São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Patrocínio social vira arma contra repercussão

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O fiasco na volta ao mundo da tocha olímpica está forçando vários patrocinadores da Olimpíada de Pequim a tentar equilibrar a má propaganda que rodeia o evento.
Patrocinadores viraram alvo dos ativistas pró-direitos humanos, como o movimento pela independência do Tibete e contra o apoio chinês ao governo do Sudão, culpado pelo genocídio em Darfur.
Gigantes como Coca-Cola, GE e Lenovo pagaram cerca de US$ 40 milhões para patrocinar a viagem da tocha, enquanto McDonald's, Microsoft, Visa, Adidas, Kodak e também a Coca-Cola, entre outros, desembolsaram estimados US$ 200 milhões como "patrocinadores oficiais" dos Jogos em agosto.
Diante das críticas, a Coca-Cola anunciou que investirá US$ 5 milhões para ajudar a reconstruir áreas destruídas no Sudão, além de US$ 750 mil à Cruz Vermelha para refugiados de Darfur. A GE doou US$ 4 milhões a instituições como Unicef e Care, segundo comunicado divulgado pela empresa.
Durante o percurso da tocha, a campanha da Coca-Cola enfatiza sua preocupação pelo meio ambiente, assim como a General Electric, que fala de energia solar e despoluição de águas em seus anúncios. Publicitários de importantes agências internacionais instaladas em Pequim falaram à Folha, pedindo anonimato, que há um esforço para enfatizar responsabilidade social para "equilibrar" o tema dos direitos humanos.
Mas eles acham, ainda assim, que os patrocinadores se encontram em uma encruzilhada. Apesar da imagem negativa da China quanto aos direitos humanos ter aumentado em países ocidentais nas últimas semanas, essas empresas olham o mercado chinês como prioritário, então também não querem dar nenhum sinal de arrependimento, que faça o público chinês vê-los como traidores.
O McDonald's, por exemplo, que está longe de ser um sucesso no mercado chinês, passou a abrir 24 horas suas lanchonetes de Pequim pegando carona na propaganda olímpica.
No mês passado, a Adidas decidiu mandar recolher uma linha de produtos onde o seu logo aparecia dentro da estrela maior da bandeira chinesa. Os novos produtos tinham sido apenas lançados em Hong Kong, mas a polêmica chegou à Internet rapidamente.
Numa enquete do Sina.com, maior portal chinês, mais de 80% dos internautas disseram que se negavam a comprar os produtos "pela comercialização de um símbolo pátrio".
A Coca-Cola desenvolve programa de preservação do rio Yangtsé, ameaçado pela contaminação, e a Johnson & Johnson anuncia conselhos de saúde e higiene no país.
A atriz Mia Farrow, ativista pelos refugiados de Darfur, região castigada pela repressão do governo do Sudão, aliado próximo da China, ataca os patrocinadores olímpicos.
Depois de se encontrar com executivos da Coca-Cola, que se negaram a fazer comentários políticos sobre a China, Mia Farrow escreveu "Covardes da Coca, a maior marca do planeta, deixam claro que vender água doce é mais importante que salvar vidas. Amigos, bebam Pepsi".


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