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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

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Presidente diz que pretende vetar convites a amadores e extinguir o chamado espírito olímpico

De volta ao berço, COI quer Jogos 100% profissionais

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na Grécia, em 1896, o francês Pierre de Freddy arregimentou 13 países, criou uma filosofia para guiar a prática esportiva e promoveu a primeira Olimpíada da Era Moderna. Lá, o importante não era vencer, era participar.
Na Grécia, em 2004, o belga Jacques Rogge pretende acabar com o último resquício do chamado espírito olímpico e realizar os primeiros Jogos 100% profissionais da história. Agora, só quem quer e pode vencer vai participar.
Presidente do Comitê Olímpico Internacional desde 2001, Rogge declarou que quer pôr fim no próximo ano aos "wild cards", instrumento utilizado para levar à Olimpíada atletas e países que não alcançam os índices técnicos exigidos pela entidade.
O funcionamento é simples: para agregar nações e dar ao evento um viés mais humano e menos mercadológico, o COI costumava distribuir convites para comitês de países com pouca tradição e estrutura esportiva deficitária.
"Queremos evitar situações como as que ocorreram em Sydney", afirmou Rogge ao diário britânico "The Guardian". O presidente referia-se ao desempenho de Eric Moussambani, nadador da Guiné Equatorial que recebeu convocação para disputar a última Olimpíada. Na Austrália, completou os 100 m livre em vagarosos 1min52s72 -o recorde mundial da distância é de 47s84.
Apesar de ter acabado em último lugar, o atleta foi ovacionado pela platéia ao fim de sua exibição e virou uma das mais badaladas figuras de todo o torneio.
"O público adora esse tipo de performance, mas eu não. Os Jogos Olímpicos são qualidade pura. Lá devem estar os melhores atletas do mundo e os outros que almejam ser os melhores", afirmou Rogge, médico e ex-iatista que disputou os Jogos da Cidade do México-1968, de Munique-1972 e de Montréal-1976.

Amador x profissional
Os "wild cards" ganharam grande importância após a Olimpíada de Barcelona, em 1992. Naquela oportunidade, o COI permitiu pela primeira vez a entrada de competidores que disputavam as grandes e lucrativas ligas profissionais do planeta.
Chegaram aos Jogos, por exemplo, o "dream team" do basquete norte-americano, formado pelas principais estrelas da NBA, e jogadores do milionário circuito profissional de tênis.
Até então, apesar de muitos esportistas já conseguirem bons salários, ainda perduravam algumas regras do amadorismo, vinculadas à filosofia de Freddy, idealizador dos Jogos, que ficou mais conhecido pelo título nobiliárquico de Barão de Coubertin.
Juan Antonio Samaranch, que presidiu o COI durante 21 anos e cedeu seu posto a Rogge, acreditava que os "wild cards" eram a derradeira cartada de marketing da entidade para perpetuar o discurso do espírito olímpico.
"Conseguimos congregar mais países que a Organização das Nações Unidas em nossos eventos", gostava de proclamar o espanhol.
Mas o pensamento não foi acolhido na nova gestão. "No passado, cometemos o erro de distribuir tantos convites. Um país podia dizer: "Não possuímos atletas classificados e queremos solicitar um wild card". Na maioria das vezes, porém, os competidores não eram bons o suficiente para disputar uma Olimpíada", afirmou o atual presidente do COI.
A nova política, apesar de impactante se confirmada, não deve produzir efeitos práticos para os competidores do Brasil. Desde Atlanta, em 1996, o Comitê Olímpico Brasileiro barrou a participação de atletas via convites.
Para disputar as duas últimas Olimpíadas, os brasileiros precisaram atingir os índices técnicos previamente estabelecidos. O COB confirmou que a política será mantida na convocação de atletas para Atenas-2004.


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