São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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Jogador lavava pratos um ano antes do Mundial

da Reportagem Local

O haitiano Joseph "Joe" Gaetjens precisou de apenas um ano nos EUA para garantir lugar na seleção nacional que disputaria a Copa de 1950, no Brasil.
Nascido em 1924, em Porto Príncipe, capital do Haiti, Joe começou a jogar futebol na escola e formou uma equipe, Vandals (Vândalos, em português), que mais tarde mudou o nome para Étoile Haitienne (Estrela Haitiana) e disputa torneios locais até hoje.
Aos 16 anos, Joe foi convocado para a seleção nacional. Ele jogou no Étoile Haitienne mais oito anos, até os 24, quando foi morar em Nova York (EUA).
Estudante de Economia da Universidade de Columbia, jogava em um time do bairro de Brooklyn e à noite, para pagar os estudos, lavava pratos em um restaurante de propriedade de um alemão, fanático por futebol.
O pai de Joe era, também, alemão. A mãe, haitiana.
Uma noite, em uma das reuniões que o dono do restaurante promovia com os amigos para discutir futebol, falou que sabia jogar. O dono do restaurante conseguiu-lhe um teste em uma equipe local, e, um ano depois, em 1949, Joe já integrava a seleção norte-americana.
Sobre a Copa de 50, disputada no Brasil, quando marcou o gol mais inusitado da história dos Mundiais, pouco falava.
"Ele nunca falava sobre si próprio e costumava creditar méritos sempre aos outros", afirma o irmão Jean Pierre.
Quando o capitão da seleção americana foi felicitá-lo após marcar o gol, Joe respondeu: "Você deve congratular Walther (autor do cruzamento). Tudo o que eu fiz foi me atirar na bola."
Após o jogo, disputado no estádio Independência, em Belo Horizonte (MG), o jogador foi carregado pela torcida mineira.

Retorno
Após a Copa de 50, ele foi jogar no Racing Club, de Paris, e depois passou por alguns clubes franceses da segunda divisão.
"Eu devo admitir que ele não era um exemplo de pessoa disciplinada", afirma Jean Pierre.
Após quatro anos, voltou para o Haiti, onde foi jogar no time que fundou. Quando parou de jogar, cerca de quatro anos depois, passou a treinador do time, cargo que ocupou até ser preso e desaparecer, segundo testemunhas, em julho de 64. (LCP)




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