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Scolari prega paz a técnicos de Israel e da Palestina
Em Jerusalém, treinador dá palestra sobre o uso do futebol para fins pacíficos, a convite do Instituto Shimon Peres
Pentacampeão vai usar rua paulistana como exemplo de convívio entre judeus e árabes e pedirá a colegas que evitem falar em guerra
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
Israelenses e palestinos conhecerão a partir de amanhã
um Luiz Felipe Scolari diferente daquele que ficou famoso
por travar batalhas à beira do
gramado ao dirigir seus times.
Convidado pelo Instituto
Shimon Peres, ele dará uma palestra para treinadores de Israel e da Palestina, em Jerusalém, sobre o tema "Futebol como Instrumento de Paz".
Scolari já preparou a sua
apresentação e riscou dela o
linguajar bélico que tanto usou
para motivar seus atletas. Em
português, com um tradutor,
recheará seu discurso de palavras como carinho e amizade.
Sem conhecer a fundo o conflito na região, pregará a união.
E vai usar como exemplo cenas
que viu na principal rua de comércio popular de São Paulo.
"Vou contar a eles que vi judeus
e árabes vivendo em harmonia
na rua 25 de Março. Vejo que isso é possível", conta o treinador
da seleção de Portugal.
Também dirá para os treinadores evitarem palavras como
batalha em suas palestras ao se
referir às partidas. "Não queremos que os jogos sejam batalhas. Em vez de guerra, podemos dizer que o jogo vai ser encardido. Hoje faço isso", diz.
A frase soa estranha vinda do
treinador que esbravejava no
confronto entre Portugal x Holanda pelas quartas-de-final da
Copa da Alemanha e que já tem
lugar assegurado na história
dos Mundiais. Não pela beleza
da partida, mas pela tensão e
pelas jogadas violentas.
"Se perguntarem, vou falar
do lado bonito daquele jogo.
Não que só teve confusão."
Scolari conta ter passado ao
longo dos anos por uma transformação. E que não fala mais
em batalha aos atletas. Lembra
de uma gafe cometida quando
atuava no Kuait.
"Lá, me referi a uma situação
[sobre um jogo], e não me deixaram fazer analogia com guerra porque eles passaram por
guerra de verdade."
O episódio aconteceu entre
1989 e 1990. Na ocasião, Scolari
decidiu que evitaria "guerra" e
expressões similares ao falar de
futebol. Diz que demorou anos
para conseguir isso.
No meio do caminho, envolveu-se nas partidas quase como
se estivesse no campo de batalha, brigou com colega de profissão [Vanderlei Luxemburgo], com jornalista. E, na maior
conquista de sua carreira, a Copa de 2002, inspirou-se num livro com título belicoso.
Leu a "Arte da Guerra", do filósofo Sun Tsu. Retirou da obra
frases para motivar os jogadores da seleção brasileira. "Hoje
estou mais experiente, não preciso usar algumas alternativas
que usava antes. Mas não me
arrependo, eram situações para
motivar os jogadores."
Admite, porém, alguns exageros: "Às vezes a gente extrapola, faz algo errado, deixa se
levar por um ambiente hostil".
Não é sobre esses momentos
que ele quer falar em Israel.
"Vou dizer que [também no futebol] amizade e carinho podem nos levar aos objetivos."
Se levarem em conta só o
Scolari da palestra, israelenses
e palestinos compreenderão o
rótulo de "Família Scolari" dado aos times do técnico. E não
entenderão por que ele ganhou
apelido de "Sargentão". "Não
tenho mais saco para discutir
isso", emenda ele, ao ser questionado sobre a alcunha.
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