São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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França perde quem a fez grande

Antes de Zidane, país tinha fama de amarelar em Mundiais; com ele, faz a segunda final em 8 anos

Aproveitamento do time em Copas, de 49% sem o craque, sobe para 72% nas partidas que contaram com o camisa 10, que se aposenta hoje


DOS ENVIADOS A BERLIM

Acaba hoje a carreira de um craque. Que fez jogadas inesquecíveis e muito por seu país.
Foi com Zinedine Zidane, 34, que a França acabou com seu "complexo de vira-lata", a expressão que o dramaturgo Nelson Rodrigues imortalizou para a seleção brasileira pelos fracassos nas Copas até Pelé surgir em 1958 e conduzir o país ao primeiro título mundial.
Os orgulhosos franceses não eram quase nada nas Copas antes de Zidane. Nunca tinham chegado a uma final. Amargavam a fama de amarelar nos momentos decisivos, como em 1982 e 1986. Vinham de dois Mundiais em que nem conseguiram passar pelas eliminatórias européias. O aproveitamento do time na competição não passava de modestos 49%.
Com o surgimento do meia em 98, a França foi campeã. Quatro anos depois, ele se machucou e só foi a campo uma vez na péssima campanha na Ásia. Agora, no seu adeus do futebol, atuação brilhante contra o Brasil, jogadas de efeito e novamente o seu país na decisão.
Com Zidane, a França tem aproveitamento de 72% nas Copas. Assim, a diferença de desempenho do time com e sem o camisa 10 no torneio é de 23 pontos percentuais, o que fica acima de outros grandes ídolos de outras seleções.
A Argentina com Maradona é só nove pontos percentuais melhor nas Copas do que sem ele. O Brasil de Pelé é 16 pontos percentuais melhor que sem o camisa 10. Na Alemanha de Beckenbauer, essa diferença é de 19, ainda abaixo do que acontece com a França e Zidane, que desta vez, caso conquiste o título hoje, ainda terá o gosto de levantar a taça como capitão, tarefa que coube a Deschamps há oito anos no Stade de France, em Saint-Denis.
E o camisa 10 realmente incorporou o papel de líder.
Zidane já bateu boca com o técnico Raymond Domenech (era um dos que pediam a entrada de mais um atacante, no caso Trezeguet, na equipe titular), criticou apoios de última hora ao time e ficou calado a maior parte do tempo, irritando até os patrocinadores da Federação Francesa de Futebol.
Ontem, mais uma vez, o meia manteve-se em silêncio. "Ele não está aqui para explicar, e sim para se preparar e jogar", afirmou o técnico Domenech.
Mas Zidane esteve na boca de toda a Copa, a começar pelos brasileiros, que exaltaram mais uma vez a atuação de seu maior carrasco em Mundiais. "Foi a melhor exibição dele nos últimos oito anos", disse o técnico Carlos Alberto Parreira depois da derrota nas quartas.
Nos dias que antecederam a final de hoje, franceses e italianos colocaram o camisa 10 como o protagonista da decisão.
"Ele mostrou de novo que é provavelmente o melhor jogador do mundo dos últimos 20 anos. Está em forma e fico feliz, mesmo sabendo que ele poderá impedir nosso quarto título na Copa", disse Marcello Lippi, o técnico da Itália, país que já foi vítima de Zidane -perdeu a final da Eurocopa-2000 e foi eliminado na Copa de 98.
"Nós temos Zidane, e isso pode fazer a diferença", disse o lateral francês Sagnol ao comentar sobre o favoritismo na final.
A federação francesa não divulgou como irá homenagear Zidane em sua despedida.
(FÁBIO VICTOR E PAULO COBOS)


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