São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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acabou?

No fim, Schumacher fica sem motor e esperança

Ferrari quebra a 16 voltas da bandeirada e deixa Alonso a só um ponto do título

Reação espetacular e sonho do octocampeonato viram fumaça em Suzuka, e piloto alemão será azarão em seu último GP de F-1, no Brasil

Fotos Andy Wong e Nikos Mitsoura/Associated Press
O espanhol Fernando Alonso não se contém no pódio de Suzuka


FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SUZUKA

Fernando Alonso não acreditou quando viu a fumaça no carro à sua frente. "No princípio, achei que fosse um Spyker. Vi uma mancha laranja, vermelha, e não imaginei que fosse uma Ferrari. Só me preocupei em evitar o óleo na pista, me concentrei no asfalto. Não me dei conta que era o Michael até o momento em que o passei."
Pois era Michael. O Schumacher. O heptacampeão mundial. O vencedor de cinco das sete etapas anteriores. O mito vivo do esporte. Era ele.
Era ele que parava a 16 voltas do fim do GP do Japão, vendo escapar a vitória, mas, principalmente, sentindo o octocampeonato se desintegrar.
A causa do problema, uma rara quebra de motor, algo que em sua carreira de 247 GPs só havia acontecido cinco vezes. A última, havia seis temporadas.
Em cinco segundos, entre o primeiro sinal de fumaça e a ultrapassagem, o 57º campeonato da F-1 e seus principais personagens se transformaram.
De vice-líder do Mundial, de piloto que chegou a Suzuka descontrolado pela possibilidade de perder o título por antecipação, Alonso tornou-se novamente o dono da situação.
Venceu a penúltima etapa da temporada, na última madrugada, e, com o abandono de Schumacher, abriu dez pontos de vantagem: 126 a 116. Se for oitavo colocado no GP Brasil, no dia 22, conquistará o título independentemente do resultado do alemão. Em suma, está a um ponto do bicampeonato.
De líder na tabela, de protagonista da reação mais sensacional dos últimos anos, de piloto confiante e tranqüilo às portas de mais uma conquista épica, Schumacher tornou-se um homem entre a desolação e o conformismo, um apagado espectro do sujeito que, uma semana antes, classificara a vitória na China de miraculosa.
Porque sabe que milagres não são freqüentes. Ele demorou sete corridas para descontar 25 pontos de Alonso. Agora, precisa descontar dez em uma.
Sua derrota e a maneira como tudo aconteceu carregam ainda uma ironia matemática.
Em Suzuka, a chance de o alemão conquistar o campeonato por antecipação era de 1,4%. Apenas um cenário entre os 73 possíveis lhe daria o título ontem. No Brasil, a chance de o alemão virar novamente a disputa é de 1,4%. Apenas um cenário entre os 73 possíveis evita o título do espanhol. O que era a possibilidade de um luxo tornou-se um fio de esperança.
Esperança que transbordava do empolgado Alonso do alto de seus 98,6% de chances de sair de Interlagos campeão. E que encerrou assim sua descrição do momento-chave do ano: "Fechei os punhos e disse à equipe: "Vamos para a vitória"."


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