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França perde quem a fez grande
Antes de Zidane, país tinha fama de amarelar em Mundiais; com ele, faz a segunda final em 8 anos
Aproveitamento do time em Copas, de 49% sem o craque, sobe para 72% nas partidas que contaram com o camisa 10, que se aposenta hoje
DOS ENVIADOS A BERLIM
Acaba hoje a carreira de um
craque. Que fez jogadas inesquecíveis e muito por seu país.
Foi com Zinedine Zidane, 34,
que a França acabou com seu
"complexo de vira-lata", a expressão que o dramaturgo Nelson Rodrigues imortalizou para a seleção brasileira pelos fracassos nas Copas até Pelé surgir
em 1958 e conduzir o país ao
primeiro título mundial.
Os orgulhosos franceses não
eram quase nada nas Copas antes de Zidane. Nunca tinham
chegado a uma final. Amargavam a fama de amarelar nos
momentos decisivos, como em
1982 e 1986. Vinham de dois
Mundiais em que nem conseguiram passar pelas eliminatórias européias. O aproveitamento do time na competição
não passava de modestos 49%.
Com o surgimento do meia
em 98, a França foi campeã.
Quatro anos depois, ele se machucou e só foi a campo uma
vez na péssima campanha na
Ásia. Agora, no seu adeus do futebol, atuação brilhante contra
o Brasil, jogadas de efeito e novamente o seu país na decisão.
Com Zidane, a França tem
aproveitamento de 72% nas
Copas. Assim, a diferença de
desempenho do time com e
sem o camisa 10 no torneio é de
23 pontos percentuais, o que fica acima de outros grandes ídolos de outras seleções.
A Argentina com Maradona é
só nove pontos percentuais
melhor nas Copas do que sem
ele. O Brasil de Pelé é 16 pontos
percentuais melhor que sem o
camisa 10. Na Alemanha de
Beckenbauer, essa diferença é
de 19, ainda abaixo do que
acontece com a França e Zidane, que desta vez, caso conquiste o título hoje, ainda terá o gosto de levantar a taça como capitão, tarefa que coube a Deschamps há oito anos no Stade
de France, em Saint-Denis.
E o camisa 10 realmente incorporou o papel de líder.
Zidane já bateu boca com o
técnico Raymond Domenech
(era um dos que pediam a entrada de mais um atacante, no
caso Trezeguet, na equipe titular), criticou apoios de última
hora ao time e ficou calado a
maior parte do tempo, irritando até os patrocinadores da Federação Francesa de Futebol.
Ontem, mais uma vez, o meia
manteve-se em silêncio. "Ele
não está aqui para explicar, e
sim para se preparar e jogar",
afirmou o técnico Domenech.
Mas Zidane esteve na boca de
toda a Copa, a começar pelos
brasileiros, que exaltaram mais
uma vez a atuação de seu maior
carrasco em Mundiais. "Foi a
melhor exibição dele nos últimos oito anos", disse o técnico
Carlos Alberto Parreira depois
da derrota nas quartas.
Nos dias que antecederam a
final de hoje, franceses e italianos colocaram o camisa 10 como o protagonista da decisão.
"Ele mostrou de novo que é
provavelmente o melhor jogador do mundo dos últimos 20
anos. Está em forma e fico feliz,
mesmo sabendo que ele poderá
impedir nosso quarto título na
Copa", disse Marcello Lippi, o
técnico da Itália, país que já foi
vítima de Zidane -perdeu a final da Eurocopa-2000 e foi eliminado na Copa de 98.
"Nós temos Zidane, e isso pode fazer a diferença", disse o lateral francês Sagnol ao comentar sobre o favoritismo na final.
A federação francesa não divulgou como irá homenagear
Zidane em sua despedida.
(FÁBIO VICTOR E PAULO COBOS)
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