São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Os bailarinos da Vila

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Santos e Atlético-MG se enfrentam hoje na Vila Belmiro. As duas equipes estão entre as oito mais bem classificadas. O time dirigido pelo Leão está jogando um futebol alegre, ousado e envolvente. Os garotos tocam a bola com velocidade, para a frente e de forma bem organizada.
O Santos atua com uma linha de quatro defensores, dois volantes que não se limitam em defender, um armador ofensivo pelo meio (Diego), um meia-atacante de cada lado (Robinho e Elano) -avançando e defendendo- e um centroavante. Robinho é mais atacante, e Elano ajuda bastante na marcação. Os laterais participam também do ataque.
É o mesmo desenho tático da França e do Arsenal, time de Gilberto Silva e de vários jogadores franceses. Como os volantes do Santos, Gilberto Silva também avança. Daí ter feito alguns gols.
As qualidades dos meninos do Santos se completam. Renato desarma e tem um bom passe. Robinho é muito habilidoso e ousado, mas precisa finalizar melhor. Elano é disciplinado taticamente e movimenta-se muito. Diego é o mais técnico. Parece um veterano. Dribla, passa, finaliza bem e tem uma ampla visão de jogo.
O futebol bailarino que o Leão dissera que queria ver na seleção, quando assumira o cargo, é esse do Santos. O grande erro do técnico no comando do time brasileiro foi seguir a onda de torcedores revoltados e de parte da imprensa, de que o técnico deveria trocar os "medalhões estrangeiros", supostamente desinteressados, por jogadores jovens que atuavam no Brasil. Leão convocou vários jogadores medianos para a partida contra o Peru pelas eliminatórias. Na Copa das Confederações, teve poucas opções de escolha.
A solução para a seleção seria recuperar os craques, e não substituí-los. Foi o que o Felipão fez. Só assim o Brasil ganharia a Copa.
O Atlético-MG, adversário do Santos, está atuando melhor fora do que em casa. Não será surpresa uma vitória do Galo. Mancini, Marques e o jovem Paulinho são os destaques da equipe. Falta ao time um centroavante, pelo menos razoável. As seguidas expulsões também prejudicaram bastante a equipe.
O Atlético é o único dos oito melhores que joga sempre com três autênticos zagueiros. Na Europa, quase todas as principais equipes estão atuando também com uma linha de quatro defensores. O grande problema de jogar com três zagueiros é trocar um armador por um defensor. Frequentemente falta um jogador no meio-campo, onde se iniciam as jogadas, e sobra um zagueiro, sem função. O time fica com dez.
O sistema defensivo do Brasil atuou mal até o jogo contra a Bélgica, porque havia poucos jogadores no meio-campo, e não por causa do mau posicionamento e da deficiência individual dos zagueiros. A defesa melhorou com a entrada do Kleberson.
Os argumentos do Felipão para jogar com três zagueiros eram corretos. Roberto Carlos e Cafu são ótimos no ataque, mas o lateral-direito não sabe fazer a cobertura dos zagueiros. Na Roma, ele joga quase como um ponta.
Em qualquer esquema tático, é difícil fortalecer um setor sem enfraquecer outro. A busca do perfeito equilíbrio é uma utopia. No futebol e na vida.

Eficiência e mediocridade
O São Caetano, líder do Nacional, enfrenta hoje o Flamengo. Em outras épocas, o time carioca seria o favorito. Os tempos mudaram. O Flamengo teve uma péssima atuação contra o São Paulo. Os habilidosos meias e atacantes do time paulista tiveram facilidade pelo meio e deram um show, principalmente Kaká, o melhor atleta do futebol brasileiro.
Júlio César, Athirson, Iranildo, Alessandro e Zé Carlos fizeram falta. Iranildo tem muitos defeitos, está longe do jogador que parecia ser no início de sua carreira, mas não pode ficar na reserva. Mas nem tudo é problema na Gávea. O atacante Liédson está cada dia melhor. É uma grande promessa.
Com a troca do Jair Picerni pelo Mário Sérgio, o São Caetano mudou o estilo, mas conservou a eficiência. Agora, o esquema tático e os titulares mudam de acordo com o adversário.
Isso é bom. Para fazer tantas mudanças, o técnico precisa ser um ótimo estrategista, característica do Mário Sérgio. O São Caetano está contrariando o clichê do futebol de que um time para ser bom e ter conjunto precisa manter o esquema tático e os titulares. Trocar o mínimo possível. A repetição levaria à eficiência. Às vezes, leva também à mediocridade.

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