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Lazaroni curte nova era Dunga e ataca rival
Técnico compara pupilo a Bernadinho e não perdoa "sujeira" dos argentinos
Treinador da Copa de 1990 apoia estilo do ex-volante, recomenda apoio, porém lamenta que ele não tenha feito a falta em Maradona
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sebastião Lazaroni, 59, eleito
neste ano o melhor técnico no
Qatar, vê Dunga seguir alguns
de seus passos. Teve a confiança de Ricardo Teixeira, ganhou
Copa América, dobrou críticos
e foi à Copa. Lá, encontrou Maradona, a quem critica como
técnico e por jogo sujo. E afirma que Dunga devia ter derrubado o argentino em 1990.
FOLHA - O que acha de Dunga, seu
pupilo em 1990, como técnico?
SEBASTIÃO LAZARONI - Ninguém
pode contestar Dunga no futebol. Poderíamos discordar é da
escolha em cima dos trabalhos
realizados, que deve ser a base
para chegar à seleção. Mas foi
decidido assim, e ele fez esse
curso intensivo de três anos.
Amadureceu, cresceu e pode
evoluir mais. Temos de apoiar.
FOLHA - Como vê o time?
LAZARONI - A forma de jogar está dinâmica, todos defendendo,
lutando, preocupados em estar
em forma. Tem que estar atento ao estado atlético na Copa.
Forma física é fundamental, senão vai tudo por água abaixo.
FOLHA - Pela liderança na sua seleção, Dunga já dava pinta de técnico?
LAZARONI - Sempre teve comportamento profissional. Aplicação, liderança, dedicação. E
jogava num setor que é o de organização, destruição, dínamo
e cérebro. Foi questionado,
mas a leitura tática dele é boa,
melhor que a do virtuoso, craque, que pensa só na inventiva.
FOLHA - Ele segue seus passos?
LAZARONI - O Dunga leva vantagem por ser mais aplicado, dedicado, e um grande exemplo
disso é o Bernardinho [técnico
de vôlei]. É uma bela comparação, comportamento, atitude...
Espero que ele atinja a carreira
tão vitoriosa do Bernardinho.
FOLHA - Deseja voltar à seleção?
LAZARONI - Todo treinador em
atividade tem que pensar no
máximo, que é a seleção.
FOLHA - Seria uma redenção?
LAZARONI - Não tem redenção,
não sou culpado de nada. Fiz
um trabalho que na parte final
não foi feliz. Ganhamos a Copa
América, classificamos e não
fomos campeões do mundo.
FOLHA - O que achou do rótulo de
"era Dunga" para o time de 1990?
LAZARONI - Era era Dunga, era
Taffarel, era Jorginho, era Ricardo Gomes, era Careca, era
Romário, era Bebeto... Não pode ser uma figura. A Copa [de
1970] não foi Pelé. Foi Pelé,
Jairzinho, Rivellino. Tostão...
FOLHA - Não é curioso que Dunga
dê a volta por cima como técnico e
Maradona esteja se afundando?
LAZARONI - Como jogadores,
Maradona e Dunga puderam
dar a volta por cima. Todo jogador tem a chance. O treinador
não tem esse direito, é difícil,
você não pode fazer o gol mais,
tem que tentar aparar as arestas na preparação do time. Depois, cabe aos atletas no campo.
FOLHA - E o técnico Maradona?
LAZARONI - O Maradona não é
treinador, é diferente. Pegou o
time num momento em que
não há saída. Ele pode se tornar
um treinador com o tempo. A
Argentina tem um bom elenco.
FOLHA - Foi um azar em 1990 encontrar a Argentina nas oitavas...
LAZARONI - Não sei se dopados
ou não. Usaram meios sujos. Só
foi comprovado. Deram com a
língua nos dentes, a "água batizada". O "Boa Noite Cinderela"
foi real. E será que foi só naquele jogo? Aquele grupo estava na
Copa anterior, foram campeões. Deram "água batizada"
[com sonífero, para Branco].
Com relação ao doping, é responsabilidade da Fifa.
FOLHA - Carlos Bilardo hoje está na
comissão técnica com Maradona...
LAZARONI - Ele era o comandante [em 90], acho que sabia,
não sei se o conhecimento de
medicina dele tenha influência
também no produto químico. É
tão responsável como Maradona [pela eliminação do Brasil].
FOLHA - Se Dunga fizesse a falta no
Maradona em 90, a vida seria outra?
LAZARONI - Quando escapa um
jogador, você tem como último
recurso a falta. Nunca pedi que
batesse, mas não pode ser ingênuo. Não precisava ser o Dunga. Podia ser o Alemão. Não
precisava sair o Ricardo Rocha,
quem tinha que sair [na jogada]
era o líbero, Mauro Galvão. Foi
um lance genial do Maradona.
Mas até hoje não me conformo
que não levam em consideração toda a sujeira naquele jogo.
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