São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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BASQUETE

Flauta doce

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

A coluna devia levantar a bola do All-Star Game, a partida que reunirá neste domingo os 24 melhores jogadores da NBA. Mas, admito, faltou inspiração. Como, ora pipocas, faltou inspiração ao público, que elegeu exatamente os mesmos dez titulares da festa de 2003. Ou aos técnicos, que alijaram do banco de reservas o teen-sensação LeBron James -ao lado de Kobe Bryant, que concilia o campeonato com um julgamento por estupro, o personagem jornalístico do ano.
Por isso você não lerá sobre os astros que desfilarão com pompa e circunstância em Los Angeles.
Para a armação, prefiro destacar Matt Maloney (Houston) e Michael Dickerson (Memphis). O primeiro, 32 anos, não ficou famoso nem pela velocidade nem pela habilidade. É o chamado "spot-up shooter" -livra-se logo da bola e fica na sobra, à espera da chance de atirar à cesta. Já ao segundo, 28, um ginásio só não parece suficiente, tamanha a sanha de pontuar -e, com ela, a de arruinar o esquema de seu time.
Nas alas, escalo Chris Mills (Boston) e Travis Knight (New York), dois jogadores táticos. Este, 29, embora tenha estatura de pivô, gosta de operar no perímetro e até arrisca tiros de três. Pena que lhe falte um mínimo de coordenação motora para confirmar a vocação. Aquele, 34, propõe-se a fazer de tudo um pouco em quadra. Pena que faça tão pouco de tudo.
Para a posição de pivô, uma opção seria apelar aos carimbados Shawn Kemp (Portland) e Todd McCulloch (Philadelphia). Mas, solidário, opto por improvisar Jason Caffey, 30, ou Anthony Mason, 37. Alas de força do Milwaukee, são conhecidos brigadores sob a tabela. Um briga com a bola; o outro, com adversários, colegas, técnicos, torcedores...
Maloney, Dickerson, Mills, Knight e Caffey (Mason), sem falar em Kemp e McCulloch.
Quê? Que raios de seleção é essa? Você não conhece nenhum deles? Não viu nenhum em ação, seja na ESPN International ou na Rede TV? Não achou as estatísticas ou os dados pessoais deles no site da liga norte-americana?
Pois eu insisto. Estão lá, todos eles, elencados por suas equipes, com contrato garantidinho.
Maloney tem mais de US$ 6 milhões a receber do Houston até 2005. Aguardam o bolso de Dickerson US$ 37,5 milhões. Mills embolsará quase US$ 7 milhões neste ano; Knight, pouco menos de US$ 4,5 milhões; Caffey & Mason, pouco mais de US$ 8 milhões. A Kemp devem US$ 15 milhões; a McCulloch, US$ 20 milhões.
Ainda que Maloney não pinte no Texas desde 1999. Que Dickerson, vítima de contusões, quase nem tenha vestido a camiseta do Memphis. Que Caffey, Mason e Knight tenham sucumbido ao desinteresse dos treinadores, e Kemp, obeso, ao próprio desinteresse pelo jogo. Que McCulloch tenha ficado doente. E que Mills tenha assinado duas vezes com o Boston e jogado nenhuma vez.
Na NBA, há os que suam para aparecer. E há os que ficam milionários sem pisar a quadra. Decerto estes não participarão do fim de semana das estrelas. Mas alguém ousará dizer que não são também verdadeiros craques?

All-Star 1
Inconformadas com seus erros de avaliação, que geram os jogadores milionários fantasmas, as equipes da NBA se encontram neste estrelado fim de semana para debater mudanças no contrato coletivo de trabalho. O objetivo é derrubar todas as garantias dos contratos.

All-Star 2
Rede TV! e ESPN ainda negociam quem exibirá o Jogo das Estrelas (domingo) e o desafio Calouros x Segundoanistas (sexta).

All-Star 3
O "USA Today" cruzou estatísticas (pontos, rebotes etc) e salários dos quase 450 atletas inscritos na NBA. Das 24 "pechinchas" da temporada, só uma estará no All-Star Game: Andrei Kirilenko (Utah).

E-mail melk@uol.com.br


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