São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

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Governo subvenciona albergues

DOS ENVIADOS A BRISBANE

Num país em que os realmente pobres são poucos, quase raros, o governo australiano encontrou uma maneira peculiar de enfrentar o problema dos sem-teto.
A fórmula é simples: a União entra com o dinheiro, e entidades privadas, normalmente religiosas, fazem o trabalho.
As duas principais instituições desse tipo são o Exército da Salvação (protestante) e a St. Vincent de Paul (católica). Ambas mantêm abrigos, programas de emprego, centros de orientação familiar, creches etc.
"O Estado nos atribui essa tarefa porque sabe que fazemos melhor e mais barato", resume Mark Campbell, relações-públicas do Exército da Salvação em Brisbane, capital do Estado de Queensland.
"A assistência ao excluído na Austrália é uma das melhores que conheço", diz Nikki O" Leary, supervisora de Bem-Estar do 139 Club, albergue diurno que tirou seu nome do antigo endereço da entidade, 139 Charlotte Street.
Nikki compareceu recentemente a um encontro internacional na Tailândia e ficou chocada com a situação dos "homeless" naquele país. "A situação dos marginalizados aqui é melhor que a da própria Inglaterra", diz. E acrescenta: "Na Austrália ninguém morre de fome", frase repetida à Folha por diversos sem-teto.
Apesar da autoproclamada eficiência, há algo que essas entidades não conseguem fazer: determinar com precisão o número de "homeless" do país.
Em Brisbane, por exemplo, levantamento recente apontou a existência de 300 sem-teto na cidade, a terceira maior da Austrália, com 1,6 milhão de habitantes.
Os especialistas alegam, entretanto, que o número real de desabrigados é bem maior. "Muitos não querem se reconhecer como "homeless". Acho que hoje, em Brisbane, eles são aproximadamente mil", diz Nikki O" Leary.
Independentemente do número exato, tanto os assistentes sociais quanto os sem-teto afirmam que o maior problema entre as pessoas que vivem na rua é a dependência de drogas e álcool.
Segundo Nikki O" Leary, 90% das pessoas que frequentam o 139 Club são alcoólatras ou viciadas em algum tipo de droga. As mais usadas, de acordo com a diretora, são a heroína e as anfetaminas.
"Em vez de alugar um apartamento, muitos deles preferem usar o dinheiro da assistência social para comprar drogas", diz o diretor do abrigo masculino Pindari Center, Bruce Robinson.
Além do Pindari Center, o Exército da Salvação mantém também um alojamento juvenil, que recebe cerca de 12 pessoas por noite, e um albergue para mulheres e crianças, com uma média diária de 30 hóspedes.
A instituição gastou ano passado 110 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 113 milhões) em programas sociais. Segundo Robinson, 60% dos gastos foram cobertos pelo governo. O resto foi pago pela instituição. (FV e JGC)


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