São Paulo, sexta-feira, 09 de outubro de 2009

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Lazaroni curte nova era Dunga e ataca rival

Técnico compara pupilo a Bernadinho e não perdoa "sujeira" dos argentinos

Treinador da Copa de 1990 apoia estilo do ex-volante, recomenda apoio, porém lamenta que ele não tenha feito a falta em Maradona

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sebastião Lazaroni, 59, eleito neste ano o melhor técnico no Qatar, vê Dunga seguir alguns de seus passos. Teve a confiança de Ricardo Teixeira, ganhou Copa América, dobrou críticos e foi à Copa. Lá, encontrou Maradona, a quem critica como técnico e por jogo sujo. E afirma que Dunga devia ter derrubado o argentino em 1990.

 

FOLHA - O que acha de Dunga, seu pupilo em 1990, como técnico?
SEBASTIÃO LAZARONI -
Ninguém pode contestar Dunga no futebol. Poderíamos discordar é da escolha em cima dos trabalhos realizados, que deve ser a base para chegar à seleção. Mas foi decidido assim, e ele fez esse curso intensivo de três anos. Amadureceu, cresceu e pode evoluir mais. Temos de apoiar.

FOLHA - Como vê o time?
LAZARONI -
A forma de jogar está dinâmica, todos defendendo, lutando, preocupados em estar em forma. Tem que estar atento ao estado atlético na Copa. Forma física é fundamental, senão vai tudo por água abaixo.

FOLHA - Pela liderança na sua seleção, Dunga já dava pinta de técnico?
LAZARONI -
Sempre teve comportamento profissional. Aplicação, liderança, dedicação. E jogava num setor que é o de organização, destruição, dínamo e cérebro. Foi questionado, mas a leitura tática dele é boa, melhor que a do virtuoso, craque, que pensa só na inventiva.

FOLHA - Ele segue seus passos?
LAZARONI -
O Dunga leva vantagem por ser mais aplicado, dedicado, e um grande exemplo disso é o Bernardinho [técnico de vôlei]. É uma bela comparação, comportamento, atitude... Espero que ele atinja a carreira tão vitoriosa do Bernardinho.

FOLHA - Deseja voltar à seleção?
LAZARONI -
Todo treinador em atividade tem que pensar no máximo, que é a seleção.

FOLHA - Seria uma redenção?
LAZARONI -
Não tem redenção, não sou culpado de nada. Fiz um trabalho que na parte final não foi feliz. Ganhamos a Copa América, classificamos e não fomos campeões do mundo.

FOLHA - O que achou do rótulo de "era Dunga" para o time de 1990?
LAZARONI -
Era era Dunga, era Taffarel, era Jorginho, era Ricardo Gomes, era Careca, era Romário, era Bebeto... Não pode ser uma figura. A Copa [de 1970] não foi Pelé. Foi Pelé, Jairzinho, Rivellino. Tostão...

FOLHA - Não é curioso que Dunga dê a volta por cima como técnico e Maradona esteja se afundando?
LAZARONI -
Como jogadores, Maradona e Dunga puderam dar a volta por cima. Todo jogador tem a chance. O treinador não tem esse direito, é difícil, você não pode fazer o gol mais, tem que tentar aparar as arestas na preparação do time. Depois, cabe aos atletas no campo.

FOLHA - E o técnico Maradona?
LAZARONI -
O Maradona não é treinador, é diferente. Pegou o time num momento em que não há saída. Ele pode se tornar um treinador com o tempo. A Argentina tem um bom elenco.

FOLHA - Foi um azar em 1990 encontrar a Argentina nas oitavas...
LAZARONI -
Não sei se dopados ou não. Usaram meios sujos. Só foi comprovado. Deram com a língua nos dentes, a "água batizada". O "Boa Noite Cinderela" foi real. E será que foi só naquele jogo? Aquele grupo estava na Copa anterior, foram campeões. Deram "água batizada" [com sonífero, para Branco]. Com relação ao doping, é responsabilidade da Fifa.

FOLHA - Carlos Bilardo hoje está na comissão técnica com Maradona...
LAZARONI -
Ele era o comandante [em 90], acho que sabia, não sei se o conhecimento de medicina dele tenha influência também no produto químico. É tão responsável como Maradona [pela eliminação do Brasil].

FOLHA - Se Dunga fizesse a falta no Maradona em 90, a vida seria outra?
LAZARONI -
Quando escapa um jogador, você tem como último recurso a falta. Nunca pedi que batesse, mas não pode ser ingênuo. Não precisava ser o Dunga. Podia ser o Alemão. Não precisava sair o Ricardo Rocha, quem tinha que sair [na jogada] era o líbero, Mauro Galvão. Foi um lance genial do Maradona. Mas até hoje não me conformo que não levam em consideração toda a sujeira naquele jogo.


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