UOL


São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

O craque na contramão

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Outro dia escrevi aqui sobre finais de carreiras, a propósito de Romário. Hoje retomo o tema, mas com outro personagem, coincidentemente nascido apenas dois dias depois do atacante do Fluminense.
Estou falando de Muller, que estréia nesta tarde pela Portuguesa contra o Palmeiras, no Parque Antarctica. Sim, o mesmo Muller que despontou entre os "menudos do Morumbi" há quase 20 anos e que, depois, passou pelo Palmeiras, pelo Santos, pelo Corinthians, pelo Cruzeiro e pelo São Caetano, sem falar dos times que defendeu na Itália e no Japão.
Dizer que Muller é rodado é dizer pouco. Segundo consta, é o primeiro atleta profissional a vestir as camisas dos cinco "grandes" paulistas. Além disso, esteve nas Copas do Mundo de 86, 90 e 94.
Mais interessante que o retrospecto factual de sua carreira, entretanto, é observar a transformação que seu futebol sofreu ao longo dos anos.
Quando surgiu no São Paulo em 1984, Muller chamava a atenção pelo vigor físico, pelas arrancadas fulminantes, pela condução da bola em alta velocidade. Era quase tão difícil de ser contido quanto seria, uma década depois, o fenômeno Ronaldo.
Quem tem mais de 30 anos lembra-se da dupla infernal que Muller formou no São Paulo com Careca, este um jogador mais técnico e sutil, mas igualmente rápido e agressivo. Pena que na seleção brasileira a dupla não conseguiu o mesmo sucesso -o que levou muita gente a repetir durante anos a ladainha de que Muller não passava de um blefe.
Após ficar no banco da seleção durante a Copa-94, Muller foi para o Japão e sumiu temporariamente de vista. Quando voltou, um ano depois, era outro jogador.
Eu ainda não escrevia sobre futebol na época, mas confesso que, entre amigos, fui um dos que manifestaram ceticismo quando o Palmeiras anunciou sua contratação. Na minha visão, Muller era um jogador de arranque e explosão, que havia passado seu melhor momento e rumava para a decadência inexorável.
Ledo engano. Passando a atuar numa faixa menor do campo, dentro ou próximo da área adversária, Muller estava praticando um futebol extremamente enxuto e objetivo, quase minimalista, de toques de primeira que colocavam seus parceiros na cara do gol ou que ajeitavam a bola para seu próprio arremate potente, com qualquer dos dois pés.
Para avaliar melhor essa metamorfose, talvez seja útil comparar o caso de Muller com o de outro atacante que mudou suas características ao longo do tempo: Zico.
O Galinho, que no início da carreira arrancava driblando em direção ao gol, quando não estava bem postado na área para finalizar (e bem), passou a jogar mais recuado, na criação de jogadas. Muller fez quase o contrário: foi jogar lá na frente, mas de costas para o gol, chamando e "armando" o time de trás para frente.
Essa foi sua grande virada. Hoje, aos 37 anos, ele estréia mais uma vez. Será que nos reserva uma nova surpresa?

Dois times em um
O empate entre Cruzeiro e São Paulo, quarta-feira, foi um belo jogo e mostrou, entre outras coisas, que o tricolor, sem Ricardinho, é um time talhado para o contra-ataque. Com o meia e sem Kaká, tende a cadenciar o jogo e buscar espaços com mais paciência. A questão é: como conciliar o futebol vertical de Kaká com o futebol "circular" de Ricardinho?

Ataques na berlinda
Por falar em contra-ataque: o Corinthians pressionou o Figueirense e perdeu; o Grêmio pressionou o Guarani e também perdeu. As últimas rodadas têm sido favoráveis às equipes que se fecham bem e se arriscam na hora certa. Será mera coincidência ou uma tendência que veio para ficar? Ou mera incompetência dos ataques?

E-mail jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Corrida
Próximo Texto: Boxe: Popó pega rival para fazer falar os punhos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.