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Presidente diz que pretende vetar convites a amadores e extinguir o chamado espírito olímpico
De volta ao berço, COI quer Jogos 100% profissionais
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na Grécia, em 1896, o francês
Pierre de Freddy arregimentou 13
países, criou uma filosofia para
guiar a prática esportiva e promoveu a primeira Olimpíada da Era
Moderna. Lá, o importante não
era vencer, era participar.
Na Grécia, em 2004, o belga Jacques Rogge pretende acabar com
o último resquício do chamado
espírito olímpico e realizar os primeiros Jogos 100% profissionais
da história. Agora, só quem quer e
pode vencer vai participar.
Presidente do Comitê Olímpico
Internacional desde 2001, Rogge
declarou que quer pôr fim no próximo ano aos "wild cards", instrumento utilizado para levar à
Olimpíada atletas e países que não
alcançam os índices técnicos exigidos pela entidade.
O funcionamento é simples: para agregar nações e dar ao evento
um viés mais humano e menos
mercadológico, o COI costumava
distribuir convites para comitês
de países com pouca tradição e estrutura esportiva deficitária.
"Queremos evitar situações como as que ocorreram em
Sydney", afirmou Rogge ao diário
britânico "The Guardian". O presidente referia-se ao desempenho
de Eric Moussambani, nadador
da Guiné Equatorial que recebeu
convocação para disputar a última Olimpíada. Na Austrália,
completou os 100 m livre em vagarosos 1min52s72 -o recorde
mundial da distância é de 47s84.
Apesar de ter acabado em último lugar, o atleta foi ovacionado
pela platéia ao fim de sua exibição
e virou uma das mais badaladas
figuras de todo o torneio.
"O público adora esse tipo de
performance, mas eu não. Os Jogos Olímpicos são qualidade pura. Lá devem estar os melhores
atletas do mundo e os outros que
almejam ser os melhores", afirmou Rogge, médico e ex-iatista
que disputou os Jogos da Cidade
do México-1968, de Munique-1972 e de Montréal-1976.
Amador x profissional
Os "wild cards" ganharam grande importância após a Olimpíada
de Barcelona, em 1992. Naquela
oportunidade, o COI permitiu pela primeira vez a entrada de competidores que disputavam as
grandes e lucrativas ligas profissionais do planeta.
Chegaram aos Jogos, por exemplo, o "dream team" do basquete
norte-americano, formado pelas
principais estrelas da NBA, e jogadores do milionário circuito profissional de tênis.
Até então, apesar de muitos esportistas já conseguirem bons salários, ainda perduravam algumas regras do amadorismo, vinculadas à filosofia de Freddy,
idealizador dos Jogos, que ficou
mais conhecido pelo título nobiliárquico de Barão de Coubertin.
Juan Antonio Samaranch, que
presidiu o COI durante 21 anos e
cedeu seu posto a Rogge, acreditava que os "wild cards" eram a
derradeira cartada de marketing
da entidade para perpetuar o discurso do espírito olímpico.
"Conseguimos congregar mais
países que a Organização das Nações Unidas em nossos eventos",
gostava de proclamar o espanhol.
Mas o pensamento não foi acolhido na nova gestão. "No passado, cometemos o erro de distribuir tantos convites. Um país podia dizer: "Não possuímos atletas
classificados e queremos solicitar
um wild card". Na maioria das vezes, porém, os competidores não
eram bons o suficiente para disputar uma Olimpíada", afirmou o
atual presidente do COI.
A nova política, apesar de impactante se confirmada, não deve
produzir efeitos práticos para os
competidores do Brasil. Desde
Atlanta, em 1996, o Comitê Olímpico Brasileiro barrou a participação de atletas via convites.
Para disputar as duas últimas
Olimpíadas, os brasileiros precisaram atingir os índices técnicos
previamente estabelecidos. O
COB confirmou que a política será mantida na convocação de atletas para Atenas-2004.
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