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ATENAS 2004
Nem boom tardio salva fiasco de público
A 4 dias da abertura, só 52% dos ingressos foram vendidos, e projeções mais otimistas indicam teto de 64%
DOS ENVIADOS A ATENAS
Não há mais remédio, não há
mais tempo. Antes mesmo de a
Olimpíada começar, Atenas já sabe que viverá um vexame histórico nas arquibancadas: na mais
otimista das projeções, só 64%
dos ingressos para os Jogos serão
vendidos. Na média, mais de um
terço dos assentos em ginásios e
estádios estará vazio. Em branco.
Até ontem, 2,7 milhões, ou 52%
da carga total de 5,2 milhões de
entradas havia saído das bilheterias. Os gregos acreditam, porém,
que o boom nas vendas registrado
na semana passada continue. E
torcem para chegar aos tais 64%,
ou 3,3 milhões de ingressos.
A marca, mesmo se for atingida,
representará um fracasso para o
Athoc (Comitê Organizador dos
Jogos de Atenas). E um baita retrocesso na trajetória olímpica.
Há quatro anos, em Sydney, foram colocados à venda 6,7 milhões de bilhetes, 29% a mais do
que agora. E 92,4% dos lugares ficaram ocupados, um novo recorde olímpico, ultrapassando os
82,3% registrados em Atlanta-96.
Como sempre ocorre quando o
assunto é organização, mais uma
vez a comparação com Sydney-2000 é inglória para os atenienses.
A Grécia está a menos de três
horas de vôo dos países centrais
da Europa, adotou o euro em
2002 -junto com então outros 11
membros da UE- e é barata em
relação aos seus parceiros.
Mais: dentro de seu território,
os deslocamentos são muito mais
fáceis. Tessalônica, a segunda
mais importante cidade grega, fica a 517 km de Atenas. Na Austrália, Melbourne, vice-líder em população, está a 707 km de Sydney.
A área da Grécia é de 132 mil
km2. A Austrália, um país-continente, é 58 vezes maior, mas é
drasticamente menos populosa:
2,6 habitantes por km2 contra 80.
O diagnóstico do fiasco foi dado
pelo COI. O Comitê Olímpico Internacional anunciou que a cobertura dos Jogos pela TV quebrará todos os recordes. Diante de
tanta oferta e do temor por atentados terroristas, os espectadores
teriam preferido ficar em seus
países a viajar para Atenas.
Segundo o COI, mais de 60%
das emissoras que detêm direitos
de transmissão pretende aumentar o espaço em relação a Sydney.
Ao todo, serão 35 mil horas de
Olimpíada nas TVs do mundo,
atingindo 3,9 bilhões de pessoas.
Em Sydney, foram 29.600 horas.
Em Barcelona-92, última Olimpíada em solo europeu, a TV exibiu 20 mil horas de Jogos.
Irritado com a baixa afluência
de turistas europeus, o atual governo grego culpa seu antecessor.
"A campanha publicitária para
atrair turistas estrangeiros deveria ter começado dois anos atrás.
Não fizeram um trabalho especial
para a Olimpíada", afirmou ao
diário "To Vima" a ministra da
Cultura, Fani-Palli Petralia.
Conformado, o Athoc apostou
em casa. Nas últimas semanas,
aumentou a carga de propagandas para venda de ingressos.
Por enquanto, vem funcionando. Só no sábado, foram vendidos
54 mil entradas. Foi a maior procura em um único dia desde que o
Athoc iniciou as vendas, em 12 de
maio do ano passado.
"A resposta do povo grego nesses últimos dias tem sido incrível.
Abriremos novos pontos de venda para diminuir as filas e aumentar a comodidade dos compradores", disse Michael Zacharatos, diretor de comunicação do comitê
organizador, em entrevista coletiva.
(FÁBIO SEIXAS E MARCELO DIEGO)
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