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FUTEBOL
Montanha-russa
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Até sair o primeiro gol, o jogo de ontem no Mineirão
parecia uma partida de xadrez.
Depois do gol de Marcelinho, virou uma montanha-russa.
Em uma disputa truncada e
tensa, a vitória teria mesmo de ser
decidida ou em uma jogada de
talento ou em uma falha técnica.
O gol de Marcelinho foi um
pouco das duas coisas, principalmente da segunda. Em outras palavras, o bom André frangou.
Mas quis o acaso que, no mesmo momento em que o São Paulo
marcava seu gol, entrasse em
campo um craque que desequilibra: Muller. Foi dele a jogada de
talento que resultou no empate
cruzeirense.
No outro gol azul, brilhou o talento do garoto Geovanni, não
tanto pela cobrança de falta (que
contou com a falha da barreira
tricolor), mas pelo modo como
passou liso por Rogério Pinheiro,
obrigando o são-paulino à falta e
à expulsão. Marco Aurélio ousou
ao tirar Jackson para a entrada
de Muller, pois o número 10 vinha
sendo a principal peça tática do
time cruzeirense. Quando o São
Paulo tinha a bola, ele marcava a
subida do ala Fábio Aurélio.
Quando o Cruzeiro retomava a
posse, Jackson atacava pelo meio,
tabelando e chutando a gol.
Mas Muller já entrou infernizando a vida de seu ex- clube. Em
duas arrancadas, numa delas
quase fez o gol, na outra cruzou
perigosamente na pequena área.
Pouco depois, deu o passe preciso
para o gol de Fábio Júnior. O que
mais surpreendeu foi o nervosismo de dois dos principais jogadores do São Paulo, Rogério e França. O primeiro, em uma saída
precipitada, deu um soco na cabeça de Edmílson e ainda discutiu aos brados com o companheiro, e depois quase tomou um
frango em um chute de Donizete
do meio da rua.
França, por sua vez, talvez pela
marcação implacável, talvez por
estar com a cabeça na Itália, simplesmente não acertou uma. Furou, errou passes e armou o contra-ataque do Cruzeiro ao tentar
levar a bola sozinho. Até demorou para ser substituído.
Para quem não torce para nenhum dos dois times, foi uma festa maravilhosa ver o Mineirão
tingido de azul, com 85 mil torcedores vibrando e cantando. A torcida pediu "raça" e o time correspondeu. E mais uma vez a Globo
mostrou seu pé frio. Armou um
carnaval na casa da família de
Edmilson e depois teve de mostrar
todo mundo chorando, num clima de velório.
Leitores de todo o país continuam escrevendo à coluna para
manifestar sua indignação contra o crime de lesa-esporte cometido pelo Clube dos 13 com sua
Copa João Havelange.
Como observou um desses lúcidos e revoltados torcedores, não
poderia ser mais adequado o nome do torneio, já que homenageia o homem que levou as práticas clientelistas da CBF para a Fifa. Afinal, foi sob a gestão Havelange que a Copa do Mundo inchou por razões politiqueiras, assim como havia inchado o campeonato brasileiro. Quem não se
lembra do slogan-piada "Onde a
Arena vai mal, mais um clube no
Nacional"?
Já o leitor goiano Wilson, de 22
anos -torcedor do Vila Nova-
GO, mas "envergonhado com a
maracutaia que estão fazendo
contra o Gama"-, sugere que o
novo campeonato biônico seja
chamado de Copa Don Corleone.
Por coincidência, o chefão da
gangue dos 13 é chamado de Don
Eurico Corleone Miranda por outro leitor, o catarinense A.C.N.
Omito seu nome para não o expor
a represálias da Cosa Nostra.
Pensando bem, Copa Nostra também é um bom nome. Já que falamos em coincidências, uma das
mensagens mais simpáticas que
recebi foi a de Gilberto Gil (o jornalista, não o compositor), anexando um artigo que ele havia
publicado em seu site na Internet,
o Futiba. No texto, datado de 2 de
maio, Gil usava a expressão "capitanias hereditárias" -a mesma que adotei em minha coluna
de sábado- para se referir às federações estaduais de futebol.
Embora o enfoque do artigo
(que eu não tinha lido) seja ligeiramente diferente do meu, fica
aqui o reconhecimento da primazia de Gil sobre a idéia e o aproveitamento da expressão.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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