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Motivador, Lippi prega "fome" para erguer taça
Técnico usa jejum de títulos e frase de Platini para mexer com os brios da Itália
"O banquete será servido em Berlim. Vamos ver quem consegue comer mais", diz o treinador da Azzurra, que busca 1º título desde 1982
DOS ENVIADOS A DUISBURGO
Encontrar palavras e atitudes corretas para motivar seus
atletas é uma de suas virtudes.
Fica fácil de entender, então, o
motivo de Marcello Lippi ter
recebido com júbilo a provocação que um ilustre torcedor
francês lançou na véspera da final da Copa do Mundo.
Em entrevista ao diário italiano "Gazzetta Dello Sport",
Michel Platini, um dos maiores
ídolos da seleção rival, declarou
que a Itália só vai ganhar um
Mundial em 2030.
Diplomático, o treinador italiano não criou uma celeuma.
Deixou claro, contudo, que vai
usar esse tom abusado do discurso para mexer com os brios
de seus comandados.
"Respeito a opinião de todos.
Muita gente fala antes de uma
final de Copa. Daqui até 2030, a
Itália vai tentar aproveitar todas a chances que tiver para ganhar um Mundial. A primeira é
esta final", diz o técnico.
Sua tática visa explorar o jejum italiano em competições
internacionais. O último título
da Azzurra foi na Copa de 1982.
Desde então, não ergueu sequer um troféu da Eurocopa.
A alegoria que o treinador
utiliza em seu discurso é a de
uma seleção faminta, mais ávida por um troféu do que a francesa. "As equipes se equivalem
tecnicamente, então quem tiver mais fome de vencer vai ganhar. O banquete será servido
em Berlim. Vamos ver quem
consegue comer mais."
Pode soar piegas, mas seu estratagema contagia os jogadores. "Tive problemas de contusões durante o ano, achei que
chegaria mal ao Mundial. O
Lippi sempre disse que acreditava em mim, que eu era importante. Ele consegue fazer cada
um de nós render 120%", afirma o goleiro Buffon, que, até o
momento, levou somente um
gol durante a competição.
Treinadores que seguem filosofias parecidas também tiveram sucesso na Alemanha. Figuras como o comandante dos
anfitriões, Jürgen Klinsmann,
que levou jogadores para montarem relógios na Suíça a fim de
serem mais pacientes, e Luiz
Felipe Scolari, que usou o hino
português para resgatar o orgulho nacional, asseguraram vaga
entre os quatro melhores.
"Em uma competição curta,
um craque sem motivação de
nada vale. Precisamos de gente
disposta a se sacrificar por um
bem comum. No nosso caso,
precisamos do título que não
vem desde 1982", diz Lippi.
Conquistas não faltam em
seu currículo. Nascido na Toscana e ex-zagueiro da Sampdoria, o treinador ganhou respeito
em seu país ao classificar o Napoli para a Copa da Uefa na
temporada 1993/1994, época
na qual andava endividado.
Pouco depois, assumiu a Juventus. Lá, ergueu cinco taças
do Nacional, além de uma Copa
dos Campeões e de um Mundial interclubes.
Aos 58 anos, cabelos grisalhos, olhos claros, chamado por
alguns amigos de Paul Newman pela semelhança com o
ator norte-americano, Lippi
usa seu passado vencedor para
explicar o motivo de almejar
um triunfo a todo custo contra
a França na final de hoje.
"Quero deixar algo bem claro. Se nós perdermos, não vamos querer brincar por aí. Não
estamos satisfeitos com o que
fizemos até aqui. Somos uma
nação de tradição. Não conquistar o título me deixaria
muito bravo", sentencia o treinador.0
(GUILHERME ROSEGUINI E RICARDO PERRONE)
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