São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2004

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MOTOR

Por Tutatis!

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Choveu muito em Suzuka. E até o japonês mais otimista dizia que, a partir de hoje, a situação vai piorar. Piorar muito.
Mas a chuva de ontem não foi mais forte do que aquele temporal de Interlagos no ano passado.
Na pista paulistana, formou-se uma poça. Imagino que Schumacher, Button, Montoya, entre outros, nunca se esquecerão da água acumulada na Curva do Sol.
Suzuka, com chuva menos intensa, ficou alagada em diversos pontos. E a F-1 viu outro festival de rodadas nos primeiros treinos.
Massa foi parar na brita duas vezes e estampou o guard rail. Schumacher, Ralf, Baumgartner, Glock e Alonso viram o mundo girar e acho que também não vão se esquecer desta sexta tão cedo.
Suzuka, como Interlagos, também tem arquibancadas tubulares. E ontem os organizadores começaram a desmontar as estruturas, para evitar problemas mais graves com a passagem do temido número 22. Sim, é o 22º tufão a atingir o Japão só neste ano.
A definição do grid será no improviso, ninguém sabe como será a prova. Será que vai haver uma?
Mas ninguém sublevou-se. Na sala de imprensa de Suzuka, pior também que a de Interlagos, nenhum jornalista levantou a voz para meter o pau no circuito, na cidade, no país. Ninguém exigiu o fim do GP por causa dos problemas de drenagem. Ninguém deu risadinhas irônicas como que dizendo "esse lugar é uma piada".
Tufões acontecem no Japão, azar da F-1 ter marcado corrida nesta data. Pena que essa condescendência internacional não exista quando o GP é no Brasil (além de obra-prima da MPB, nossas "águas que fecham o verão" não são lá nenhuma novidade).
Escrevo isso porque em poucos dias a categoria chegará a São Paulo. E, por mais desastrosa que seja a experiência aquática do Japão, chegarão também as críticas de sempre: o asfalto ondulado (como o da Hungria), o caos do trânsito (melhor que o da China), a feiúra da metrópole (Manama, no Bahrein, não é menos feia).
Não se trata de patriotismo barato ou de ignorar os problemas de São Paulo. É vergonhoso saber que toda a F-1 percorre as marginais Tietê e Pinheiros para chegar a seus hotéis, escolhidos a dedo perto do circuito porque todos têm medo da violência. É chato concluir que o GP Brasil é sinônimo de turismo sexual para boa parte da categoria. É triste, do miolo da pista, constatar que o autódromo é cercado de favelas.
São Paulo e Interlagos, é claro, precisam melhorar. Mas não são piores do que um monte de lugares por aí que recebem corridas.
O fato é que a F-1 até hoje tem saudades do Rio de Janeiro. Daquele dos anos 70 e 80. Outro Rio.
Já antevendo outra conversa que surgirá nos próximos dias, não, a categoria não sairá de São Paulo. Pelos negócios de Ecclestone com o promotor, pelas obras em Jacarepaguá, pelo fato de ser o único GP sul-americano. Nem que, como temia Asterix, o céu caia sobre nossas cabeças.
Em Suzuka, o céu cairá. Mas a F-1 continuará no Japão, pelos ienes, pela Honda, pela Toyota, pelo mercado, que é quem manda nesse esporte. Por Tutatis!

Alerta 1
Que saia do papel o time russo com chassi italiano, dinheiro em paraíso fiscal e fábrica inglesa. A F-1 era mais divertida quando abrigava aventureiros como Onyx, Andrea Moda, Lambo... É ver para crer.

Alerta 2
Que os empolgados não achem que Nelsinho arrebentará na F-1 em 2005. A vaga para ele na Williams é de segundo piloto de testes, quase um cargo honorário, por ora. Pizzonia já renovou com o time.

Alerta 3
Que ninguém dê como certa a vitória da Williams no "Buttongate". Em Suzuka, o comentário no paddock é que a BAR vai ganhar essa disputa. E o paddock normalmente acerta.

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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