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AUTOMOBILISMO
Ex-professor de esqui e executivo de empresa japonesa, Craig Pollock, da BAR, espera vencer neste ano
"Intruso' quer mudar a imagem da F-1
FÁBIO SEIXAS
da Reportagem Local
A história da F-1 é repleta de
aventureiros. Empresários pretensiosos, grandes corporações e jovens pilotos surgem periodicamente prometendo sucesso e glória fulminantes na categoria.
Na era romântica do automobilismo, dos anos 50 aos 70, esse ímpeto até funcionava.
À medida que a F-1 apertou o
passo rumo à profissionalização,
porém, mais raros são os êxitos,
mais frequentes os fiascos.
Basicamente, são dois os motivos. Primeiro, todo o desenvolvimento tecnológico tornou a categoria cada vez mais cara. Segundo,
as equipes já estabelecidas oferecem resistência à entrada de novas
sócias no clube, o que significaria
repartir o bolo com um "intruso".
A lista de fracassos é extensa e inclui times como Andrea Moda, Eurobrun, Life, Monteverdi, Forti e
Lola, para ficar só na década de 90.
Na semana que passou, a F-1 começou a conhecer a mais nova pretendente a "intrusa" do clube das
grandes equipes.
A BAR (British American Racing) promoveu seu lançamento
oficial, adotando, como suas antecessoras, um discurso otimista.
Ao contrário dos casos mais recentes, porém, demonstra ter cacife para sustentá-lo.
A BAR é fruto da união de fortes
grupos. Garantiu o fornecimento dos motores
Supertec e é capitaneada por Craig
Pollock, um yuppie escocês de 42
anos, com uma trajetória curiosa.
Pollock formou-se em esportes e
biologia na Universidade de Glasgow, em 1977. No mesmo ano, começou a dar aulas de esqui.
Em 1982, lecionava na Suíça,
quando começou a se aproximar
de um de seus alunos, o canadense
Jacques Villeneuve, então um pré-adolescente de 11 anos.
Em 1986, foi contratado pela
multinacional japonesa Interhoba
e iniciou seu contato com a F-1. Ali,
tornou-se consultor da Honda, representante europeu do autódromo de Suzuka e negociador dos direitos de TV para a categoria.
Em 1993, mais uma vez sua vida
cruzou com a de Villeneuve, então
na F-3 japonesa. Pollock deixou a
Interhoba e tornou-se empresário
do canadense.
A gênese da BAR é seu passo
mais importante. Dono de idéias
ambiciosas, como a de pintar seus
carros com patrocinadores diferentes, encontra resistência de setores mais conservadores da F-1.
De seu escritório, em Brackley,
Inglaterra, Pollock falou à Folha
sobre seus planos, suas expectativas e sua dupla de pilotos: Villeneuve e o brasileiro Ricardo Zonta.
Folha - Como vem sendo seu relacionamento com outros chefes
de equipe?
Craig Pollock - Está ficando mais
forte à medida que o tempo passa.
No início, talvez minha relação
com eles fosse muito recente para
que me convidassem para o clube.
Agora, eles perceberam que nosso
projeto é positivo e vêm mostrando mais respeito.
Folha - Você chegou a sentir algum tipo de aversão a suas novas
idéias para a F-1?
Pollock - No início, sim. Mas é
surpreendente como certos donos
de equipe são abertos a ouvir
idéias de outros donos de equipe,
que querem melhorar o esporte.
Folha - Você já atuou na Indy.
Quais são as diferenças nesse relacionamento entre equipes?
Pollock - As diferenças são enormes. A F-1 é um esporte global de
participação restrita, enquanto a
Indy é uma amigável categoria
norte-americana.
Isso basicamente quer dizer que,
na F-1, é um pouco mais difícil estabelecer relações confiáveis com
outras equipes ou pessoas.
Folha - Você já recebeu alguma
resposta da FIA (entidade máxima
do automobilismo) sobre sua intenção de usar dois carros com patrocinadores diferentes?
