São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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Equipe troca campo por comitê

do enviado a Petrolina (PE)

O ditado que diz que pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube é seguido à risca no sertão pernambucano. Ou quase.
Em Petrolina, uma das principais cidades de Pernambuco, que faz fronteira com Juazeiro, na Bahia, quem tem o direito de cobrar as penalidades máximas do Primeiro de Maio é Ronaldo Luís, o Cancão, 35, presidente do clube.
Manda-chuva, o dirigente controla cada detalhe do time e, quando decide, atua como jogador, fazendo a função de meia-defensivo.
No Campeonato Pernambucano, sempre que quis entrou como titular. "Não queremos problemas com ele", diz Ambrósio Rodrigues, 38, técnico do time. "O Ronaldo não joga mal, é meio durão, mas forte na marcação. Como ele só quer o bem do Primeiro de Maio, se pedia para jogar ou se quisesse cobrar um pênalti, eu não iria negar."
Rebaixado para a Segunda Divisão, a equipe, atração da região até o início deste ano, tenta voltar, por conchavos políticos, para a Primeira Divisão de Pernambuco.
"O Ronaldo é assessor de Miguel Arraes (governador do Estado e candidato à reeleição) e, se ele ganhar, pode nos ajudar a continuar na primeirona", afirmou.
E, para Ambrósio, motivos para que o clube siga na série principal do Estado não faltam. "Aqui é uma área de pouquíssimas opções de lazer. O Juazeiro (da cidade baiana vizinha) disputa o Baiano e a Terceira Divisão do Brasileiro, mas todos preferem ver nossos jogos, porque aqui você pode trocar nota fiscal por ingressos."
De acordo com Ambrósio, moradores de outras cidades, que não têm times de futebol profissional para torcer vão para Petrolina torcer pelo Primeiro de Maio.
"Eles fazem supermercado aqui, pegam a nota fiscal e trocam por um ingresso. É bom para a cidade e para Pernambuco."
Seja pela esperança de que Arraes ajude o time no futuro, seja pelo dinheiro -"um emprego temporário não fal mal a ninguém"-, o fato é que o principal comitê do governador e de Lula, candidato à presidência pelo PT, em Petrolina, é formado preponderantemente por jogadores e membros da comissão técnica do Primeiro de Maio.
"Trocamos os treinos pela campanha política", disse Nivaldo Souza Lima, 36, o Nivaldão, que atua como zagueiro pelo clube pernambucano e trabalha como segurança da agência da Caixa Econômica Federal em Petrolina.
"Antes, quando o time estava em atividade, eu aproveitava o fim do expediente para ir para o estádio municipal treinar com meus companheiros. Hoje, enquanto o estádio está sendo usado por alunos de escolas primárias, nós vamos ao comitê." (JCA)



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