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Espertos no bom sentido
SONINHA
Colunista da Folha
São milhares de testemunhas,
dezenas de câmeras, mas, ainda
assim, alguns bons momentos do
futebol passam quase desapercebidos. Às vezes chegam a ser captados pela TV, mas como não são
destacados, reeditados, repetidos
várias vezes, desaparecem no
meio das outras imagens. Eu gostaria de fazer o elogio a dois deles:
1) Terça-feira, Palmeiras x San
Lorenzo, segundo tempo: Alex enfileira dois ou três argentinos com
dribles desconcertantes (quem será que usou primeiro esse adjetivo
para falar de um drible? É ótimo).
Antes de se livrar do último
marcador e partir sozinho ao gol,
um jogador voou para cima dele,
e o meia acabou "ensanduichado" entre dois adversários, em um
lance impetuoso, mas não (muito) violento. O que quase ninguém viu? O sorrisinho maroto do
Alex , feliz porque sabia que só na
porrada iriam pará-lo. Apanhou
e foi obrigado a parar, mas sentiu-se superior. Safadeza (do tipo saudável) 1, troglodice 0. Uma vitória
fugaz (às vezes a brutalidade tem
melhores resultados), mas, como
eu já disse, todas as vitórias o são.
2) Corinthians x São Paulo, domingo, um movimento do Edílson
ajuda a explicar a diferença entre
um jogador de talento e um "aplicado". Nas famosas projeções de
vídeo que hoje em dia todos usam,
essa imagem tem mais valor didático que mil gráficos e palavras.
Bola vindo pela esquerda, Edílson se prepara para receber na
área, com pelo menos dois são-paulinos por perto. Sem perder a
jogada de vista, sai andando de
costas em direção ao centro do
campo, de fininho, quase assobiando para disfarçar melhor. Se
tivesse bolsos, poria as mãos dentro deles. Também poderia estar
de terno branco e chapéu de palha, batucando em uma caixinha
de fósforos. O perfeito malandro,
sem a provocação boba de outras
ocasiões. E sobrou sozinho, de
frente para o alvo. Quem reparasse nele, fugindo dos marcadores
sem chamar a atenção, poderia
jurar que bola para ele naquele
instante seria gol.
Foi gol.
Toda vez que um técnico anuncia que vai embora ao final do seu
contrato, arma-se um barraco.
Esse anúncio pode ser a manifestação pública de problemas.
Quando Scolari falou em sair do
Palmeiras, no primeiro semestre,
todos sabiam que ele estava irritado com a diretoria e não tinha
mais esperanças de acabar com as
divergências. Ou tinha e escolheu
essa estratégia para pressionar,
sabe-se lá. Ainda assim, não falou
em abandonar o emprego, só em
encerrar o trabalho na data previamente estabelecida.
No caso do Carpegiani, o que há
de tão surpreendente no fato de
querer sair do São Paulo no ano
que vem? E por que ele não poderia estar tratando disso agora?
Rubinho Barrichello anunciou
a ida para a Ferrari enquanto era
da Stewart e ninguém se sentiu
traído -Jackie Stewart não gostou da idéia, claro; deu seus conselhos, mas não exorcizou a negociação. Técnico de futebol sabe
que tem uma profissão das mais
instáveis; pode ser demitido várias vezes em um ano. Raros são
os contratos que vão até o fim.
Mas uma vez cumprido o acordo,
ele que vá para onde quiser.
Quando se sabe antecipadamente que é um jogador que vai
sair, a situação é mais complicada
-há quem jure que o Serginho
(ex-lateral do São Paulo) fugia
das divididas com medo de se machucar antes da mudança para a
Itália. É difícil dizer -negociado
ou não, nenhum jogador quer se
machucar em um momento decisivo. Se não souber nada do seu
futuro, pode ser pior ainda.
Por outro lado, entendo a mágoa do clube. Imagine a situação
oposta: a diretoria anuncia que já
tem um novo técnico para a próxima temporada. Qual o treinador que não se sentiria desprestigiado, mesmo que já estivesse
pensando em sair? O problema,
na verdade, não é a decisão, é a
maneira como ela é comunicada.
Se treinadores e diretores conversassem francamente, sem blefes e despistes, e anunciassem juntos os planos, a história seria bem
diferente. Levir Culpi, se fosse confirmado no São Paulo, poderia estar mais próximo do time desde
já. Pode-se alegar que isso talvez
fizesse mal aos jogadores, que passariam a se preocupar com a sua
permanência no clube em vez de
se concentrar nos jogos decisivos.
O melhor que um jogador pode
fazer para garantir o emprego é
jogar bem. Não sei se isso pode ser
ruim para um time na final...
Será lançada amanhã, na favela
de Heliópolis, a pedra fundamental de uma quadra de esportes coberta, que está sendo construída
ao lado de um centro comunitário, com o apoio de empresários
espertos (no bom sentido) e de outros cidadãos inteligentes. Uêba!
Sonia Francine, a Soninha, escreve às quintas-feiras
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