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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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DOPING

Pesquisa da entidade mostra que 15% dos suplementos alimentares estão contaminados por esteróides anabólicos

COI abre brecha para defesa de flagrados

ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A justificativa é praxe entre competidores flagrados em exames antidoping. Assim que o resultado positivo é divulgado, o discurso se repete: "Não tenho a menor idéia de como essa substância veio parar no meu corpo".
Um estudo divulgado ontem pelo Comitê Olímpico Internacional mostrou que, em muitos casos, esses atletas podem ser inocentes e estar com a razão.
Elaborado por pesquisadores alemães, o trabalho prova que suplementos alimentares disponíveis no mercado estão contaminados com substâncias proibidas.
"Muitos atletas famosos que acabaram sendo punidos nos testes antidoping foram vítimas desses suplementos", contou Hans Geyer durante o Congresso Olímpico de Esportes e Ciência, que está sendo realizado em Atenas.
Os cientistas da Universidade de Colônia (Alemanha) analisaram vitaminas, aminoácidos e minerais que esportistas consomem. Em tese, esses produtos não conteriam drogas dopantes, mas a pesquisa provou o contrário.
Das 634 marcas analisadas em 13 países, quase 15% apresentaram contaminação pelos esteróides anabólicos nandrolona e testosterona, dois dos mais comuns em casos positivos. As substâncias aumentam a força muscular.
A Holanda é o país no qual a incidência foi maior. Lá, 25,8% dos suplementos analisados apresentaram substâncias que seriam flagradas no antidoping. Áustria, com 22,7%, e Reino Unido, com 18,9%, vêm na sequência.
Das substâncias analisadas no estudo, 91% podem ser compradas em lojas ou pela internet, sem necessidade de receita médica.
"Não acreditávamos que atletas de renome pudessem tomar esse tipo de substância. Eles fazem controles antidoping o tempo todo. Percebemos que eles poderiam estar sendo vítimas dos laboratórios", declarou Geyer.
Nominalmente, o alemão citou apenas os exemplos do inglês Linford Christie e da jamaicana naturalizada eslovena Merlene Ottey, velocistas já detectados com esteróides. "Eles são possíveis vítimas", afirmou o cientista.
Caso semelhante ocorreu com Sanderlei Parrela. Positivo para nandrolona em 2000, o velocista foi inocentado sob o argumento de que se contaminara com um suplemento comprado nos EUA.
Caso esse tipo de absolvição se torne comum, virá abaixo a regra básica do doping, chamada de "strict liability", na qual o atleta é responsável por tudo o que for encontrado em seu organismo.
O Brasil não foi contemplado pelo estudo do COI. Porém, segundo Eduardo de Rose, chefe médico do Comitê Olímpico Brasileiro, esportistas do país podem enfrentar problema semelhante.
"Nunca tivemos casos de contaminação com suplementos nacionais. Mas muitos brasileiros vivem ou têm contato com competidores no exterior", diz o médico.
A advertência de De Rose foca principalmente os suplementos produzidos nos EUA, já que a legislação local não obriga os laboratórios a descrever todos os ingredientes usados nos produtos.
"Você pode tomar uma vitamina que contém um esteróide e só descobrir quando o antidoping der positivo", conta o médico.
O estudo veio à tona justamente em um período em que o próprio COI e a Wada, a Agência Mundial Antidoping, tentam aumentar o rigor dos controles. As entidades devem testar cerca de 4.000 atletas até os Jogos de Atenas-2004.


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