São Paulo, Quinta-feira, 09 de Dezembro de 1999


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Espertos no bom sentido

SONINHA
Colunista da Folha

São milhares de testemunhas, dezenas de câmeras, mas, ainda assim, alguns bons momentos do futebol passam quase desapercebidos. Às vezes chegam a ser captados pela TV, mas como não são destacados, reeditados, repetidos várias vezes, desaparecem no meio das outras imagens. Eu gostaria de fazer o elogio a dois deles:
1) Terça-feira, Palmeiras x San Lorenzo, segundo tempo: Alex enfileira dois ou três argentinos com dribles desconcertantes (quem será que usou primeiro esse adjetivo para falar de um drible? É ótimo).
Antes de se livrar do último marcador e partir sozinho ao gol, um jogador voou para cima dele, e o meia acabou "ensanduichado" entre dois adversários, em um lance impetuoso, mas não (muito) violento. O que quase ninguém viu? O sorrisinho maroto do Alex , feliz porque sabia que só na porrada iriam pará-lo. Apanhou e foi obrigado a parar, mas sentiu-se superior. Safadeza (do tipo saudável) 1, troglodice 0. Uma vitória fugaz (às vezes a brutalidade tem melhores resultados), mas, como eu já disse, todas as vitórias o são.
2) Corinthians x São Paulo, domingo, um movimento do Edílson ajuda a explicar a diferença entre um jogador de talento e um "aplicado". Nas famosas projeções de vídeo que hoje em dia todos usam, essa imagem tem mais valor didático que mil gráficos e palavras.
Bola vindo pela esquerda, Edílson se prepara para receber na área, com pelo menos dois são-paulinos por perto. Sem perder a jogada de vista, sai andando de costas em direção ao centro do campo, de fininho, quase assobiando para disfarçar melhor. Se tivesse bolsos, poria as mãos dentro deles. Também poderia estar de terno branco e chapéu de palha, batucando em uma caixinha de fósforos. O perfeito malandro, sem a provocação boba de outras ocasiões. E sobrou sozinho, de frente para o alvo. Quem reparasse nele, fugindo dos marcadores sem chamar a atenção, poderia jurar que bola para ele naquele instante seria gol.
Foi gol.

Toda vez que um técnico anuncia que vai embora ao final do seu contrato, arma-se um barraco. Esse anúncio pode ser a manifestação pública de problemas.
Quando Scolari falou em sair do Palmeiras, no primeiro semestre, todos sabiam que ele estava irritado com a diretoria e não tinha mais esperanças de acabar com as divergências. Ou tinha e escolheu essa estratégia para pressionar, sabe-se lá. Ainda assim, não falou em abandonar o emprego, só em encerrar o trabalho na data previamente estabelecida.
No caso do Carpegiani, o que há de tão surpreendente no fato de querer sair do São Paulo no ano que vem? E por que ele não poderia estar tratando disso agora?
Rubinho Barrichello anunciou a ida para a Ferrari enquanto era da Stewart e ninguém se sentiu traído -Jackie Stewart não gostou da idéia, claro; deu seus conselhos, mas não exorcizou a negociação. Técnico de futebol sabe que tem uma profissão das mais instáveis; pode ser demitido várias vezes em um ano. Raros são os contratos que vão até o fim. Mas uma vez cumprido o acordo, ele que vá para onde quiser.
Quando se sabe antecipadamente que é um jogador que vai sair, a situação é mais complicada -há quem jure que o Serginho (ex-lateral do São Paulo) fugia das divididas com medo de se machucar antes da mudança para a Itália. É difícil dizer -negociado ou não, nenhum jogador quer se machucar em um momento decisivo. Se não souber nada do seu futuro, pode ser pior ainda.
Por outro lado, entendo a mágoa do clube. Imagine a situação oposta: a diretoria anuncia que já tem um novo técnico para a próxima temporada. Qual o treinador que não se sentiria desprestigiado, mesmo que já estivesse pensando em sair? O problema, na verdade, não é a decisão, é a maneira como ela é comunicada.
Se treinadores e diretores conversassem francamente, sem blefes e despistes, e anunciassem juntos os planos, a história seria bem diferente. Levir Culpi, se fosse confirmado no São Paulo, poderia estar mais próximo do time desde já. Pode-se alegar que isso talvez fizesse mal aos jogadores, que passariam a se preocupar com a sua permanência no clube em vez de se concentrar nos jogos decisivos.
O melhor que um jogador pode fazer para garantir o emprego é jogar bem. Não sei se isso pode ser ruim para um time na final...

Será lançada amanhã, na favela de Heliópolis, a pedra fundamental de uma quadra de esportes coberta, que está sendo construída ao lado de um centro comunitário, com o apoio de empresários espertos (no bom sentido) e de outros cidadãos inteligentes. Uêba!


Sonia Francine, a Soninha, escreve às quintas-feiras


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