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FUTEBOL
O craque na contramão
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Outro dia escrevi aqui sobre
finais de carreiras, a propósito de Romário. Hoje retomo o
tema, mas com outro personagem, coincidentemente nascido
apenas dois dias depois do atacante do Fluminense.
Estou falando de Muller, que estréia nesta tarde pela Portuguesa
contra o Palmeiras, no Parque
Antarctica. Sim, o mesmo Muller
que despontou entre os "menudos
do Morumbi" há quase 20 anos e
que, depois, passou pelo Palmeiras, pelo Santos, pelo Corinthians,
pelo Cruzeiro e pelo São Caetano,
sem falar dos times que defendeu
na Itália e no Japão.
Dizer que Muller é rodado é dizer pouco. Segundo consta, é o
primeiro atleta profissional a vestir as camisas dos cinco "grandes"
paulistas. Além disso, esteve nas
Copas do Mundo de 86, 90 e 94.
Mais interessante que o retrospecto factual de sua carreira, entretanto, é observar a transformação que seu futebol sofreu ao longo dos anos.
Quando surgiu no São Paulo
em 1984, Muller chamava a atenção pelo vigor físico, pelas arrancadas fulminantes, pela condução da bola em alta velocidade.
Era quase tão difícil de ser contido quanto seria, uma década depois, o fenômeno Ronaldo.
Quem tem mais de 30 anos lembra-se da dupla infernal que Muller formou no São Paulo com Careca, este um jogador mais técnico e sutil, mas igualmente rápido
e agressivo. Pena que na seleção
brasileira a dupla não conseguiu
o mesmo sucesso -o que levou
muita gente a repetir durante
anos a ladainha de que Muller
não passava de um blefe.
Após ficar no banco da seleção
durante a Copa-94, Muller foi para o Japão e sumiu temporariamente de vista. Quando voltou,
um ano depois, era outro jogador.
Eu ainda não escrevia sobre futebol na época, mas confesso que,
entre amigos, fui um dos que manifestaram ceticismo quando o
Palmeiras anunciou sua contratação. Na minha visão, Muller
era um jogador de arranque e explosão, que havia passado seu
melhor momento e rumava para
a decadência inexorável.
Ledo engano. Passando a atuar
numa faixa menor do campo,
dentro ou próximo da área adversária, Muller estava praticando um futebol extremamente enxuto e objetivo, quase minimalista, de toques de primeira que colocavam seus parceiros na cara
do gol ou que ajeitavam a bola
para seu próprio arremate potente, com qualquer dos dois pés.
Para avaliar melhor essa metamorfose, talvez seja útil comparar
o caso de Muller com o de outro
atacante que mudou suas características ao longo do tempo: Zico.
O Galinho, que no início da carreira arrancava driblando em direção ao gol, quando não estava
bem postado na área para finalizar (e bem), passou a jogar mais
recuado, na criação de jogadas.
Muller fez quase o contrário: foi
jogar lá na frente, mas de costas
para o gol, chamando e "armando" o time de trás para frente.
Essa foi sua grande virada. Hoje, aos 37 anos, ele estréia mais
uma vez. Será que nos reserva
uma nova surpresa?
Dois times em um
O empate entre Cruzeiro e São
Paulo, quarta-feira, foi um belo
jogo e mostrou, entre outras
coisas, que o tricolor, sem Ricardinho, é um time talhado
para o contra-ataque. Com o
meia e sem Kaká, tende a cadenciar o jogo e buscar espaços
com mais paciência. A questão
é: como conciliar o futebol vertical de Kaká com o futebol
"circular" de Ricardinho?
Ataques na berlinda
Por falar em contra-ataque: o
Corinthians pressionou o Figueirense e perdeu; o Grêmio
pressionou o Guarani e também perdeu. As últimas rodadas têm sido favoráveis às equipes que se fecham bem e se arriscam na hora certa. Será mera
coincidência ou uma tendência
que veio para ficar? Ou mera incompetência dos ataques?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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