São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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VÔLEI

Desafios e armações

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

A renovada seleção brasileira feminina terá o seu maior desafio nesta quarta-feira no Mundial da Alemanha. Uma vitória sobre a China já deixará o time entre os quatro melhores do mundo, a mesma posição conquistada pela geração de Ana Moser, Fernanda, Leila e Virna, no Mundial do Japão, em 98.
Mas o próximo jogo não será nada fácil. A China, uma das favoritas ao título, tem sido a pedra no caminho das brasileiras.
No único confronto entre as duas seleções na segunda rodada do Mundial, o Brasil foi derrotado por 3 sets a 1.
Mas, fora das quadras, a rivalidade aumentou depois que a China armou um time com duas titulares e quatro reservas e perdeu de propósito para a Grécia na primeira fase. O resultado deixou a equipe no segundo lugar da chave e no grupo mais fácil na etapa seguinte, com Bulgária, Coréia do Sul e Porto Rico.
A atitude das chinesas revoltou as brasileiras, que acabaram ficando em primeiro lugar do grupo e tendo que enfrentar EUA, Alemanha e Holanda. O certo é que agora as duas seleções voltam a se encontrar depois de um resultado também um tanto estranho da China: uma derrota ontem para a Coréia por 3 a 0.
Se as chinesas tivessem vencido as coreanas, o que seria a lógica, enfrentariam a Itália, atual vice européia e medalha de prata na Volley Masters, antiga Copa BCV. E o Brasil teria nas quartas-de-final um jogo mais fácil pela frente com o time da Bulgária.
Com a derrota, a China parece que novamente escolheu adversário e também ajudou na classificação da Coréia do Sul, que disputava a última vaga para a próxima etapa com a Holanda.
O certo é que o Mundial da Alemanha levantou uma questão que merece reflexão: será que é ético perder de propósito um jogo para poder cair em uma chave mais fácil na fase seguinte?
O procedimento da China tem semelhanças com a armação da Ferrari no GP da Áustria. O líder da prova, Rubens Barrichello, seguiu a determinação do time e permitiu que Michael Schumacher o ultrapassasse na última volta, na reta de chegada. Tudo para garantir o título do companheiro Schumacher.
Pelo que parece, a temporada está marcando definitivamente o fim do pouco que restava de romantismo no esporte.
O princípio que é preciso entrar em uma disputa para ganhar, ir ao limite já não é uma conduta a ser sempre seguida.
Nesta nova ordem mundial, parece que vale mais a estratégia, e não a velha tese de ""quem deseja ser campeão não escolhe adversário". A comissão técnica chinesa, por exemplo, estudou a tabela e armou uma derrota para trilhar um caminho mais suave para a grande final.
Assim, passa a estar em jogo o conceito do que é ser campeão neste novo século. Aquele herói ou time heróico que consegue superar a todos e chegar ao degrau mais alto do pódio dá lugar ao que traça estratégias, foge dos adversários mais temidos e chega ao título com a honra questionada.
Como fica o torcedor nessa história? Dá para torcer por um time que perde de propósito? Dá para respeitar um campeão que aceita que seu companheiro de equipe perca a corrida para ajudá-lo? Dá para considerar um time como o melhor do mundo se ele evita o confronto com os grandes rivais?

Italiano
O Macerata, que terá o reforço do ponta Nalbert nesta temporada, inicia os treinos hoje para o Campeonato Italiano. A equipe está cheia estrelas. Além do brasileiro Nalbert, conta com mais cinco jogadores de seleção: Gravina, Mastrangelo e Corsano (da Itália); Geric e Miljkovic (da equipe da Iugoslávia). Para completar, o Macerata contratou o levantador Meoni, que era titular da seleção italiana até o ano passado. Os jogadores de seleção só vão se apresentar em outubro, depois que tiver acabado a disputa do Campeonato Mundial da Argentina.

Amistosos
A seleção brasileira masculina fará amistosos contra França e Japão antes do Mundial, que tem início no próximo dia 28. Os jogos deverão ser em São Bernardo ou Guarulhos entre os dias 20 e 24 deste mês. Também de olho no Mundial, a Argentina, do atacante Marcos Milinkovic, fará nesta semana três amistosos contra Cuba.
E-mail cidasan@uol.com.br



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