São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Usado como instrumento político, futebol decola com atual presidente

"Revolução" de Chávez faz Venezuela crer até em Copa

DO ENVIADO A MARACAIBO

A tal Revolução Bolivariana de Hugo Chávez dividiu a Venezuela e não foi capaz de fazer o país sair da pobreza. No futebol, entretanto, a situação é bastante diferente.
Antigo patinho feio do esporte venezuelano, o futebol fez todo o seu processo de ascensão na era Chávez. Quando ele foi eleito, no final de 1998, o país era o 129º no ranking da Fifa e vinha de mais uma lanterna em eliminatórias.
Hoje aparece no 59º posto dessa lista e tem chances reais de conseguir uma vaga no Mundial da Alemanha. E tudo isso com o dedo de seu polêmico mandatário.
O futebol virou um instrumento da disputa política venezuelana e lucrou com isso. Tanto Chávez quanto a oposição investem e tentam faturar com o maior saco de pancadas da América do Sul.
O dinheiro vem dos dois lados. Uma das emissoras de TV que mais atacam o político comprou os direitos exclusivos de exibição dos jogos das eliminatórias. Com a boa performance da seleção, fez um clipe com imagens dos jogadores que embalou a campanha pela saída do presidente no plebiscito que decidiu pela permanência de Chávez.
Nos jogos do futebol local, muitas vezes aconteciam manifestações contra o governo.
O contra-ataque dos chavistas foi rápido. Em abril passado, o governo mandou que a PDVSA, a gigantesca estatal de petróleo do país, desse US$ 2 milhões para a federação de futebol construir centros de treinamento.
"A seleção tem todo o apoio do povo e do governo bolivariano da Venezuela", afirma Chávez, que pelo seu empenho recebeu uma condecoração da Conmebol, que fez questão de recebê-lo pessoalmente no Paraguai.
Os beneficiados pela onda do futebol local agradecem. "O futebol é conciliação. Conseguiu unir a Venezuela, e esta é a melhor mensagem que dá aos políticos, aos empresários e ao venezuelano comum", diz Richard Páez, o técnico da seleção "vinho tinto".
"A seleção é um movimento nacional. É como poder dizer ao país que podemos, que somos orgulhosos de sermos venezuelanos", diz Carlos Saúl Rodríguez, o psicólogo da seleção da Venezuela, que tem esse luxo e um avião privado e pintado com as cores do time para as viagens.
O presidente da federação venezuelana, Rafael Esquivel, é mais direto. "Com toda certeza digo que essa foi a administração que mais fez pelo futebol", diz.
Ex-jogador de beisebol, esporte que agora divide as atenções com o futebol, Chávez, cuja presença em Maracaibo para o jogo contra o Brasil não é certa, colocou o futebol na pauta de seu famoso "Alô Presidente", um programa de rádio onde passa horas fazendo propaganda de seu governo.
Ele entrevista jogadores, técnicos e faz comentários sobre a Venezuela e os rivais. No dia da final da Copa de 2002, elogiou o Brasil, seu forte aliado, e Ronaldo.
"A América Latina é mágica, assim como os gols de Ronaldo. O Brasil é o epicentro da América", disse Chávez, que recepcionou com honras de Estado uma seleção venezuelana sub-17 que terminou em quarto em um Sul-Americano. "Um feito histórico, que mudou a história do futebol venezuelano", disse, sem modéstia, o presidente. (PAULO COBOS)


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