São Paulo, Segunda-feira, 10 de Julho de 2000
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FUTEBOL
Montanha-russa

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Até sair o primeiro gol, o jogo de ontem no Mineirão parecia uma partida de xadrez. Depois do gol de Marcelinho, virou uma montanha-russa.
Em uma disputa truncada e tensa, a vitória teria mesmo de ser decidida ou em uma jogada de talento ou em uma falha técnica.
O gol de Marcelinho foi um pouco das duas coisas, principalmente da segunda. Em outras palavras, o bom André frangou.
Mas quis o acaso que, no mesmo momento em que o São Paulo marcava seu gol, entrasse em campo um craque que desequilibra: Muller. Foi dele a jogada de talento que resultou no empate cruzeirense.
No outro gol azul, brilhou o talento do garoto Geovanni, não tanto pela cobrança de falta (que contou com a falha da barreira tricolor), mas pelo modo como passou liso por Rogério Pinheiro, obrigando o são-paulino à falta e à expulsão. Marco Aurélio ousou ao tirar Jackson para a entrada de Muller, pois o número 10 vinha sendo a principal peça tática do time cruzeirense. Quando o São Paulo tinha a bola, ele marcava a subida do ala Fábio Aurélio. Quando o Cruzeiro retomava a posse, Jackson atacava pelo meio, tabelando e chutando a gol.
Mas Muller já entrou infernizando a vida de seu ex- clube. Em duas arrancadas, numa delas quase fez o gol, na outra cruzou perigosamente na pequena área. Pouco depois, deu o passe preciso para o gol de Fábio Júnior. O que mais surpreendeu foi o nervosismo de dois dos principais jogadores do São Paulo, Rogério e França. O primeiro, em uma saída precipitada, deu um soco na cabeça de Edmílson e ainda discutiu aos brados com o companheiro, e depois quase tomou um frango em um chute de Donizete do meio da rua.
França, por sua vez, talvez pela marcação implacável, talvez por estar com a cabeça na Itália, simplesmente não acertou uma. Furou, errou passes e armou o contra-ataque do Cruzeiro ao tentar levar a bola sozinho. Até demorou para ser substituído.
Para quem não torce para nenhum dos dois times, foi uma festa maravilhosa ver o Mineirão tingido de azul, com 85 mil torcedores vibrando e cantando. A torcida pediu "raça" e o time correspondeu. E mais uma vez a Globo mostrou seu pé frio. Armou um carnaval na casa da família de Edmilson e depois teve de mostrar todo mundo chorando, num clima de velório.
Leitores de todo o país continuam escrevendo à coluna para manifestar sua indignação contra o crime de lesa-esporte cometido pelo Clube dos 13 com sua Copa João Havelange.
Como observou um desses lúcidos e revoltados torcedores, não poderia ser mais adequado o nome do torneio, já que homenageia o homem que levou as práticas clientelistas da CBF para a Fifa. Afinal, foi sob a gestão Havelange que a Copa do Mundo inchou por razões politiqueiras, assim como havia inchado o campeonato brasileiro. Quem não se lembra do slogan-piada "Onde a Arena vai mal, mais um clube no Nacional"?
Já o leitor goiano Wilson, de 22 anos -torcedor do Vila Nova- GO, mas "envergonhado com a maracutaia que estão fazendo contra o Gama"-, sugere que o novo campeonato biônico seja chamado de Copa Don Corleone.
Por coincidência, o chefão da gangue dos 13 é chamado de Don Eurico Corleone Miranda por outro leitor, o catarinense A.C.N. Omito seu nome para não o expor a represálias da Cosa Nostra. Pensando bem, Copa Nostra também é um bom nome. Já que falamos em coincidências, uma das mensagens mais simpáticas que recebi foi a de Gilberto Gil (o jornalista, não o compositor), anexando um artigo que ele havia publicado em seu site na Internet, o Futiba. No texto, datado de 2 de maio, Gil usava a expressão "capitanias hereditárias" -a mesma que adotei em minha coluna de sábado- para se referir às federações estaduais de futebol.
Embora o enfoque do artigo (que eu não tinha lido) seja ligeiramente diferente do meu, fica aqui o reconhecimento da primazia de Gil sobre a idéia e o aproveitamento da expressão.
E-mail: jgcouto@uol.com.br

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