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MOTOR
Por Tutatis!
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Choveu muito em Suzuka. E
até o japonês mais otimista
dizia que, a partir de hoje, a situação vai piorar. Piorar muito.
Mas a chuva de ontem não foi
mais forte do que aquele temporal de Interlagos no ano passado.
Na pista paulistana, formou-se
uma poça. Imagino que Schumacher, Button, Montoya, entre outros, nunca se esquecerão da água
acumulada na Curva do Sol.
Suzuka, com chuva menos intensa, ficou alagada em diversos
pontos. E a F-1 viu outro festival
de rodadas nos primeiros treinos.
Massa foi parar na brita duas
vezes e estampou o guard rail.
Schumacher, Ralf, Baumgartner,
Glock e Alonso viram o mundo girar e acho que também não vão se
esquecer desta sexta tão cedo.
Suzuka, como Interlagos, também tem arquibancadas tubulares. E ontem os organizadores começaram a desmontar as estruturas, para evitar problemas mais
graves com a passagem do temido
número 22. Sim, é o 22º tufão a
atingir o Japão só neste ano.
A definição do grid será no improviso, ninguém sabe como será
a prova. Será que vai haver uma?
Mas ninguém sublevou-se. Na
sala de imprensa de Suzuka, pior
também que a de Interlagos, nenhum jornalista levantou a voz
para meter o pau no circuito, na
cidade, no país. Ninguém exigiu o
fim do GP por causa dos problemas de drenagem. Ninguém deu
risadinhas irônicas como que dizendo "esse lugar é uma piada".
Tufões acontecem no Japão,
azar da F-1 ter marcado corrida
nesta data. Pena que essa condescendência internacional não exista quando o GP é no Brasil (além
de obra-prima da MPB, nossas
"águas que fecham o verão" não
são lá nenhuma novidade).
Escrevo isso porque em poucos
dias a categoria chegará a São
Paulo. E, por mais desastrosa que
seja a experiência aquática do Japão, chegarão também as críticas
de sempre: o asfalto ondulado
(como o da Hungria), o caos do
trânsito (melhor que o da China),
a feiúra da metrópole (Manama,
no Bahrein, não é menos feia).
Não se trata de patriotismo barato ou de ignorar os problemas
de São Paulo. É vergonhoso saber
que toda a F-1 percorre as marginais Tietê e Pinheiros para chegar
a seus hotéis, escolhidos a dedo
perto do circuito porque todos
têm medo da violência. É chato
concluir que o GP Brasil é sinônimo de turismo sexual para boa
parte da categoria. É triste, do
miolo da pista, constatar que o
autódromo é cercado de favelas.
São Paulo e Interlagos, é claro,
precisam melhorar. Mas não são
piores do que um monte de lugares por aí que recebem corridas.
O fato é que a F-1 até hoje tem
saudades do Rio de Janeiro. Daquele dos anos 70 e 80. Outro Rio.
Já antevendo outra conversa
que surgirá nos próximos dias,
não, a categoria não sairá de São
Paulo. Pelos negócios de Ecclestone com o promotor, pelas obras
em Jacarepaguá, pelo fato de ser o
único GP sul-americano. Nem
que, como temia Asterix, o céu
caia sobre nossas cabeças.
Em Suzuka, o céu cairá. Mas a
F-1 continuará no Japão, pelos ienes, pela Honda, pela Toyota, pelo mercado, que é quem manda
nesse esporte. Por Tutatis!
Alerta 1
Que saia do papel o time russo com chassi italiano, dinheiro em paraíso fiscal e fábrica inglesa. A F-1 era mais divertida quando abrigava
aventureiros como Onyx, Andrea Moda, Lambo... É ver para crer.
Alerta 2
Que os empolgados não achem que Nelsinho arrebentará na F-1 em
2005. A vaga para ele na Williams é de segundo piloto de testes, quase
um cargo honorário, por ora. Pizzonia já renovou com o time.
Alerta 3
Que ninguém dê como certa a vitória da Williams no "Buttongate".
Em Suzuka, o comentário no paddock é que a BAR vai ganhar essa
disputa. E o paddock normalmente acerta.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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