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DOPING
Pesquisa da entidade mostra que 15% dos suplementos alimentares estão contaminados por esteróides anabólicos
COI abre brecha para defesa de flagrados
ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A justificativa é praxe entre
competidores flagrados em exames antidoping. Assim que o resultado positivo é divulgado, o
discurso se repete: "Não tenho a
menor idéia de como essa substância veio parar no meu corpo".
Um estudo divulgado ontem
pelo Comitê Olímpico Internacional mostrou que, em muitos
casos, esses atletas podem ser inocentes e estar com a razão.
Elaborado por pesquisadores
alemães, o trabalho prova que suplementos alimentares disponíveis no mercado estão contaminados com substâncias proibidas.
"Muitos atletas famosos que
acabaram sendo punidos nos testes antidoping foram vítimas desses suplementos", contou Hans
Geyer durante o Congresso Olímpico de Esportes e Ciência, que está sendo realizado em Atenas.
Os cientistas da Universidade
de Colônia (Alemanha) analisaram vitaminas, aminoácidos e
minerais que esportistas consomem. Em tese, esses produtos não
conteriam drogas dopantes, mas
a pesquisa provou o contrário.
Das 634 marcas analisadas em
13 países, quase 15% apresentaram contaminação pelos esteróides anabólicos nandrolona e testosterona, dois dos mais comuns
em casos positivos. As substâncias aumentam a força muscular.
A Holanda é o país no qual a incidência foi maior. Lá, 25,8% dos
suplementos analisados apresentaram substâncias que seriam flagradas no antidoping. Áustria,
com 22,7%, e Reino Unido, com
18,9%, vêm na sequência.
Das substâncias analisadas no
estudo, 91% podem ser compradas em lojas ou pela internet, sem
necessidade de receita médica.
"Não acreditávamos que atletas
de renome pudessem tomar esse
tipo de substância. Eles fazem
controles antidoping o tempo todo. Percebemos que eles poderiam estar sendo vítimas dos laboratórios", declarou Geyer.
Nominalmente, o alemão citou
apenas os exemplos do inglês Linford Christie e da jamaicana naturalizada eslovena Merlene Ottey,
velocistas já detectados com esteróides. "Eles são possíveis vítimas", afirmou o cientista.
Caso semelhante ocorreu com
Sanderlei Parrela. Positivo para
nandrolona em 2000, o velocista
foi inocentado sob o argumento
de que se contaminara com um
suplemento comprado nos EUA.
Caso esse tipo de absolvição se
torne comum, virá abaixo a regra
básica do doping, chamada de
"strict liability", na qual o atleta é
responsável por tudo o que for
encontrado em seu organismo.
O Brasil não foi contemplado
pelo estudo do COI. Porém, segundo Eduardo de Rose, chefe
médico do Comitê Olímpico Brasileiro, esportistas do país podem
enfrentar problema semelhante.
"Nunca tivemos casos de contaminação com suplementos nacionais. Mas muitos brasileiros vivem ou têm contato com competidores no exterior", diz o médico.
A advertência de De Rose foca
principalmente os suplementos
produzidos nos EUA, já que a legislação local não obriga os laboratórios a descrever todos os ingredientes usados nos produtos.
"Você pode tomar uma vitamina que contém um esteróide e só
descobrir quando o antidoping
der positivo", conta o médico.
O estudo veio à tona justamente
em um período em que o próprio
COI e a Wada, a Agência Mundial
Antidoping, tentam aumentar o
rigor dos controles. As entidades
devem testar cerca de 4.000 atletas
até os Jogos de Atenas-2004.
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