São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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FUTEBOL

Curinga, mas nem tanto

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Todos os cinco times brasileiros jogam neste meio de semana pela Taça Libertadores. Só o Coritiba está em má situação. O São Caetano não tem craques, como Cruzeiro, Santos e São Paulo, mas tem bons titulares e reservas em todas as posições.
O Cruzeiro, com dois meias (Alex e Rivaldo) e um centroavante, estava muito lento e com excesso de jogadas curtas pelo meio. O time voltou a jogar bem, com Alex próximo dos dois atacantes. Jussiê é rápido e habilidoso, e Guilherme, artilheiro.
Na semana passada, o Santos fez uma ótima partida em Guayaquil, no Equador. Não havia o problema da altitude para atrapalhar. O time foi mais equilibrado, bom na defesa e no ataque. Em casa, o Santos pressiona com oito atletas e deixa espaços na defesa para o contra-ataque.
Neste ano, Robinho passou a jogar como um segundo atacante, pelo meio, onde faz mais gols. Ele está brilhando, mas o time era mais bem distribuído em campo quando Robinho atuava pela esquerda e fazia dupla com o Léo.
O São Paulo perdeu por 3 a 0 em Quito. Além do problema da altitude, que muitos jornalistas insistem em não valorizar, Cuca não usou bem a cuca ao escalar o Gustavo Nery de, praticamente, um terceiro zagueiro. Por causa do rótulo de curinga, os técnicos adoram colocar o Gustavo Nery em outras posições.
Devido a sua velocidade, aguerrimento e chute forte, Gustavo Nery deveria atuar mais no campo do rival, de meia-esquerda no esquema 4-4-2 ou de ala no com três zagueiros. São duas funções idênticas.
No Equador, os alas do São Paulo marcavam na frente e os três zagueiros se juntavam no meio da área. Havia um grande espaço nas laterais, que a LDU aproveitou muito bem. Essa situação se repete com freqüência com as equipes que jogam com três zagueiros.
Os técnicos brasileiros gostam de mudar o esquema tático e escalar três zagueiros quando os seus times jogam fora contra boas equipes. Raramente dá certo. Esse esquema é bom para se jogar no ataque, pressionando na saída de bola. É uma tática de risco para ser usada em momentos especiais. Ficam sete no ataque e três zagueiros atrás, sendo um na sobra.
Apesar da derrota por 3 a 0 e da falta de um grande jogador no meio-campo, o São Paulo tem um time competitivo, organizado, com chances de ganhar a Libertadores, desde que o Cuca não escale o Gustavo Nery de zagueiro.

Dois Toques
Algumas situações me incomodam, como ser injusto (mesmo sem ter a intenção) e fazer coisas apenas por conveniência social e profissional. Cobro esse comportamento dos outros e me esforço para fazer o mesmo. Nem sempre consigo.
Fui injusto, exagerei, ao dizer que o Júnior e o Falcão, extraordinários atletas, não chegavam perto do Rivellino e do Gerson. Quis salientar as virtudes do Gerson e Rivellino, demonstrar indignação com as ausências dos dois e mais a do Nilton Santos na lista inicial do Pelé, e não diminuir as qualidades do Júnior e do Falcão.
Gerson e Rivellino foram um pouco superiores ao Júnior e ao Falcão, mas respeito as opiniões diferentes. Atuei ao lado do Rivellino e do Gerson e ficava fascinado com as suas qualidades técnicas. Talvez seja por isso a minha maior admiração.
Gerson foi o mais organizador e o armador com mais ampla visão do conjunto que vi atuar. Era um técnico em campo. Jogava como se estivesse na arquibancada, observando detalhes técnicos e táticos. Na primeira vez em que atuei ao lado do Gerson, ele me disse no intervalo do jogo: "Se você jogar com dois toques em vez de um [no campo, eu gostava também da concisão], vai dar tempo para eu chegar ao ataque". Depois disso, tudo ficou mais fácil.

Talento e paixão
Se um atacante for veloz, ele incomoda os zagueiros. Se for veloz e habilidoso, será um bom atacante. Se for veloz, habilidoso e bom finalizador, será excelente, como o Vágner do Palmeiras. Se o atacante tiver também um bom e surpreendente passe, será excepcional. Se, além de tudo isso, for inventivo, será um craque. Não sei ainda se o Vágner tem ou terá essas duas últimas qualidades.
Se o atacante com todo esse talento for persistente, ambicioso e perfeccionista, será craque por toda a carreira. Mas todas essas virtudes não serão suficientes se ele não tiver paixão pelo que faz.

E-mail
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