Pollock - A situação é a seguinte:
nós não pedimos à FIA para correr
com dois carros diferentes. O que
fizemos foi questionar a FIA sobre
os direitos comerciais dos times da
F-1, especificamente a pintura das
carenagens. O que posso dizer é
que só queremos estar certos dos
limites comerciais para o futuro.
Folha - Mas será possível correr
com carros diferentes neste ano?
Pollock - Vamos ter de esperar
para ver...
Folha - Sobre Ricardo Zonta...
Pollock - Quem é esse? (risos)
Folha - Como vocês chegaram ao
nome dele e como foram as negociações para contratá-lo?
Pollock - As negociações com seu
empresário, o senhor Geraldo Rodrigues, foram muito diretas e corretas, como eu esperava.
Há duas razões pelas quais escolhemos Ricardo Zonta em vez de
outro piloto mais experiente. Obviamente, há poucos pilotos experientes, e existe muita diferença de
nível entre eles.
Mas a principal razão é que nossa
primeira opção foi Jacques, e o que
queríamos agora era um piloto jovem, agressivo. Foi pensando nisso que começamos a pesquisar e
chegamos ao nome Ricardo Zonta.
Ele tem tudo para ser um piloto de
ponta no futuro. Com uma pequena ajuda do Jacques, acreditamos
que ele pode chegar lá.
Folha - Por razões óbvias, no Brasil pouca gente acredita que Jacques Villeneuve e Ricardo Zonta
terão tratamentos e carros iguais
dentro da equipe. Como vocês vão
controlar isso?
Pollock - As mesmas condições,
os mesmos equipamentos... Deixamos claro para Ricardo que não
haverá um primeiro piloto na
equipe. Será como o esquema da
Williams, não como o da McLaren
ou o da Ferrari.
O que temos que fazer, na prática, é ter certeza de que poderemos
parar os dois carros nos pits com a
mesma eficiência. No início, nos
primeiros dias, acho que só o Jacques vai testar, porque só teremos
um carro. Ele é mais experiente,
tem mais condições de passar informações para os engenheiros e
depois poderá ajudar o Ricardo.
Folha - A história recente da F-1
mostra que não é fácil comandar
uma equipe nova na categoria,
mesmo quando um grupo compra
uma estrutura já existente. Foi o
caso da Arrows e, agora, é seu caso, adquirindo a Tyrrell. Realisticamente falando, que times você espera que serão seus rivais em 99?
Pollock - Os rivais no próximo
ano serão McLaren, Ferrari e acho
que Jordan estará lá também.
Folha - Mas falando sobre seus rivais diretos?
Pollock - Estou dizendo que essas
equipes serão nossas rivais diretas.
Acho que a Williams provavelmente vai descer ladeira abaixo. E
acredito que nós estaremos entre
as quatro melhores.
Folha - Vocês pensam em vencer
corridas no primeiro ano?
Pollock - Não estamos só pensando em vencer corridas. Nosso objetivo real é vencer corridas, e todo
mundo na empresa acredita que
teremos um pacote técnico e de
pessoal capaz disso. Para isso, temos que tentar ser consistentes,
competitivos ao longo de toda essa
nossa primeira temporada.
Folha - Como você define sua
participação no Mundial no próximo ano?
Pollock - Vai ser um ano de muito
aprendizado para mim. Terei de
concentrar meus atos na direção
da equipe. E eu tenho convicção de
que nós podemos criar uma nova
maneira de as pessoas olharem para a F-1. Uma nova imagem para a
categoria.
Folha - No início de 98, o senhor
Max Mosley (presidente da FIA)
concedeu uma entrevista à Folha e
disse que não via o caso de vocês,
um grupo de cigarros comprando
uma equipe, como uma tendência
da F-1 para escapar das restrições
à publicidade tabagista. Qual é sua
opinião?
Pollock - Concordo com ele. Não
se trata de um fenômeno exclusivo
da área de cigarros, para escapar
dessas restrições.
É, sim, algo que acontecerá cada
vez mais, envolvendo grandes patrocinadores. No futuro, veremos
grandes empresas estabelecendo
contratos longos, de cinco, dez
anos, com as equipes.
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