São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

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FUTEBOL

font size=5>A palavra do presidente

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

O mais revelador na extensa matéria de capa da "Caros Amigos" sobre a parceria Corinthians-MSI não é a reconstituição da trajetória de Kia Joorabchian -do trabalho na revendedora de automóveis do pai à administração do misterioso fundo de investimentos, passando por acusações de fraude e desvio de milhões de dólares e outros acidentes de percurso. Tudo isso é muito interessante, muito instigante, mas pode ser desmentido, quer seja mentira ou não... Afinal, o personagem principal dessa história faz questão de manter pesado segredo sobre quase tudo (apesar de se deixar ficar em singular evidência) e nega a maior parte do que é dito a seu respeito.
(Aliás, é uma loucura que um negócio desse vulto tenha uma única pessoa física em destaque, sobre quem se sabe tão pouco.)
Mas, como dizia, o mais revelador na matéria não vem da pesquisa exaustiva; surge na entrevista com Alberto Dualib, presidente do Corinthians. Em algumas respostas singelas, ele expõe sua "filosofia" e ajuda a desenhar o perfil do cartola brasileiro. De alguém que se jacta da própria grandeza, mas administra um clube como se fosse uma... fazendinha ("O patrimônio do Corinthians é R$ 1 bilhão. Só de terra [!] dá uns R$ 700 milhões").
Dualib promete: "Com o dinheiro que sobrar da parceria, vamos construir lá [na Ayrton Senna] o centro de treinamento mais moderno do Brasil". Lá, onde uma placa gigante anuncia, há anos, a construção de um centro olímpico como se já estivesse em andamento. Dualib se deslumbra: Badri é "uma pessoa abastada, de muitos recursos. (...) E esse homem tem TV, tem tudo lá. Tem alumínio, um magnata, viu?". Em outro momento, derreteu-se com seus anfitriões na Europa: "O pessoal é podre de rico. O Corinthians, realmente, só tem a ganhar com a parceria". Curiosa essa exaltação à riqueza, ao luxo, ao poder como sinais inquestionáveis de valor e confiabilidade... O culto ao dinheiro como o melhor que uma pessoa pode ter. O elogio a Kia confirma: "Ele é um homem de futebol. Já investiu R$ 98 milhões com dois jogadores".
Dualib não se preocupa com a chance de Kia ter traído e desfalcado um ex-amigo: "Nunca soube disso". E, se soubesse, o que faria? Nada. "É problema dele, não é problema meu." Não abalaria a parceria? "De jeito nenhum. Isso é coisa que diz respeito a ele em outro país. Ele me garantiu que não existe nada." O presidente confia no mote "la garantia soy yo".
Enfim, o presidente acredita. "Briga não vai existir. Se eles montam um time forte, ganhando títulos, pagando o passivo, as despesas do futebol, quem é que vai brigar com um parceiro desse? Só se não for inteligente." Não seria inteligente questionar a intenção de quem "divide o lucro e banca o prejuízo", como ele diz?
É muito desprendimento por parte de quem gere um patrimônio de "R$ 1 bilhão". Para não se queixar da desconfiança de conselheiros, jornalistas e alguns torcedores, o presidente deveria desconfiar mais. Muito mais.

Bonito
Após mostrar o gol de Hong Kong que fechou o placar em 7 x 1, Marcos Uchôa concluiu sua reportagem sobre o jogo de ontem com um comentário genial: "Carnaval para eles... E feliz Ano-Novo para a seleção" (invertendo e brincando com as datas festivas de lá e cá). Um jogo como esse prova muito pouco, mas ao menos o Brasil fez o caminhão de gols que se espera do campeão do mundo quando encara "ninguém".

Feio
A Globo anuncia o futebol de quarta-feira para "depois do "Big Brother"", assumindo (por que não?) que a partida começa quando a grade permitir. E quem não acompanha o programa (como eu) que deduza o horário.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br

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