São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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Direta ou indiretamente, lucrativas siderúrgicas brasileiras fortalecem os clubes vizinhos de suas fábricas

Aço constrói as zebras que balançam finais estaduais

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A VOLTA REDONDA

Não é só nos balanços financeiros que a indústria siderúrgica brasileira está em alta recorde.
O mais lucrativo setor industrial do país em 2004 brilha também nos campos de futebol, como fica evidente na reta final de alguns dos principais campeonatos estaduais da temporada -a maioria deles inicia suas decisões hoje.
As quatro maiores empresas do ramo ajudam, de forma direta ou indireta, a impulsionar times que são vizinhos de suas fábricas.
A Usiminas é o principal patrocinador do Ipatinga, que duela a partir de hoje no Mineiro com o Cruzeiro. Foi graças à CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) que o Volta Redonda, rival do Fluminense na decisão do Estadual do Rio de Janeiro, foi criado.
Líder disparado do Campeonato Capixaba, o Serra tem como trunfo a prosperidade criada na cidade pela CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão). Efeito parecido acontece como o 15 de Novembro de Campo Bom, que vai decidir o Gaúcho com o Internacional e fica no Vale dos Sinos, a região onde a Gerdau começou e até hoje mantém boa parte de seu parque fabril. A empresa também tem negócios em Juazeiro do Norte, sede do Icasa, que disputa a final do Cearense com o Fortaleza.
Todos esses municípios se beneficiam da prosperidade de um setor que faturou mais de R$ 50 bilhões no ano passado.
"A Usiminas é essencial para a gente", reconhece Itair Machado, presidente do Ipatinga, sobre a indústria que banca a maior parte das despesas do clube há sete anos -uma parceria com o Cruzeiro, o adversário de hoje, ajuda no fornecimento de jogadores.
O Volta Redonda possui como principal mecenas a prefeitura da cidade, que tem boa parte da sua arrecadação gerada pelos impostos pagos pela CSN.
Serra se transformou na segunda economia do Espírito Santo -e deve ser a primeira já no próximo ano, graças ao dinheiro movimentado pela CST e às centenas de empresas de serviço que giram em torno dela. E aí está a principal fonte de receita do time da cidade.
"A riqueza do município é ótima para a gente. Conseguimos arrumar vários patrocinadores [muitos deles prestam serviço para a CST], que aproveitam a visibilidade da nossa equipe", afirma Jorge Euclides, o presidente do clube do Espírito Santo.

Efeito privatização
Principais times siderúrgicos, Ipatinga e Volta Redonda exaltam o aço até em seus hinos, mas têm uma relação bem diferente com seus mecenas depois das privatizações dessas companhias.
Depois que a CSN deixou as mãos do governo federal, o Volta Redonda viu o financiamento direto da empresa para o clube acabar. O clube do Rio foi fundado pela siderúrgica, que nos tempos de estatal fazia um pequeno desconto no salário de 10 mil funcionários para bancar a equipe. Hoje, o clube sofre os efeitos de uma rixa entre o município e a empresa.
Já o Ipatinga nasceu apenas em 1998, quando a Usiminas já era uma companhia privada. Mas contou com a ajuda da siderúrgica da fundação até os dias de hoje.
"A Usiminas abraçou o nosso projeto desde o início. Sem ela, provavelmente não existiríamos", diz Machado. Segundo presidente do Ipatinga, o investimento da siderúrgica cobre 60% dos gastos da equipe. O valor do patrocínio é sigiloso, mas a reportagem apurou que no ano passado o repasse ficou em quase R$ 400 mil.
A empresa diz que colabora com o time para ajudar a cidade que o abriga e também como estratégia de marketing.
"O patrocínio é mais uma ação da Usiminas dentre as várias iniciativas que temos para incentivar o esporte e melhorar a qualidade de vida em Ipatinga. O retorno de imagem que hoje estamos percebendo com o Ipatinga tem sido bastante gratificante", disse à Folha, por meio de sua assessoria, Rinaldo Campos Soares, o presidente da indústria que lucrou mais de R$ 3 bilhões em 2004.
A amigável relação dos mineiros não acontece no Rio.
Desde a privatização da empresa, em 1993, os atuais administradores da CSN decidiram se desligar do "Voltaço". A empresa cortou até o repasse dos funcionários para o clube. A partir daí, o Volta Redonda entrou em crise. No início dos anos 90, o time chegou a ser rebaixado e quase acabou.
O clube só voltou a reaparecer no futebol fluminense com a ajuda do ex-prefeito Antônio Francisco Neto no final da década passada. Presidente de honra do clube, ele decidiu abrir os cofres públicos e já gastou quase R$ 20 milhões, incluindo a construção do mais moderno estádio do Rio.
Apesar de a CSN não investir no clube de forma direta, a prefeitura local, uma das principais parceiras do clube, tem na siderúrgica uma das maiores fontes de renda na arrecadação municipal. O aço paga R$ 14 milhões dos R$ 23 milhões que o município recebe somente com o IPTU. A direção da empresa não tem planos de gastar dinheiro com o clube, segundo sua assessoria de imprensa.

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