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FUTEBOL
O direito à preguiça
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Sejamos preguiçosos em
tudo, exceto em amar e em
beber, exceto em sermos preguiçosos."
A frase do dramaturgo alemão
Gotthold Ephraim Lessing, usada
como epígrafe por Paul Lafargue
em seu "O Direito à Preguiça"
(1880), me veio à lembrança
quando li que Parreira chamou
de preguiçosos os astros do ataque da seleção brasileira.
A tese do socialista Lafargue,
político e escritor francês, era a de
que a burguesia, depois de "glorificar a carne e suas paixões" no
período em que lutava contra a
nobreza e o clero católico, passou
a sacralizar o trabalho para explorar melhor os assalariados.
Filho de um mulato e uma caribenha, Lafargue era genro de
Karl Marx, que, segundo consta,
teria lhe dado uma bronca a propósito de "O Direito à Preguiça":
"Ora, eu passo a vida quebrando
a cabeça e escrevendo sobre o valor do trabalho e você vem me falar de preguiça?".
Mas a idéia de Lafargue fazia
sentido -e nem era assim tão diferente das teses do sogro ilustre.
Segundo ele, a sociedade socialista deveria caminhar para uma
diminuição gradual da jornada
de trabalho, permitindo aos indivíduos o uso criativo e prazeroso
de um tempo livre cada vez
maior.
Mais de um século depois, a situação dos trabalhadores mudou
bastante. Com o desemprego sistemático produzido pela nova
economia global, ter um trabalho
hoje, por pior que ele seja, é considerado quase sempre um privilégio. O direito à preguiça só existe
para uma ínfima minoria de felizardos. Entre estes, é forçoso reconhecer, estão os "preguiçosos" de
Parreira: Ronaldo, Kaká e Ronaldinho.
Ora, os três estão na lista dos finalistas ao título de melhor futebolista do ano, divulgada nesta
semana pela Fifa.
Estão entre os mais famosos e
bem pagos esportistas do mundo.
Eles sabem que seu lugar na seleção não está ameaçado. E sabem também que hoje terão pela
frente uma equipe muito fraca,
que em 15 jogos contra o Brasil
perdeu simplesmente todos.
Querer que eles treinassem com
afinco no frio de Teresópolis, expondo suas canelas de ouro à sanha dos reservas sedentos de lugar no time, seria querer demais.
Cabe saber se logo mais, à noite,
no calor de Maracaibo, eles estarão com mais vontade de jogar e
mostrar serviço. Se estiverem, não
vai ser a falta de empenho num
coletivo de 50 minutos que atrapalhará seus planos. Se a preguiça
persistir, será o caso de Parreira
lançar mão de Alex, Luis Fabiano
e Adriano para conseguir os gols e
se impor como comandante.
Simples assim.
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
O Atlético-PR, líder do Brasileirão, foi dois times diversos anteontem em Caxias. No primeiro
tempo, soube se defender e usar
com perfeição sua melhor arma, o
contra-ataque. No segundo, encolheu-se em seu campo e facilitou a
bela reação do Juventude. Se souber aprender com os erros, será
difícil derrubá-lo do topo.
Em cima do muro
Vou meter meu bedelho na discussão levantada ontem aqui
por Mário Magalhães. No confronto Romário x Zico para saber quem foi o maior depois da
era Pelé, fico radicalmente... em
cima do muro. Não consigo ver
um dos dois como superior ao
outro. O que considero interessante é observar como os dois
começaram com estilos até certo ponto semelhantes, com arrancadas em direção ao gol e
um grande instinto finalizador,
e depois evoluíram em sentidos
opostos. Com o passar do tempo, Zico, mais sério e cerebral,
foi recuando para uma posição
de armador; já Romário, malandro e intuitivo, fixou-se cada
vez mais dentro da área, diminuindo sua mobilidade e apurando seu senso de colocação. É
pena que sejam desafetos. São
gênios, cada um ao seu jeito.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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