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FUTEBOL
Alex, Alex e Paulo
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
"E stou mandando este fax
para pedir uma ajuda. Eu,
Alex, 20 anos e meia-esquerda, o
meu xará, Alex, 21 anos e volante,
e o Paulo, meia-direita, estamos
pedindo uma ajuda para realizarmos o nosso sonho, que é sermos jogadores de futebol. Já fizemos testes no Palmeiras, na Lusa
e no Juventus. Por ironia do destino, não conseguimos um clube.
Esperamos ajuda -seja da senhora, seja de quem mais puder
nos ajudar-, toda ajuda será
bem-vinda com a graça de Deus.
A gente é de família humilde,
tudo para nós é mais difícil. Às vezes, por sermos humildes, as pessoas não nos dão atenção nem
mesmo uma chance. Então, Soninha, nós estamos pedindo uma
ajuda. Se a senhora puder nos
ajudar, nos arrumando um time,
ou até mesmo uma peneira, a senhora sabe que, no futebol ou em
qualquer outro esporte, é difícil
para os humildes. Nós pedimos
essa ajuda para você, que é do
meio futebolístico. Ajude a gente
a realizar um sonho e a dar uma
vida digna às nossas famílias.
Se pudesse ajudar-nos, nós nem
saberíamos como agradecer-lhe."
O quanto eles são humildes não
sei. Se tentaram escrever de forma
comovente ou se foram sinceros,
se deram risada com a própria
ousadia ou se precisaram tomar
coragem até mandar o fax, isso eu
nem imagino. Se são bons de bola? Não duvido. Que fique claro
que também não duvido da humildade ou da coragem, só confesso que não sei nada sobre eles.
Mas costumo acreditar nas pessoas. Sou do tipo tido como "otário", que deixa a bolsa aberta sobre a mesa achando que ninguém
vai mexer. Estou errada, eu sei.
Mas só desconfio de quem dá motivos concretos para isso, como é o
caso de parte bem conhecida de
nossos dirigentes. Nos meninos,
até prova em contrário, acredito.
E sofro com sua esperança. "A
leve esperança,/ A aérea esperança/ Aérea, pois não!/ Peso mais
pesado/ Não existe não./ Ah! Livrai-me dele,/ Senhor Capitão."
("Rondó do Capitão", Manuel
Bandeira). Esperança pesa e dói;
quantas vezes vale mesmo a pena
que seja ela a última a morrer?
Milhares de meninos querem
ser jogadores de futebol. Ganhando muito ou pouco, mas ganhando algo. Sonham com glória diante da torcida, casa para a mãe e
carro novo. Às vezes, não conseguem nem fazer uma peneira.
Se alguém puder ajudar, tenho
o telefone deles.
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Tenho ainda o contato de uma
moça absolutamente sem renda
que tem outro sonho: um curso de
operadora auxiliar de aparelho
de raios X. Eu nem sabia que se
podia sonhar com isso.
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Já que o assunto degringolou de
vez: um conhecido meu foi ao
Hospital das Clínicas em maio de
2002. O médico pediu-lhe que se
submetesse a um exame de ressonância magnética, que ele conseguiu marcar em outubro para fazer em janeiro e levar para o médico em março. Alguém aí falou
em Estatuto-do-Torcedor-Usuário-da-Saúde-Pública? Socorro.
Selva
Semanas atrás, o empresário
Wagner Ribeiro foi agredido
no Canindé. De acordo com os
agressores, ele teria aliciado garotos da Lusa. Digamos que tivesse -agressão também é crime... Mas conheço muita gente
que deu risada, divertindo-se
com a idéia de que "um empresário tomou um pau". Um torcedor do Palmeiras foi além:
comemorou o fato, achando
que outras torcidas deveriam
fazer a mesma coisa para "salvar o futebol desses elementos
inescrupulosos, oportunistas e
mafiosos". É muita degeneração: neste país em que somos
tão corruptos, alguns se concedem o direito de julgar, condenar e espancar um empresário
para "salvar o futebol". Assim
vai longe o dia em que seremos
salvos.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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