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Cama esconde troféu de Hitler
da Reportagem Local
A Copa do
Mundo volta em
1998 à França
após 60 anos. Da
primeira vez,
em 1938, a competição aconteceu na Europa
convulsionada das vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Quando o conflito começou, a
primeira preocupação da Fifa foi
proteger das pretensões de Adolf
Hitler, líder nazista da Alemanha,
de levar a Taça Fifa e a entidade
máxima do futebol para Berlim.
O então presidente da Fifa, Jules
Rimet, determinou a mudança de
Paris (a capital francesa logo seria
invadida por Hitler) para Zurique,
na Suíça, nação neutra no conflito.
A taça ficou nas mãos de Ottorino Barassi, vice-presidente da Fifa
e dirigente da federação da Itália,
país que havia sido o último campeão mundial, em 1938.
Num primeiro momento, Barassi pôs a taça em um cofre de banco,
mas, achando-o pouco seguro, levou para casa o troféu que seria definitivamente ganho pelo Brasil
em 1970 com o tricampeonato.
Então, ele guardou a taça em
uma caixa de sapato que escondia
embaixo de seu leito.
A fixação do governo nazista pelos esportes não resistiu aos fracassos do futebol germânico nas Copas de 1934, 1938 e na Olimpíada
de 1936 e acabou relegando a modalidade para um segundo plano.
Na Copa de 38, os alemães receberam o reforço dos jogadores da
Áustria, país recém-anexado, mas,
mesmo assim, saíram derrotados.
É justamente austríaco o caso
mais trágico da relação entre futebol e guerra. O atacante Mathias
Sindelar, considerado o melhor jogador austríaco de todos os tempos, se suicidou em 1939 desgostoso com a situação política do país.
Durante seu funeral, mais de 20
mil pessoas choraram e ventilaram
o rumor que Sindelar teria morrido em um campo de concentração.
Por seu lado, a Inglaterra, berço
do futebol moderno, sofreu para
manter o esporte. Pelo menos 75
jogadores britânicos morreram
em combate ou em decorrência de
ferimentos sofridos no front.
"Em geral, os jogadores eram
alistados como professores de
educação física, por causa de seu
bom preparo. Mas alguns foram
para o front", diz Jack Rollin, 62,
autor de "Soccer at War" ("Futebol na Guerra"), livro que consumiu dez anos de pesquisa.
Com falta de atletas e necessidade de divertir o povo, jogadores do
Arsenal jogavam pelo Tottenham
(dois rivais de Londres) e vice-versa para completar os times. "A
possibilidade de trocas salvou o
futebol inglês", afirma Rollin.
As duas equipes também chegaram a usar o mesmo estádio como
refúgio dos que sofriam com a
guerra. O do Arsenal foi usado como centro de defesa civil.
Outros foram destruídos por
bombas alemãs, como o Old Trafford, a sede do Manchester United, que só reabriu em 1948, três
anos após o fim da guerra.
Os soldados ingleses recrutavam
os prisioneiros de guerra para serem seus rivais em partidas. Já os
brasileiros, mais de 25 mil estiveram na Itália, costumavam disputar amistosos com equipes civis de
cidades como Alessandria (norte).
Alguns jogos tinham cobertura
de esquadrilhas de aviões, que não
podiam se aproximar dos estádios.
"Tínhamos de evitar qualquer
aproximação dos aviões alemães.
Mas o barulho de nossos bombardeiros poderia criar pânico no público, já que, de longe, poderiam
pensar que era um avião inimigo."
A frase é do aviador brasileiro
Alberto Martins Torres, 77, que
cumpriu essa missão na guerra.
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