982", diz Lippi.
Conquistas não faltam em seu currículo. Nascido na Toscana e ex-zagueiro da Sampdoria, o treinador ganhou respeito em seu país ao classificar o Napoli para a Copa da Uefa na temporada 1993/1994, época na qual andava endividado. Pouco depois, assumiu a Juventus. Lá, ergueu cinco taças do Nacional, além de uma Copa dos Campeões e de um Mundial interclubes.
Aos 58 anos, cabelos grisalhos, olhos claros, chamado por alguns amigos de Paul Newman pela semelhança com o ator norte-americano, Lippi usa seu passado vencedor para explicar o motivo de almejar um triunfo a todo custo contra a França na final de hoje.
"Quero deixar algo bem claro. Se nós perdermos, não vamos querer brincar por aí. Não estamos satisfeitos com o que fizemos até aqui. Somos uma nação de tradição. Não conquistar o título me deixaria muito bravo", sentencia o treinador.0 (GUILHERME ROSEGUINI E RICARDO PERRONE)

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