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FUTEBOL
Curinga, mas nem tanto
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Todos os cinco times brasileiros jogam neste meio de semana pela Taça Libertadores. Só
o Coritiba está em má situação. O
São Caetano não tem craques, como Cruzeiro, Santos e São Paulo,
mas tem bons titulares e reservas
em todas as posições.
O Cruzeiro, com dois meias
(Alex e Rivaldo) e um centroavante, estava muito lento e com
excesso de jogadas curtas pelo
meio. O time voltou a jogar bem,
com Alex próximo dos dois atacantes. Jussiê é rápido e habilidoso, e Guilherme, artilheiro.
Na semana passada, o Santos
fez uma ótima partida em Guayaquil, no Equador. Não havia o
problema da altitude para atrapalhar. O time foi mais equilibrado, bom na defesa e no ataque.
Em casa, o Santos pressiona com
oito atletas e deixa espaços na defesa para o contra-ataque.
Neste ano, Robinho passou a jogar como um segundo atacante,
pelo meio, onde faz mais gols. Ele
está brilhando, mas o time era
mais bem distribuído em campo
quando Robinho atuava pela esquerda e fazia dupla com o Léo.
O São Paulo perdeu por 3 a 0 em
Quito. Além do problema da altitude, que muitos jornalistas insistem em não valorizar, Cuca não
usou bem a cuca ao escalar o Gustavo Nery de, praticamente, um
terceiro zagueiro. Por causa do
rótulo de curinga, os técnicos adoram colocar o Gustavo Nery em
outras posições.
Devido a sua velocidade, aguerrimento e chute forte, Gustavo
Nery deveria atuar mais no campo do rival, de meia-esquerda no
esquema 4-4-2 ou de ala no com
três zagueiros. São duas funções
idênticas.
No Equador, os alas do São
Paulo marcavam na frente e os
três zagueiros se juntavam no
meio da área. Havia um grande
espaço nas laterais, que a LDU
aproveitou muito bem. Essa situação se repete com freqüência
com as equipes que jogam com
três zagueiros.
Os técnicos brasileiros gostam
de mudar o esquema tático e escalar três zagueiros quando os
seus times jogam fora contra boas
equipes. Raramente dá certo. Esse
esquema é bom para se jogar no
ataque, pressionando na saída de
bola. É uma tática de risco para
ser usada em momentos especiais.
Ficam sete no ataque e três zagueiros atrás, sendo um na sobra.
Apesar da derrota por 3 a 0 e da
falta de um grande jogador no
meio-campo, o São Paulo tem um
time competitivo, organizado,
com chances de ganhar a Libertadores, desde que o Cuca não escale o Gustavo Nery de zagueiro.
Dois Toques
Algumas situações me incomodam, como ser injusto (mesmo
sem ter a intenção) e fazer coisas
apenas por conveniência social e
profissional. Cobro esse comportamento dos outros e me esforço
para fazer o mesmo. Nem sempre
consigo.
Fui injusto, exagerei, ao dizer
que o Júnior e o Falcão, extraordinários atletas, não chegavam perto do Rivellino e do Gerson. Quis
salientar as virtudes do Gerson e
Rivellino, demonstrar indignação
com as ausências dos dois e mais
a do Nilton Santos na lista inicial
do Pelé, e não diminuir as qualidades do Júnior e do Falcão.
Gerson e Rivellino foram um
pouco superiores ao Júnior e ao
Falcão, mas respeito as opiniões
diferentes. Atuei ao lado do Rivellino e do Gerson e ficava fascinado com as suas qualidades técnicas. Talvez seja por isso a minha
maior admiração.
Gerson foi o mais organizador e
o armador com mais ampla visão
do conjunto que vi atuar. Era um
técnico em campo. Jogava como
se estivesse na arquibancada, observando detalhes técnicos e táticos. Na primeira vez em que atuei
ao lado do Gerson, ele me disse no
intervalo do jogo: "Se você jogar
com dois toques em vez de um [no
campo, eu gostava também da
concisão], vai dar tempo para eu
chegar ao ataque". Depois disso,
tudo ficou mais fácil.
Talento e paixão
Se um atacante for veloz, ele incomoda os zagueiros. Se for veloz
e habilidoso, será um bom atacante. Se for veloz, habilidoso e
bom finalizador, será excelente,
como o Vágner do Palmeiras. Se o
atacante tiver também um bom e
surpreendente passe, será excepcional. Se, além de tudo isso, for
inventivo, será um craque. Não
sei ainda se o Vágner tem ou terá
essas duas últimas qualidades.
Se o atacante com todo esse talento for persistente, ambicioso e
perfeccionista, será craque por toda a carreira. Mas todas essas virtudes não serão suficientes se ele
não tiver paixão pelo que faz.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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