São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Tocha "some" em San Francisco

Em reduto chinês, fogo olímpico é escondido em armazém, anda de ônibus e faz roteiro alternativo

Clima de tensão, com confronto entre ativistas pró-Tibete e chineses locais, muda planos e faz artefato ser carregado por duplas

DA REPORTAGEM LOCAL

A tocha olímpica dos Jogos de Pequim foi escondida no reduto chinês mais famoso do mundo fora da China.
Em San Francisco (EUA), cidade com o maior bairro chinês do mundo e com um quinto da população com origem no país asiático, o fogo olímpico ficou por 45 minutos escondido em um armazém, foi transportado mais uma vez de ônibus e fez um rota alternativa -que incluiu só de longe a Golden Gate, cartão postal da cidade-, bem mais curto que o previsto e com pouca audiência.
Tudo isso, para fugir da fúria dos manifestantes pró-Tibete.
"Nós sentimos que não poderíamos dar segurança à tocha e proteger os manifestantes no nível que desejávamos", disse Gavin Newsom, o prefeito de San Francisco, sobre as mudanças de planos.
As medidas tiveram origem no pavor de novos incidentes, como os ocorridos na Turquia, na França e na Inglaterra.
Marcado para começar às 13h locais, o desfile da tocha foi antecedido por uma manhã tensa em San Francisco.
O clima era de confronto iminente, já que junto com os apoiadores da causa do Tibete estavam, em número muito maior, chineses e seus descendentes americanos empunhando bandeiras do país. Em algumas ruas, cada lado da calçada era território de um grupo.
Os gritos de "liberdade para o Tibete" eram retrucados.
Houve até agressões físicas quando um americano, segundo relato do jornal "San Francisco Chronicle" chamou os chineses de "comunistas". Pelo menos um manifestante pró-Tibete foi preso.
Com tal clima, quase nada do plano original para o desfile da tocha, que amanhã passa por Buenos Aires, foi cumprido.
Logo após o fogo ser aceso, foi cercado por policiais locais e seguranças chineses e conduzido a um galpão. E lá ficou por cerca de 45 minutos.
A situação tornou-se patética. As redes CNN, Fox e BBC transmitiam o evento ao vivo, de helicópteros, e ninguém sabia dizer o que estava acontecendo. Informava-se apenas que o desfile seria de 5 quilômetros, contra os 10 previstos originalmente.
O mistério enfim foi desfeito quando um comboio de carros de segurança e um ônibus com a tocha deixou o galpão até uma avenida quase dois quilômetros distante do roteiro original.
Lá o desfile começou quase clandestino, com mais policiais do que espectadores. Constrangedora também ficou a situação dos escolhidos para carregar o artefato -80 estavam listados para a tarefa.
Como havia pouco percurso para muita gente, a tocha acabou sendo levada por duas pessoas ao mesmo tempo. E a cada quarteirão as duplas mudavam.
Só no trecho final do trajeto a tocha foi vista por um número maior de pessoas, mas um cordão imenso de policiais impediu qualquer aproximação.
Até este momento, os organizadores não divulgavam onde seria realizada a cerimônia de encerramento da desastrosa passagem do fogo olímpico por San Francisco -a linha de chegada original estava tomada por manifestantes contra e a favor da China.
A solução também foi quase "clandestina": a caravana seguiu para o aeroporto da cidade, onde fez a "cerimônia" e embarcou no avião que conduz a tocha pela turnê por 20 países. O governo chinês e o Comitê Olímpico Internacional reiteraram ontem que os protestos não irão alterar o roteiro.


Com agências internacionais


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