|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Multas da Receita afundam olímpicos órfãos de bingos
Dívidas de entidades esportivas chegam a R$ 200 milhões,
provocam chiadeira de dirigentes e fazem ministério agir
Vela e canoagem são as
principais devedoras entre
as modalidades que irão a
Pequim e dizem não ter
verba para quitar o débito
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal resolveu
atuar com rigor contra as entidades esportivas que tiveram
parceria com bingos. Muitos
órgãos passaram por fiscalização nos últimos meses. Alguns
de forma periódica. Multas milionárias foram emitidas.
Os valores ainda serão julgados na esfera administrativa da
Receita, o que já impede confederações como as de canoagem
e vela de elaborarem projetos
para buscar verba via lei de incentivo fiscal ao esporte.
Se condenadas, as entidades
também terão suspensas a liberação de recursos da Lei Piva,
que destina parte da arrecadação das loterias aos esportes
olímpico e paraolímpico.
"Hoje não temos patrocínio
nenhum. E nem receita vinda
de bingos. Só temos Lei Piva.
No ano passado foi complicado
atender às exigências dos nossos atletas", afirma Carlos Luiz
Martins, interventor que preside a Confederação Brasileira de
Vela e Motor há um ano.
A vela sofreu dez fiscalizações da Receita Federal em 15
meses. As multas somadas chegam a R$ 107.090.102,89.
"Se esses valores forem cobrados, acarretariam a dissolução da entidade", decreta Paulo
Morais, advogado da CBVM.
De acordo com ele, a interpretação da Receita é que, por
ter mantido parceria com bingo, a confederação teria que ser
tratada como empresa privada
e não como entidade sem fins
lucrativos. Assim, seria obrigada a pagar imposto de renda de
pessoa jurídica, PIS, Cofins e
CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
A vela manteve acordo com o
Bingo Augusta por pouco mais
de dez anos, até 2007. No período, segundo dirigentes, recebeu
menos de R$ 5 milhões.
Na canoagem, há pendências
que atingem quase R$ 4 milhões. "É impagável. Tivemos
parceria com bingo por seis
anos. E ganhamos uns R$ 5,6
milhões", calcula João Tomasini, presidente da Confederação
Brasileira de Canoagem.
As multas do fisco também
atingiram federações estaduais
de outras 12 modalidades olímpicas, entre as quais atletismo,
boxe, hipismo, lutas, triatlo e
vôlei. Todas tiveram relações
com bingos, fechados no país
por falta de regulamentação.
Diante do problema, os cartolas apresentaram demanda
ao Ministério do Esporte. Até o
final de 2007, segundo a Folha
apurou, as dívidas do esporte
superavam R$ 200 milhões.
No fim de novembro houve
reunião, em Brasília, entre os
dirigentes e o ministério, que
decidiu criar um grupo de trabalho para estudar o assunto.
"A comissão é formada por
dois representantes do ministério e três do Comitê Olímpico
Brasileiro", diz Alexandre Costa, chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Esporte Alto
Rendimento, vinculada à pasta.
Nesse aspecto, ao menos, o
discurso entre ministério e
COB não está afinado. O comitê nega a existência do grupo.
"O COB não formou qualquer comissão para tratar deste assunto relativo à Receita
Federal. Até porque o assunto
diz respeito diretamente a cada
entidade, que são independentes, sem a figura do COB", informou a entidade, através de
sua assessoria de imprensa.
O fisco também não comenta
o tema. "Infelizmente não temos essas informações pormenorizadas", divulgou a Receita,
ao ser questionada sobre entidades esportivas que haviam
sido fiscalizadas e multadas.
Diante da insistência da reportagem, o órgão do governo
federal alegou que não poderia
responder à pergunta. "A Receita não repassa nenhuma informação específica de contribuinte, devido ao sigilo fiscal."
Texto Anterior: Espanhol: Líder, Real Madrid joga em casa Próximo Texto: Vela afirma ter problemas para Pequim-2008 Índice
|